São Paulo - Em dois dias, o número de pessoas que procuraram o Centro de
Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod), no centro da capital
paulista, foi maior que dobro do que a unidade costumava atender em uma semana.
Foram atendidas 80 pessoas na segunda-feira (21) e na terça-feira (22), quando a
média é 30 atendimentos semanais.
O crescimento da demanda, decorrente do início
do projeto do governo estadual e da Justiça para agilizar internações de
dependentes químicos, fez com que o governador Geraldo Alckmin anunciasse o aumento dos leitos destinados a esse tipo de tratamento, de 691 para
757.
"Vamos aumentar os leitos de retaguarda na rede estadual e também na rede
contratada. Serão 44 já agora e mais 22 na semana que vem", anunciou o
governador, após visitar o Cratod na manhã de ontem (23). Ele negou que estejam
faltando vagas para internação. "Ninguém vai ser deixado. Todos estão sendo
cuidados, como houve uma corrida, uma demanda grande para cá, as pessoas estão
sendo orientadas que os casos ambulatoriais são nos Caps [Centro de Apoio
Psicossocial]. Não há hipótese de alguém com autorização judicial, não ser
internado", garantiu.
É o que espera Elizabeth de Moraes, mãe de Thiago, 23 anos, que compareceu
hoje ao Cratod. Por meio de atendimento no Caps, ela conseguiu uma vaga em uma
comunidade terapêutica para o filho, mas, por se tratar de internação
involuntária, o fato precisa ser comunicado ao Ministério Público. "Tenho todos
os papéis, o pedido do defensor, só preciso disso agora. Se demorar muito, tenho
medo do meu filho fugir, porque ele está lá no Caps [localizado na mesma rua do
Cratod], mas foi uma luta conseguir trazer ele", explicou.
De acordo com o secretário Estadual de Saúde, Giovanni Guido Cerri, há grande
rotatividade nos leitos disponíveis para tratamento de usuários de drogas.
"Hoje, o leito está ocupado, amanhã está vago, mas, normalmente, dentro dessa
dinâmica uns 20% dos leitos estão rotativos para internação, mas em razão dessa
procura maior nós ampliamos. Achamos que esses 66 leitos [a mais] atendem essa
demanda emergencial aqui, porque internação não é solução, é realmente para
casos de extrema necessidade", esclareceu.
No anexo do Tribunal de Justiça de São Paulo, onde fica a sede do Cratod,
quatro decisões judiciais foram expedidas desde segunda-feira (21), mas nenhuma
determinou internação compulsória, informou o juiz Iasin Ahmed. Um dos casos foi
movido por um defensor público contra o próprio Estado para garantir vaga de
internação para um usuário. "A pessoa está internada, precisa de uma internação
de longa permanência, a médica confirmou a necessidade e não deram a vaga. O
Estado tem 24 horas para dar a vaga ou um salário mínimo por dia de atraso",
explicou.
Ahmed acredita que a negativa para a vaga do paciente pode ter decorrido de
conflitos na própria esfera administrativa, pois o governo oferece vagas
suficientes para atender a demanda. Os demais casos deferidos pelo juiz
envolviam a transferência de dependente e a busca de uma mulher grávida que,
segundo a família, estaria ferida na rua, mas não foi encontrada. Durante o
plantão jurídico, que funciona todos os dias, das 9h às 13 h, não foi solicitada
nenhuma internação compulsória. Os sete casos de internação, nos dois primeiros
dias após o início da medida, foram voluntários.
Felipe Santos, 19 anos, foi um dos que conseguiu vaga para ser internado. Ele
está há um mês em um albergue e, segundo ele, não usa crack há 15 dias.
"Comecei com 11 anos. Decidi parar, porque eu perdi tudo. Tive que sair de casa
para não prejudicar minha família. Eu roubava tudo dentro de casa. Quero voltar
para a minha mãe, conseguir um emprego e ter uma família", contou. Ele chegou
sozinho ao Cratod e aguardava, no início da tarde de hoje, o carro que o levaria
para uma comunidade terapêutica em Campinas.
Já Emerson da Rocha, 37 anos, foi ao centro de referência acompanhado da
família. Ele foi procurado pelo pai e pelo irmão nas ruas do bairro Vila Nova
Cachoeirinha, na zona norte, onde mora há quatro meses. "Eles disseram que viram
que ia começar isso daqui e foram lá falar comigo", explicou.
Emerson já tinha passado por tratamento ambulatorial no Caps, mas não teve
êxito. "Fui lá, mas, para mim, não adiantou. Fui três vezes, saia de lá e ia
fumar. Só se estiver em um lugar que não dá para usar mesmo", acredita.
Fonte Agência Brasil
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