Recentemente, médicos do Memorial Sloan-Kattering Cancer Center, em Nova Iorque definiram que não incluiriam um nova droga para tratamento do câncer de cólon. O tema, inclusive, foi claramente exposto em carta do New York Times, um dos principais jornais do planeta.
Os motivos são práticos: o medicamento se mostrou, nos estudos científicos, como uma alternativa ao seu concorrente…. mas sem superioridade clinicamente relevante, e com custo mensal de 11 mil dólares, o dobro que a alternativa vigente.
Na maioria das indústrias e negócios, produtos com resultados equivalentes e dobro do preço muito improvavelmente entrariam no mercado. Em medicina, entretanto, isso acontece… e muito. Um dos motivos é simples: as entidades reguladoras internacionais, em sua maioria, somente avaliam se o medicamento funciona e é seguro, ao invés de julgar o que pareceria pertinente: se é melhor e se o preço está dentro do que a população julga razoável.
Abrimos, então, uma série de temas que podem (e deverão) ser pautados… desde o papel das agências até o conceito do que entendemos como “razoável”. Vamos focar, inicialmente, em questões práticas.
O mercado tem oferecido drogas interessantes, mas muitas delas somente com ganhos marginais ou inexistentes. A expectativa que se cria ao redor destes tratamentos é quase mística. Para ter uma idéia, levantamento realizado – publicado na New England Journal of Medicine em outubro de 2012 – entre pacientes com câncer de cólon em estádio avançado – cenário que os especialistas concordam se tratar de doença incurável e, portanto, esforços devem ser focados em qualidade de vida e controle de sintomas – a leitura de expectativa de cura era presente em mais de 80% dos entrevistados. Entendam: todo paciente tem direito de acreditar que pode ser a exceção, mas não pode se criar leitura mágica que obnubile a tomada de decisão racional. A questão prática é evidente: como vamos definir o que é “razoável” se sequer temos noção do ganho prognóstico real.
Ignorar custos de tratamentos não é mais aceitável. Quando escolhemos tratamentos, temos que considerar questões financeiras que podem aumentar e prolongar o desgaste pessoal e familiar. Mesmo que o paciente tenha um plano de saúde sem co-participação evidente que não existe mágica. Estes custos criam um cenário atuarial que será pago pelos clientes. Reforço um conceito fundamental: este debate não é parte da discussão frente a frente com cada paciente individual, mas uma debate social que demanda presença técnica sensata. Sempre há o risco de que alguns segmentos da sociedade podem entender que medidas como estas são para “racionar” tratamentos, enquanto a palavra correta seria “racionalizar”.
O tema é tão importante que a American College of Physicians (ACP) publicou em 2012 a sexta edição do seu Manual de Ética e incluiu o seguinte item:
“Médicos tem responsabilidade de praticar assistência medica efetiva e eficiente, usando os recursos de forma responsável. Atendimento deve ser parcimonioso utilizando os métodos mais adequados para diagnostico e tratamento do paciente com respeito e usando os recursos sabiamente, contribuindo para garantir a equidade”.
Mesmo que o orçamento em saúde seja robustamente aumentado – o que é improvável a curto prazo – debates como este devem fazer parte das discussões profissionais e com a sociedade. E o exemplo dos colegas de Nova Iorque foi muito interessante: fizeram o debate e trouxeram para conhecimento público.
Fonte SaudeWeb
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