Estimativa de especialistas é que a cada R$ 1 investido em melhores condições sanitárias sejam economizados R$ 4 no sistema de saúde
Cada R$ 1 investido por governos em saneamento básico economiza R$ 4 em custos no sistema de saúde, estimaram especialistas presentes no 4º Seminário Internacional de Engenharia de Saúde Pública, realizado nesta semana pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
– A partir do momento em que o cidadão tem um sistema de distribuição de água em quantidade e qualidade certas, as doenças de veiculação hídrica, como diarreia e esquistossomose, por exemplo, vão diminuir. Se diminuem as doenças, a quantidade de vezes que uma mãe vai levar o filho com disenteria ao médico vai diminuir – disse o diretor do Departamento de Engenharia da fundação, Ruy Gomide.
Em todo o mundo, 1,9 milhão de mortes infantis são causadas por diarreias todos os anos, segundo dados apresentados por Léo Heller, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Do total de doenças registradas na população, 4,2% se devem à falta do saneamento básico.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a diarreia é a segunda maior causa de morte entre menores de 5 anos de idade. A Pastoral da Criança, que atua nas comunidades mais pobres do país, confirma as consequências da falta de saneamento para a saúde das pessoas. Nessas áreas, os cuidados devem ser redobrados e os resultados aparecem. Dados de 2012 mostram que de 1,4 milhão de crianças acompanhadas pela entidade, apenas 5,3% tiveram diarreia.
Para Ana Emília Treasure, especialista da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) é preciso ir ainda mais longe nas pesquisas de saúde sobre o impacto do saneamento básico, pois a falta de água potável ou a presença de contaminações poderia estar ligada também a doenças crônicas.
– Temos de conferir a contaminação da produção de alimentos, por exemplo. Esses alimentos contaminados nas plantações podem estar se tornando um fator de risco para enfermidades crônicas, e essa água pode estar causando câncer ou prejudicando o crescimento das crianças.
Especialistas em saneamento e o presidente da Funasa, Gilson Queiroz, defenderam que os gastos com o setor voltem a ser contabilizados no piso da saúde, valor mínimo definido por lei que cada município, estado e a União deve empregar na saúde.
– Uma das melhores ações preventivas de saúde é um ambiente saudável, com o esgotamento sanitário e a coleta de resíduos. Isso traz economia para os serviços de atendimento médico, reduz a fila dos serviços de saúde e reduz os casos de doenças infecciosas e parasitárias. Com a desvinculação, perde-se recursos de repasse obrigatório, que poderiam ser empregados nas ações preventivas – defendeu Gilson.
Após intenso debate na comissão mista que tratou do Orçamento no Congresso, os gastos com saneamento deixaram de ser computados no piso da saúde, definido pela Emenda 29, que determina percentuais mínimos de investimento em saúde pela União, pelos estados e municípios. A União precisa aplicar valor correspondente previsto no Orçamento do ano anterior, corrigido pela variação do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Os estados devem aplicar 12% do que arrecadam anualmente em impostos e os municípios 15% de sua receita.
Lavar as mãos é medida importante
A pior consequência da diarreia é a desidratação, que pode ser grave tanto em crianças quanto em idosos, de acordo com o pediatra e mestre em infectologia pediátrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edimilson Vigotski.
— As crianças são as mais afetadas, porque têm um comportamento que permite o acesso ao agente infeccioso, quando, por exemplo, põem a mão na boca, no chão, e têm menos noção de higiene — explica.
Além disso, diz o médico, esse grupo pode apresentar o problema com maior frequência e, quando adoece, tem mais probabilidade de uma complicação que pode levar à morte.
De acordo com o médico, lavar as mãos com frequência é fundamental. A prática contribui para evitar doenças como conjuntivites, gripes e resfriados. O médico alerta os pais para os sintomas da diarreia como boca seca, lábios rachados, confusão mental e diminuição da urina, além da evacuação mais pastosa ou até mesmo líquida.
O gestor de Relações Institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufleur, defende o uso do soro caseiro como medida simples que faz a diferença para tratar o problema. Ele ressalta que, apesar de as unidades básicas de saúde distribuírem envelopes do produto, o domínio da técnica do soro caseiro dá autonomia para a família até que ela busque auxílio médico.
"O soro caseiro precisa de um punhado de açúcar, uma pitada de sal e um copo de água. A criança deve tomar aos poucos ao longo do dia, assim ela vai repor o líquido no organismo". Segundo Boufler, outra forma de prevenir a diarreia é o hábito de lavar as mãos.
Enquanto não há saneamento básico nas localidades, o pediatra reforça que os pais devem manter as crianças longe do esgoto e da água acumulada pelas chuvas e dar prioridade ao consumo de água potável ou fervida. O pediatra lembra que o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida é outra ação que diminui a chance de a criança ter complicações por causa da diarreia.
Fonte Agência Brasil
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