NYT
A nadadora Natalie começou a concentrar cada segundo
do treino exatamente naquilo que estava fazendo. Deu certo
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Ninguém duvida de que os atletas de elite tenham um dom natural. É claro que eles treinam duro e muitos têm atrás de si uma enorme equipe de apoio – treinadores, nutricionistas e psicólogos.
Entretanto, esses atletas frequentemente têm algo que lhes dá uma vantagem a mais: um insight, ou até mesmo uma epifania que os faz chegar mais rápido ao pódio.
Perguntei a diversos astros e estrelas do atletismo o que fez a diferença para eles. Embora as realidades de cada atleta sejam intensamente pessoais, as respostas revelaram alguns temas comuns. Leia a seguir.
Concentre-se
Assim como muitos outros nadadores de longa distância que passam horas intermináveis na piscina, Natalie Coughlin, de 30 anos, costumava se perder em pensamentos enquanto dava suas braçadas. Coughlin era nadadora de competição desde pequena e era assim que ela e muitos outros atletas lidavam com o tédio dos treinos.
Mas quando estava no colégio, Coughlin percebeu que sonhar acordada era apenas uma maneira de vencer os quilômetros; isso não permitia que ela alcançasse seu potencial pleno. Por isso, ela começou a concentrar cada segundo do treino exatamente naquilo que estava fazendo, mantendo-se focada e pensando somente a respeito da própria técnica.
“Foi aí que realmente comecei a melhorar. Quanto mais fazia isso, melhor me saía”, conta. Entre as vitórias de Coughlin estão cinco medalhas nas olimpíadas de Pequim em 2008, incluindo a medalha de ouro nos 100 metros de costas.
Cuide de seu “bolo de energia”
Em 1988, Steve Spence, que na época tinha 25 anos e era maratonista independente, foi aceito no Programa de Desenvolvimento de Maratonistas Olímpicos dos Estados Unidos. Isso significava visitar o consultório do psicólogo David Martin, na Universidade do Estado da Geórgia, diversas vezes ao ano para realizar uma bateria de testes para medir seu progresso e avaliar sua dieta. Durante o jantar no restaurante de comida chinesa favorito de Martin, o psicólogo deu alguns conselhos a Spence.
“Sempre haverá corredores mais rápidos que você. Sempre haverá corredores mais talentosos e gente que parece treinar mais forte que você. O segredo para superá-los e dar mais de si nos treinos e aprender como cuidar de seu bolo de energia.”
O que é um bolo de energia? São todas as coisas que tomam tempo e energia – emprego, hobbies, família e, naturalmente, o treinamento.
“Os ingredientes desse bolo são limitados”, afirmou Spence.
O conselho de Martin foi “uma aula sobre como limitar as distrações”, acrescentou.
“Se eu quisesse me tornar competitivo no cenário mundial, teria de transformar a maratona em minha prioridade. Por isso, abandonei a faculdade e transformei a corrida em minha profissão.Percebi que esse era o meu emprego.”
E valeu a pena. Em 1991, Spence ficou em terceiro lugar na Maratona Mundial de Tóquio. Em 2004, integrou a equipe olímpica dos Estados Unidos e ficou com a 12ª colocação na competição. Agora, é o treinador-chefe da equipe de maratona cross-country e treinador-assistente de corrida em pistas do Shippensburg College, na Pensilvânia. Agora é ele quem ensina sua equipe a cuidar de seu bolo de energia.
Planeje o treinamento
Meredith Kessler era uma atleta nata. Durante o colegial, jogava hóquei e lacrosse, fazia parte da equipe de corrida e de natação e recebeu uma bolsa de estudos da Universidade de Syracuse para jogar hóquei. Em seguida, começou a participar das provas de triatlo Ironman, nas quais os atletas devem nadar quatro quilômetros, andar 180 quilômetros de bicicleta e correr uma maratona (42 quilômetros). Kessler adorava fazer isso, mas não conseguia chegar na frente. A ex-estrela dos esportes passou a fazer parte do grupo do meio.
Contudo, ela estava trabalhando 60 horas por semana em um banco de investimentos de San Francisco e tentava passar algum tempo com o marido e amigos. Mas depois de seis anos, perguntou se o treinador Matt Dixon poderia transformá-la em uma triatleta melhor.
