Fernanda da Silva Xavier fez os testes com o protótipo e consegue clicar nos ícones da tela ao piscar os olhos Foto: Jean Schwarz / Agencia RBS |
O som da gargalhada solta quando está na companhia dos colegas contrasta com
o silêncio de Fernanda da Silva Xavier, 18 anos, em frente à tela do notebook
acoplado a uma cadeira de rodas. É sentada na mais nova aliada contra a
paralisia cerebral que a moradora do bairro Medianeira, em Porto Alegre, dedica
toda a atenção para demonstrar a destreza com que executa as habilidades
adquiridas.
A tecnologia criada pelo professor e pesquisador Gilson Lima, 52 anos, e a
empresa Ortobras permite que Fernanda, use o computador somente com movimentos
do olho e do rosto, sem a necessidade das mãos. A câmera do equipamento de
informática capta e reconhece a face dela, possibilitando os comandos em
programas do computador, como sites e jogos, por até 18 horas ininterruptas.
Esta contribuição para a inclusão digital de pessoas com lesões cerebrais
graves e sem os movimentos dos braços, resultante da união entre pesquisador e
fábrica promovida pela Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do
Investimento (AGDI), foi demonstrada na tarde desta terça-feira para a classe
especial do Colégio Estadual Cônego Paulo de Nadal, na zona sul de Porto
Alegre.
Entre as pessoas que assistiram à demonstração feita por Fê, como a jovem é
carinhosamente chamada pelas professoras, estavam o pai, a mãe e a irmã de sete
anos. Orgulhosa com o desempenho da filha, Itelma Janice da Silva Xavier, 40
anos, vê a conquista como uma recompensa pelas condições precárias enfrentadas
para conseguir atendimento de saúde e de educação para Fernanda, que é
alfabetizada, mas não consegue pronunciar palavras com clareza. Depois de uma
gravidez sem percalços e de ter saído do hospital com o diagnóstico de um bebê
saudável, Itelma descobriu, com o passar dos meses, que algo inesperado havia
ocorrido no parto. Só teve a confirmação da paralisia cerebral quando Fernanda
completou um ano e oito meses. Desde então, não vê limites para ajudar no
desenvolvimento da primogênita.
— Nunca deixei ela parada em casa. Para mim foi uma emoção vê-la demonstrando
este trabalho que vai servir de modelo para outras pessoas. Sei que é um passo
e, enquanto estiver neste mundo, vou continuar lutando para que ela adquira mais
espaço na sociedade — diz a mãe.
Demonstrando estar mais calma desde que começou os testes com equipamentos
semelhantes, em maio deste ano, Fernanda aproveita a cadeira de rodas equipada
com computador, webcam e bateria, para ouvir músicas e ver os programadas
preferidos no site You Tube. É só citar o nome da página da internet que a
menina abre um sorriso gigante, característico de quem obteve uma grande
conquista.
— Ela ganhou autonomia, agora tem mais possibilidades de se relacionar com os
outros — comemora o professor Gilson Lima, que estuda a relação entre o cérebro
e a máquina.
O sucesso do modelo testado com Fernanda e doado à estudante amplia as
possibilidades de auxiliar no desenvolvimento de mais pessoas nas atividades de
alfabetização e leitura. A intenção da fabricante é comercializar o kit, que
deve ser adaptado para cada pessoa.
Saiba mais
- O Kit de Inclusão Digital para Lesões Cerebrais Severas é composto por uma
cadeira de rodas adaptada, um computador com webcam e bateria para o
funcionamento por até 18 horas do equipamento de informática
- Com uma espécie de scanner, a câmera identifica os movimentos do rosto da
pessoa e os repassa como comandos para interagir com o computador
- No exemplo de Fernanda, os movimentos da face movem a seta, e o piscar dos
olhos aciona o clique com o qual ela pode utilizar programas de computador, como
se fosse um mouse
- Em outros casos, a boca ou apenas a cabeça podem acionar os cliques
- O equipamento, que pode ser adaptado em uma cadeira de rodas já existente,
custa R$ 3 mil. Como o valor das cadeiras é variável, o custo do kit completo é
de R$ 4 mil a R$ 11 mil
Fonte Zero Hora
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