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quarta-feira, 14 de março de 2012

Na Bahia plano privado é raro e mais caro

O motivo dessa fatia menor é o preço do convênio médico, que em Salvador, chega a ser 60% superior na modalidade individual e 30% nos planos empresariais quando comparado ao resto do Nordeste e Norte

A Bahia é um mercado sui generis quando se trata de saúde privada. Apenas 10% da população local tem plano de saúde, bem abaixo da média nacional, de 25%. O principal motivo dessa fatia menor é o preço do convênio médico, que em Salvador, a capital baiana, chega a ser 60% superior na modalidade individual e 30% nos planos empresariais quando comparado ao resto do Nordeste e Norte. As informações são do Jornal Valor Econômico.

De acordo com a publicação, apesar de a Bahia ser o Estado mais rico do Nordeste, o preço elevado nos planos de saúde ocorre por, basicamente, dois fatores: a “judicialização”, com um grande volume de processos de usuários de planos de saúde contra suas operadoras; e carência de hospitais, clínicas e laboratórios. A combinação é que eleva o custo dos serviços médicos.

Segundo o presidente da Promédica, operadora da Bahia, Jorge Oliveira, em Salvador, a operadora paga pelo menos R$ 45 por cada consulta médica. Já em São Paulo, há consultas na casa dos R$ 20.

Os procedimentos cirúrgicos realizados na Bahia são em média cinco vezes mais caros se comparados aos outros Estados do Nordeste. Para o diretor da Unimed Salvador, Marcus Vinicius Lopes, em muitos procedimentos cirúrgicos fica mais barato levar o paciente para fazer em São Paulo do que realizar em Salvador.

Oliveira diz ainda que muitas vezes o procedimento é coberto pelo plano, mas o usuário entra com liminar. Isso acontece muito com cirurgia bariátrica porque a pessoa não quer se submeter aos exames preliminares que verificam se realmente ele tem condições de realizar a cirurgia.

As características do mercado baiano pressionam as margens das operadoras e seguradoras. A “judicialização” da cobertura de saúde no Estado é ímpar. No ano passado, foram concedidas na Bahia 6.320 liminares em favor dos usuários de planos que pleitearam judicialmente cobertura de atendimento médico ou fornecimento de materiais ou medicamentos não cobertos pelo convênio.

Para efeito de comparação: a Unimed Salvador que atende 37 mil usuários foi processada com 152 liminares no ano passado. Nesse mesmo período, a Unimed Sergipe, dona de uma carteira com 80 mil beneficiários, ou seja praticamente o dobro da operadora baiana, teve apenas 12 liminares.

A demanda por liminares é tão grande que o Tribunal de Justiça da Bahia montou uma equipe com três médicos que fazem plantão 24 horas, sete dias por semana, para ajudar os juízes em suas decisões.

A coordenadora da equipe médica do TJ da Bahia, Jamile Feraz, explica que nessas ações há termos médicos muito técnicos e normalmente com urgência. É uma situação delicada porque pode haver risco de vida. Antes, os juízes tinham que pedir ajuda para médicos amigos para esclarecer as dúvidas, o que poderia levar mais tempo.

O ex-presidente da Medial e atual consultor da Swett & Crawford Brasil, Valter Hime, informa que há cerca de cinco anos uma liminar obrigou a Medial a pagar um spa para um paciente que foi diagnosticado com estresse. Na ação constava que era uma clínica de repouso, mas na verdade era um spa e o juiz provavelmente não teve tempo de analisar exatamente o que era.

Para o advogado especializado em saúde suplementar, Dagoberto Lima, é difícil conseguir derrubar uma liminar na área da saúde. Cabe recurso no Juizado Especial, mas raramente dá certo

A maioria das ações judiciais parte dos usuários de plano individual com carências a serem cumpridas. O diretor da Unimed-Salvador ressalta que um caso comum é a mulher fazer um plano de saúde já grávida, sem informar a operadora. Mesmo sem cumprir o prazo mínimo para procedimento de parto previsto no contrato, o paciente acaba conseguindo uma liminar da justiça baiana..

Diante desse cenário, poucas operadoras oferecem planos individuais. Na Bahia, há 1,4 milhão de pessoas com assistência saúde, sendo que 1,1 milhão são planos concedidos por companhias para seus funcionários como benefício.

A exceção fica por conta da Hapvida, operadora cearense que durante uma década atuou timidamente, sem ações comerciais, na Bahia, e no ano passado fez fortes investimentos para crescer no mercado local. A operadora investiu R$ 100 milhões em aquisições e construção de uma rede própria de hospitais, clínicas e laboratórios.

O presidente da Hapvida, Jorge Pinheiro diz que há uma enorme carência de leitos na Bahia e só entramos no Estado após investir em uma rede própria. Hoje, 95% das nossas internações e 75% das consultas e exames são realizadas na nossa rede verticalizada que tem capacidade para atender 300 mil vidas.

Há um ano, essa empresa tinha apenas 15 mil clientes na Bahia e hoje já são 80 mil beneficiários. “A ‘judicialização’ continua sendo um grande problema. Estamos em um trabalho forte junto com os médicos para que eles ajudem a esclarecer para os usuários os seus direitos”, diz o presidente da Hapvida, que tem no total 1,2 milhão de beneficiários.

O fato de a operadora cearense ter uma rede própria, não se sujeitando aos custos dos hospitais locais, ajuda a controlar a taxa de sinistralidade – ou seja, o tamanho do gasto com internações e outras despesas médicas. Na Hapvida, essa taxa fica na casa dos 73%. Na Unimed Salvador, que não tem rede própria, essa taxa é de 85%.

Em outros Estados, a “judicialização” também está presente. Estudo da Unimed BH, feito entre 2005 e 2007, mostra que na maioria das decisões judiciais o consumidor obtém vitória, contra as operadoras de planos de saúde. No Rio, 92% das sentenças são favoráveis aos usuários. Em Minas Gerais e São Paulo, esse percentual é de 85% e no Rio Grande do Sul, 79%.

Fonte SaudeWeb

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