Cirurgia transplantou, de uma só vez, cinco órgãos e mobilizou 15 médicos - apenas 300 cirurgias como essa já foram realizadas no mundo. Cerca de 15 pacientes devem ser operados até o final do ano
O Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) acaba de anunciar a realização do primeiro transplante multiviseral no Brasil, envolvendo cinco órgãos e mobilizando 15 médicos. De acordo com a instituição, apenas 300 cirurgias como essa já foram realizadas no mundo.
O procedimento, ocorrido na madrugada do último dia 4 de abril, consiste na retirada de órgãos da região abdominal, em bloco, de um mesmo doador para a colocação em um receptor. Existem três tipos básicos: o multivisceral total, que foi o realizado pelo Albert Einstein; o modificado, semelhante ao realizado, que entretanto não transplanta o fígado, e o transplante de fígado combinado com intestino delgado.
Demanda
No procedimento total são transplantados estômago, duodeno, intestino fino, pâncreas e fígado e há quatro grupos de pacientes basicamente candidatos aos transplantes múltiplos: pacientes com doença hepática crônica com trombose das veias que drenam o intestino – que neste caso, em um transplante hepático comum, não têm alternativa para revascularizar o novo órgão; pacientes portadores de insuficiência intestinal crônica (doença conhecida também como SIC – Síndrome do Intestino Curto) que tiveram necessidade de nutrição parenteral por muito tempo, que levou o fígado a adoecer; pacientes que tiveram múltiplas cirurgias abdominais devido a doenças como Crohn, Retocolite, Pancreatite, e que levaram a aderências e fístulas que impedem a retirada dos órgãos separadamente; e pacientes com tumor que atinge a região da raiz do mesentério, as artérias e veias, com metástase no fígado.
É uma necessidade que atinge, na maioria das vezes, crianças com problemas congênitos. No Brasil, estima-se que haja três a quatro pacientes a cada 1 milhão de habitantes candidatos a esse tipo de transplante.
Um novo serviço para o Estado de São Paulo
O Ministério da Saúde acaba de autorizar que dois Serviços realizem os transplantes multiviscerais – Hospital Israelita Albert Einstein e Hospital das Clínicas da FMUSP e somente no Estado de São Paulo a fila de pacientes está organizada.
De acordo com dr. Ben-Hur Ferraz, cerca de 15 pacientes devem ser operados até o final do ano, sendo que a demanda é estimada em 400 casos por ano.
Desafios começam na captação
A captação de órgãos para um transplante desse porte segue as mesmas regras das cirurgias tradicionais, mas busca-se sempre, além da compatibilidade, um doador menor, já que o receptor, por conta de suas doenças e múltiplas cirurgias, tem sua cavidade abdominal alterada.
Segundo o coordenador da equipe de transplantes do HIAE, Ben-Hur Ferraz Neto, o desafio da cirurgia advem da grande chance de sangramento do paciente e de ser um procedimento longo. A primeira cirurgia durou 11 horas -, com longa duração anestésica, com uma implantação dos órgãos bastante complexa. “São basicamente quatro ‘costuras’, mas é um trabalho artesanal”, explica Ferraz Neto.
Ainda de acordo com o cirurgião, há ainda uma maior chance de rejeição porque o bloco de órgãos carrega consigo uma quantidade muito alta de tecido linfóide (gânglios que fazem parte do sistema imunológico), o que influencia em muito a imunidade do paciente. “Ainda não se sabe muito bem o porquê, mas o fígado, trazido junto como os demais órgãos, protege o paciente contra a rejeição dos órgãos transplantados, diminuindo as chances desta complicação”, explica o coordenador da equipe.
Após a cirurgia o paciente começa a receber uma carga alta de medicação imunossupressora, para evitar a rejeição dos novos órgãos. Essas drogas levam à baixa defesa do paciente e pode permitir infecções no pós-operatório. A equipe tem que agir nesse momento, sabendo dosar exatamente a carga de medicamentos que o paciente deve tomar, para que não haja rejeição e para que o risco de infecções oportunistas seja controlado.
Fonte SaudeWeb
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