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quarta-feira, 27 de março de 2013

Um plano para melhorar o tratamento contra o câncer

Precisamos de mais consultórios "humanizados", nos quais
as enfermeiras cuidam dos sintomas mais comuns antes
que estes se intensifiquem
Análise mostra que muitos pacientes saem à procura de qualquer cuidado independente do preço
 
Este ano, mais de 1,6 milhão de americanos – ou 0,5% da população — vão receber um diagnóstico de câncer. Seu tratamento consumirá ao menos 5% das verbas destinadas à saúde nos Estados Unidos, com um custo que aumenta a um ritmo muito mais acelerado que em outras áreas da medicina. Médicos e pacientes reconhecem que essa situação é insustentável e que precisamos mudar a forma como fazemos os tratamentos.
 
Contudo, precisamos de ajuda e é por isso que mais de 20 importantes membros da comunidade oncológica contribuíram para esboçar este ensaio.
 
Após receberem esse diagnóstico aterrorizante, muitos pacientes com câncer saem à procura de qualquer tratamento promissor, independentemente do preço. Contudo, o que mais eleva o valor do tratamento é o sistema de pagamento por procedimento realizado pelo médico. Quanto mais os médicos trabalham, maior é seu reembolso e os cirurgiões ganham mais a cada procedimento. Oncologistas geralmente ganham mais quando utilizam medicamentos aprovados há pouco tempo e tratamentos radioterápicos mais recentes, ao invés de alternativas mais baratas e antigas que funcionam tão bem quanto as novas. (Isso acontece porque os profissionais recebem o valor do medicamento, além de mais 6% sobre esse valor — fazendo com que medicamentos mais caros aumentem ainda mais sua remuneração).
 
Algumas dessas novas terapias são divulgadas como se fossem avanços substanciais, mas outras fornecem apenas benefícios marginais. Dos 13 medicamentos aprovados pela FDA para o tratamento contra o câncer em 2012, apenas um é capaz de estender a expectativa de vida em mais de seis meses, em média. Dois estendem a expectativa por apenas quatro a seis semanas e todos custam mais de 5.900 dólares por mês de tratamento.
 
Além disso, há custos significativos causados por hospitalizações e visitas ao pronto-socorro, que poderiam ser prevenidos com uma melhor gestão dos sintomas comuns. Infelizmente, os médicos ganham mais quando tratam problemas sérios no hospital do que ganham para prevenir que esses problemas venham a ocorrer.
 
Sendo assim, cinco grandes mudanças precisam ocorrer:
 
Em primeiro lugar, nos próximos anos os sistemas de pagamento precisam deixar de lado o sistema de reembolso por procedimento executado e adotar um sistema de remuneração conjunta, no qual os médicos recebem uma quantia fechada por todos os tratamentos de um mesmo paciente com câncer. Isso evitaria o incentivo ao uso de medicamentos mais caros em casos nos quais os genéricos sejam igualmente eficazes.
 
Em segundo lugar, os planos de saúde devem informar os médicos sobre onde estão gastando o dinheiro. Por incrível que pareça, a maior parte dos médicos tem pouca possibilidade de acompanhar tratamento proporcionado ou saber como se compara a outros médicos que tratem pacientes com problemas similares. Os custos variam drasticamente entre pacientes com o mesmo tipo de câncer. Um estudo envolvendo pacientes com câncer generalizado mostrou que os custos por quatro meses de exames variaram de 1.800 a 6.400 dólares por paciente. Os médicos não sabem ao certo se o dinheiro está indo para a quimioterapia, para as hospitalizações ou para exames de ressonância magnética de rotina. Munidos de dados melhores, os médicos podem aprender a diminuir os custos com tratamentos.
 
Em terceiro lugar, qualquer mudança nos métodos de pagamento precisa ser acompanhada de monitoramentos de qualidade rigorosos para garantir que não haja super ou subvalorização de tratamentos.
 
Em quarto lugar, precisamos de mais consultórios "humanizados", nos quais as enfermeiras cuidam dos sintomas mais comuns antes que estes se intensifiquem a ponto de levarem os pacientes ao pronto-socorro, e os médicos conversam sobre serviços de tratamento paliativo e preferências de final de vida desde o princípio – não apenas semanas antes da morte. Esses serviços frequentemente não são cobertos pelos planos de saúde, mas podem melhorar muito a qualidade do tratamento e economizar muito dinheiro, evitando tratamentos repetidos, hospitalizações e quimioterapias tóxicas e desnecessárias. Os planos de saúde precisam compartilhar as economias feitas, permitindo que os médicos invistam nesse tipo de tratamento.
 
Em quinto lugar, precisamos de melhores incentivos para pesquisa. Muitos exames e tratamentos caros são realizados sem evidência de que possam aumentar a taxa de sobrevivência, ou reduzir os efeitos colaterais. Além disso, muitos têm poucas informações sobre quais pacientes deveriam receber esse tipo de tratamento. Por exemplo, embora mais de 800.000 cirurgias robóticas tenham sido realizadas nos últimos dois anos, especialmente no tratamento contra o câncer, não há evidências confiáveis de que os robôs melhorem a taxa de sobrevivência ou reduzam os efeitos colaterais — apesar de custaram mais que cirurgias tradicionais. O incentivo à pesquisa desaparece logo que as intervenções são pagas.
 
A comunidade oncológica não é capaz de fazer essas mudanças sozinha. O governo está profundamente envolvido e precisa ajudar. Atualmente, 60% dos diagnósticos de câncer são feitos em pacientes elegíveis ao Medicare. Até 2030, esse número chegará a mais de 70%. O Medicare e outros planos de saúde devem trabalhar ao lado dos oncologistas.
 
A secretaria de saúde e serviços humanos deve organizar grupos de trabalho com representantes do Medicare, dos planos de saúde privados, dos oncologistas, com especialistas em qualidade e pacientes para descobrir como desenvolver essas propostas e começar a implementá-las até o fim de 2015. Todos os envolvidos no tratamento contra o câncer precisam ajudar a melhorá-lo.
 
(Ezekiel J. Emanuel é oncologista, ex-conselheiro da Casa Branca, vice-reitor da Universidade da Pensilvânia e autor de artigos de opinião).
 
Fonte R7

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