Essa escolha foi fundamental para compreender os princípios do treinamento. Quando cuidava do próprio treinamento, Kessler fazia o que achava melhor, sem muitos planos específicos. Dixon ensinou que cada treinamento tinha um propósito específico. Um serve para aumentar a resistência, outro a velocidade. Outros, igualmente importantes, servem para aumentar a recuperação.
“Não ganhei nenhum Ironman até que Dixon me colocou nessa estrutura. Foi aí que comecei a ganhar”, afirma Kessler, de 34 anos.
Outra mudança importante foi deixar o emprego para que pudesse se dedicar ao treinamento. Demorou anos para que Kessler deixasse o banco – apenas em abril de 2011 – mas a diferença foi enorme. Ela se tornou uma atleta profissional com patrocinadores e venceu quatro Ironmen e três corridas de 70,3 quilômetros.
Os pais de Kessler ficaram embasbacados quando a filha deixou o emprego, mas ela os lembrou de que sempre disseram que não tinha importância se não ganhasse. O importante era que desse o melhor de si. Segundo ela, deixar o banco era fundamental para que pudesse “dar o melhor de si”.
Corra riscos
Helen Goodroad começou a participar de competições de patinação artística quando estava na quarta série. Seu sonho era participar das Olimpíadas. Ela era uma moça atlética e graciosa, mas não se parecia com uma patinadora artística: Goodroad tem 1,80m de altura.
“Eu acho que era duas vezes maior que qualquer outra competidora. Precisava de patins feitos sob medida quanto tinha apenas 10 anos.”
Um dia, quando Helen tinha 17 anos, seu treinador pediu para que fizesse um exercício em um ergômetro, uma máquina de remar. Ela nasceu para aquilo – sua força era fenomenal.
“Ele me disse: ‘Você conseguiria uma bolsa de remo em qualquer faculdade. Você conseguiria ir a uma Olimpíada’”, afirmou Goodroad. Mas isso significaria abrir mão de seu sonho, abandonar o esporte ao qual havia se dedicado durante toda a vida e mergulhar no escuro. Ela decidiu correr o risco.
Foi difícil e ela estava apavorada, mas conseguiu uma bolsa de remo na Brown. Em 1993, Goodroad foi convidada para treinar com a equipe nacional júnior. Três anos depois, entrou para a equipe nacional sub-23, com a qual venceu o campeonato mundial – ela remava com o nome de solteira, Betancourt.
“É tão fácil permanecer na zona de conforto. Mas chega um momento em que travamos, e não conseguimos chegar a lugar nenhum. Deixar a patinação, abandonar aquilo que conhecia e amava me ajudou a ver que eu poderia fazer muito mais do que imaginava”.
Aos 37 anos, Goodroad era treinadora de remo em Princeton até este ano e acaba de ter um filho. Ela ainda corre para manter a forma e planeja voltar a ser treinadora.
Saiba que os outros também sofrem
Em 2006, quando Brian Sell corria a Meia Maratona dos Estados Unidos, em Houston, percebeu uma coisa.
“Estava ao lado de dois ou três outros caras e só faltavam quatro quilômetros para o fim da corrida”, afirmou. Então, Sell começou a duvidar da própria capacidade. O que ele estava fazendo ao correr para bater competidores com um tempo de corrida melhor que o seu?
Mas, de repente, ele entendeu tudo: os outros caras deviam estar sentindo tanta dor quanto ele, caso contrário, não estariam a seu lado – estariam lá na frente.
“Então me convenci de que devia continuar, não importava qual fosse o resultado ou como estivesse me sentindo”, afirmou Sell.
“Depois de um quilômetro, o primeiro cara abandonou a corrida. Logo depois, outro seguiu o mesmo caminho. Acabei ganhando com uma vantagem de apenas 15 segundos e desde então tem sido assim e sempre que alguém começa a correr mais forte, faço o possível para manter o ritmo.”
Sell entrou para a equipe de maratonistas olímpicos dos Estados Unidos em 2008 e competiu na Olimpíada de Pequim, chegando em 22º lugar. Aos 33 anos de idade, Sell atua como cientista na Lancaster Laboratories, na Pensilvânia.
Fonte iG
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