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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Uso de transplante para anemia falciforme pode ser ampliado

Quando tinha pouco mais de 20 anos, Yetunde Felix-Ukwu usava um adesivo de fentanil na pele, que liberava narcótico em quantidades suficientes para manter a maioria das pessoas desacordada. Contudo, o adesivo quase não a ajudava a suportar a dor causada pela anemia falciforme.
 
Mesmo com o uso do adesivo, Yetunde era internada em hospitais quase todos os meses por causa da dor que sentia 'como se fossem golpes de martelo, doloridos e fortes, ou como queira chamar'.
 
A anemia falciforme é uma doença genética debilitante, que faz com que as células sanguíneas assumam o formato de foice ou arco e fiquem rígidas, deixando de ser maleáveis. Em vez abrir passagem pelos capilares e vasos sanguíneos, como fazem as células normais, as células falciformes obstruem os vasos, dificultando o transporte de sangue e oxigênio para os tecidos do corpo todo. Isso pode causar danos graves aos órgãos, derrame cerebral, cegueira e muita dor.
 
'Imagine a dor de um ataque cardíaco sentida em todo o corpo', afirmou o Dr. Robert A. Brodsky, diretor da divisão de hematologia da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins. Muitos pacientes morrem antes de completar 50 anos.
 
O transplante de medula óssea pode curar o paciente. O problema é que muitos pacientes, entre eles Felix-Ukwu, não podem realizá-lo porque não encontram doadores com composição genética correspondente. Assim como a maior parte das pessoas com a doença, Felix-Ukwu é afro-americana e a probabilidade de uma pessoa dessa etnia encontrar um doador de medula óssea em registros de doadores é de aproximadamente 10 por cento, em comparação com 60 a 70 por cento no caso dos caucasianos, afirmou Brodsky.
 
Contudo, Brodsky e seus colegas da Johns Hopkins iniciaram a pesquisa de transplante de medula óssea com doador haploidêntico, que possui metade das informações genéticas do paciente. Os testes revelaram que o procedimento pode curar a anemia falciforme por meio da substituição das células-tronco defeituosas, que produzem as células em forma de foice, por células-tronco normais, que produzem rapidamente células arredondadas e flexíveis.

Como quase todas as pessoas possuem um doador haploidêntico, que pode ser um dos pais ou irmãos, o procedimento pode tornar o transplante de medula óssea acessível a mais de 90 por cento das pessoas à espera de um doador.
 
'Ela oferece a oportunidade de cura para milhares de pessoas adultas com a doença e que antes não tinham qualquer chance', afirmou o Dr. Michael DeBaun, diretor do Centro de Excelência em Anemia Falciforme da Faculdade de Medicina da Universidade de Vanderbilt. DeBaun não participou do experimento com doadores haploidênticos.
 
Felix-Ukwu tem 30 anos e realiza transfusões regularmente desde quando cursava o ensino médio, para diluir o sangue e substituir temporariamente as células sanguíneas falciformes, mas as transfusões deixaram de surtir efeito. Doadores haploidênticos vêm sendo aproveitados nos transplantes de medula óssea, realizados em pacientes com leucemia e linfoma, há aproximadamente uma década, e os médicos acreditavam que a segurança atual do procedimento possibilitaria seu uso em pacientes com anemia falciforme.
 
Felix-Ukwu mora em Lanham, Maryland, e inscreveu-se no estudo da Johns Hopkins. A doadora haploidêntica de medula óssea de Felix-Ukwu foi sua irmã mais nova, Woma Felix-Ukwu.
 
Felix-Ukwu teve que realizar sessões torturantes de quimioterapia, radioterapia e tratamento com imunossupressores antes de receber o transplante.
 
'Os 3 dias de quimioterapia foram os mais difíceis de minha vida, incluindo toda a dor provocada pela anemia falciforme', afirmou.
 
Mas o transplante deu certo. Seu corpo começou a produzir células sanguíneas normais. Durante 18 meses, após ter sido submetida ao transplante, ela continuou sentindo um pouco de dor – e as causas dessa dor não estão totalmente claras. Passados 3 anos, porém, Felix-Ukwu não tem mais a doença e não precisa mais tomar remédios para dor.
 
'Isso é sem dúvida incrível', afirma Brodsky, que publicou o estudo este mês, no periódico Blood, da Sociedade Americana de Hematologia.
 
