Aplicativos, carreira, concursos, downloads, enfermagem, farmácia hospitalar, farmácia pública, história, humor, legislação, logística, medicina, novos medicamentos, novas tecnologias na área da saúde e muito mais!



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Morrer em casa: uma questão sobre a vida

Psicóloga aborda as dificuldades sobre a possibilidade e o direito de escolher como se deseja morrer
 
Hebe Camargo morreu em casa junto aos seus familiares. Ela havia feito o pedido ao seu médico. De fato era uma pessoa à frente de seu tempo, pois até em sua finitude conduziu com consciência e leveza a forma como desejava morrer.
 
Dentro do contexto de terminalidade da vida, ter a possibilidade e o direito de escolher como se deseja morrer, tem sido assunto bastante comentado nas ultimas semanas, em função também da matéria de capa de uma revista de circulação nacional. A matéria abordou a resolução do Conselho Federal de Medicina reconhecendo a autonomia do paciente ao expressar sua vontade, por meio do testamento vital, em não ser submetido a tratamentos invasivos sem possibilidade de recuperação, prolongando apenas o seu sofrimento e a de seus familiares.
 
Não é tarefa fácil conversar ou pensar sobre a morte, pois é culturalmente assunto velado entre as pessoas, é tema desconfortável de ser tocado, é para bater na madeira três vezes. Mesmo que você se encoraje a falar, parece que as pessoas não se mostram dispostas a te ouvir. É necessário termos consciência das próprias crenças e valores sobre a representação da morte em nossa vida. Porque a morte não é apenas só a do outro, tenho que pensar nela, por exemplo, quando devo expressar em vida à minha família o desejo de ser doadora de órgãos, caso um dia me encontre em situação de morte encefálica.
 
Voltando ao tema da terminalidade de doenças incuráveis, só quem vive ou viveu com parentes em situação semelhante, consegue compreender a angústia do longo sofrimento. E nessas histórias todos são envolvidos: o paciente, a família, os profissionais de saúde, a instituição….
 
Aos profissionais de saúde ressalto a importância de estarem atentos ao mundo das representações e das narrativas que cada paciente e família trazem diante desse tema tão delicado, porque muitas vezes sinalizam nas entrelinhas o caminho desejado.
 
A abordagem nos cuidados ao fim da vida, exige sensibilidade, exige que o profissional de saúde ressignifique a morte para sí e tenha habilidade na arte da comunicação e das relações.
 
O tema está sendo lançado cada vez mais para a sociedade refletir e é desejável que seja de forma natural. Na minha opinião, falar da morte é paradoxalmente celebrar a vida, concordando com o que o poeta Rubem Alves diz “… a morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver. Quem não pensa e não reflete sobre a morte, acaba por esquecer da vida. Morre antes sem perceber”.

Katya Kitajima é psicóloga da Clínica São Vicente
 
Fonte SaudeWeb

Nenhum comentário:

Postar um comentário