Interruptor para a dor
Todos já nos acostumamos com a ideia de analgésicos e anestesias, mas seria muito melhor se houvesse uma forma de simplesmente desligar a dor.
A ideia de um interruptor da dor é um conceito muito atraente, mas será que é algo realista?
Muito provavelmente, porque químicos acabam de demonstrar em experiências de laboratório e em animais que é possível inibir a atividade de neurônios sensíveis à dor, utilizando um agente que atua como um interruptor fotossensível.
Ou seja, eles construíram um inibidor neural da dor controlado pela luz.
A notícia coincide com um anúncio feito há poucos dias por uma outra equipe de cientistas, da descoberta de uma espécie de "chave geral para o sistema imunológico".
Molécula chave
O novo composto fotoquímico contra a dor, batizado de QAQ, foi desenvolvido por Dirk Trauner e seus colegas da Universidade Ludwig-Maximilians (Alemanha), em colaboração com colegas em Berkeley (EUA) e Bordeaux (França).
Segundo eles, sua técnica é uma ferramenta valiosa para estudos sobre a neurobiologia da dor. Mas pode ser muito mais no futuro.
A molécula é composta de duas partes funcionais, cada uma contendo um amônio quaternário, ligados entre eles por uma ligação dupla de hidrogênio (N = N).
É esta ponte que forma a "chave", já que sua conformação física pode ser alterada pela luz.
Iluminá-la com luz de um comprimento de onda específico faz com que a molécula se altere, passando de uma forma inclinada para uma forma estendida; a exposição à luz de uma cor diferente reverte o efeito.
Lidocaína
Uma metade da QAQ se assemelha a um dos análogos ativos da lidocaína, um anestésico local muito usada por dentistas.
A lidocaína bloqueia a percepção da dor inibindo a ação de neurorreceptores encontrados em células nervosas específicas na pele, que respondem a estímulos dolorosos e transmitem sinais para a medula espinhal.
Neurorreceptores são proteínas que atravessam a membrana exterior das células nervosas. Elas possuem poros deformáveis que se abrem em resposta a estímulos adequados, e funcionam como canos que permitem que íons eletricamente carregados passem para dentro ou para fora das células.
O canal de íons alvejado pela porção da QAQ semelhante à lidocaína responde ao aquecimento induzido pela luz, permitindo que os íons de sódio carregados positivamente passem para o interior das células.
Isto altera o potencial elétrico através da membrana, o que, em última análise, conduz a transmissão de impulsos nervosos.
Em seus experimentos, os pesquisadores se aproveitaram do fato de que QAQ pode infiltrar-se através de canais iônicos endógenos para introduzir a molécula nas células nervosas.
Este é um passo crucial, porque seu ponto de ação está localizado na face interior do canal de íons alvejado.
Além disso, a "porção lidocaína" da QAQ se liga a este local apenas se a molécula estiver em sua conformação estendida.
Quando as células foram irradiadas com luz com comprimento de onda de 380 nanômetros, que faz a ponte se curvar, a transmissão do sinal foi reativada em uma questão de milissegundos, religando a transmissão dos sinais de dor.
A exposição à luz com um comprimento de onda de 500 nanômetros, por outro lado, reverte a molécula para a forma estendida e restaura a sua ação inibitória da dor, ou seja, a molécula funciona realmente como um interruptor de dor reversível.
O efeito analgésico do interruptor de dor foi confirmado utilizando animais de laboratório.
Fonte Diário da Saúde
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