Dos 14 participantes que receberam os transplantes haploidênticos, seis ficaram curados, o que significa que as medulas ósseas desses pacientes foram substituídas pelas do doador e eles não produzem mais células falciformes.
 
Dois pacientes continuam tomando imunossupressores, o que significa que a medula óssea do doador começou a produzir células sanguíneas, mas parte da medula do paciente ainda está presente. Eles ainda têm chances de ficarem curados.
 
No transplante haploidêntico, apenas 50 por cento dos genes do doador precisam ser compatíveis com os do paciente. O teste de compatibilidade de medula óssea exige a busca por genes do sistema antígeno leucocitário humano, ou HLA (na sigla em inglês), a parte do sistema imunológico que reconhece o que é próprio ou não.
 
Para que haja compatibilidade total, de oito a dez genes HLA do doador precisam ser compatíveis com os do paciente.
 
'Se existirem disparidades no sistema HLA e as células-tronco transplantadas perceberem o corpo do paciente como estranho, o novo sistema imunológico passará a atacar o paciente', afirmou Brodsky. Nos transplantes haploidênticos, apenas metade desses genes HLA precisam ser compatíveis.
 
Contudo, nos transplantes haploidênticos existe o risco de que as células imunológicas do doador ataquem o hospedeiro, a chamada doença do enxerto contra o hospedeiro, complicação que pode levar à morte.
 
Para reduzir esse risco, os pacientes recebem após o transplante o medicamento quimioterápico ciclofosfamida. A droga mata os linfócitos do doador – que normalmente atacariam o receptor – mas poupa as células-tronco do doador, as quais possuem uma enzima que as tornam imunes à droga. Em seguida, as células-tronco produzem novos linfócitos.
 
'O que ocorre é que as novas células geradas passam a tolerar o hospedeiro e não o atacarão', afirma o Dr. Javier Bolanos-Meade, principal autor do estudo e professor adjunto de oncologia da universidade.
 
'A quimioterapia posterior ao tratamento representa a principal mudança de paradigma', acrescentou Brodsky.
 
A outra mudança consiste na tendência de realização de um tratamento prévio mais brando. Em um transplante de medula óssea tradicional, para tratar um câncer, os pacientes recebem quimioterapia e radioterapia em altas doses antes do transplante, não apenas com o intuito de inibir o sistema imunológico, mas também para eliminar quaisquer células cancerígenas remanescentes. Na anemia falciforme a quimioterapia deve apenas inibir o sistema imunológico e, por esta razão, os médicos podem usar um tratamento menos intenso.
 
Isso pode disponibilizar o transplante para muito mais pessoas em idade adulta. O transplante de medula óssea tem sido sugerido em grande medida para crianças com anemia falciforme, mas não para adultos, os quais estão frequentemente fracos e debilitados demais para suportar o tratamento mais intenso que é realizado antes da cirurgia.
 
O transplante haploidêntico ainda está em fase experimental e, devido à sua toxicidade, é recomendado apenas para os casos em que a doença está em estágio avançado. O sucesso foi obtido em apenas aproximadamente 50 por cento dos pacientes.
 
'Iremos incluir muitas pessoas e deve ser triste não ter sucesso em metade dos casos', afirmou a Dr. Jane Little, diretora do programa de célula falciforme para adultos da Universidade Case Western Reserve, de Cleveland. 'Isso significa expor os pacientes a um risco que não pode ser eliminado. Mas também amplia muito o grupo de possíveis receptores.'
 
A equipe da Johns Hopkins está realizando ajustes no procedimento para melhorar a taxa de sucesso sem aumentar a toxicidade, afirmou Bolanos-Meade.
 
'Estamos trabalhando por um transplante que inclua um número maior de células-tronco para ajudar a vencer a rejeição', afirmou.
 
'É certo que o procedimento não cura a todos, mas ele é muito importante para os pacientes nos quais funciona', afirmou Bolanos-Meade.
 
Em agosto deste ano, Felix-Ukwu comemorou o fato de ficar um ano sem ir ao hospital. Ela planeja voltar a estudar direito em setembro do ano que vem.
 
'Quando olho para trás, eu me pergunto como suportei tanta dor', afirmou. 'Hoje sinto como se estivesse de férias. Finalmente estou livre para poder viver a vida.'
 
Fonte MSN

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