Foto: Reprodução / Luiz Carlos de Alencastro Um dos tratamentos mais modernos é a implantação de uma válvula programável |
No meio de uma conversa, falta uma palavra. A memória falha. O caminhar fica lento, os pés se arrastam e uma queda parece sempre iminente. Sentar e se levantar de assentos baixos torna-se um exercício penoso, quase tão constrangedor como a incontinência urinária que começa a se manifestar com insistência.
Esses sinais "da idade", com a perda ou redução progressiva da capacidade cognitiva, podem ser o início da demência ou de uma doença degenerativa grave, como Alzheimer ou Parkinson.
— Todas comprometem severamente a qualidade de vida, pois podem incapacitar totalmente o paciente. Além disso, têm uma resposta muito pobre ao tratamento — observa o neurocirurgião Luiz Carlos de Alencastro.
No entanto, pelo menos uma dessas doenças tem tratamento eficaz e boa chance de regressão dos sintomas quando diagnosticada precocemente. A hidrocefalia de pressão normal (HPN) representa cerca de 10% dos casos de demência, e acomete pessoas com 60 anos ou mais. Ela ocorre quando há um aumento no volume do líquor, líquido que circula entre as cavidades cerebrais e a medula espinhal.
Numa pessoa sadia, o líquor é constantemente absorvido pelo organismo, mantendo a estabilidade do volume. Porém, quando há um bloqueio na circulação ou diminui a capacidade de absorção, ele começa a se acumular nos ventrículos, provocando o aumento da pressão dentro do crânio e provocando a hidrocefalia de pressão normal. A doença, no entanto, é habitualmente confundida e tratada como Alzheimer, devido à semelhança dos sintomas: falhas na memória, dificuldade de reconhecer familiares, de locomoção, entre outros.
— Essa similaridade de sintomas dificulta o diagnóstico. Em casos de demência, vale muito a pena investigar, porque a hidrocefalia pode ser controlada e isso vai se refletir em qualidade de vida para o paciente — diz Alencastro.
O diagnóstico é feito com exames como a ressonância magnética de crânio e a cisternocintilografia. Outros métodos, como a medição contínua da pressão liquórica ou a remoção de volume de líquor para avaliar mudanças do quadro clínico, também podem confirmar se o paciente tem HPN.
O tratamento é cirúrgico e consiste em implantar, sob a pele, um sistema de válvula para drenar o líquor. Sempre que há aumento da pressão intracraniana, o líquor excedente é enviado para a cavidade abdominal ou para o coração, onde é reabsorvido.
Como é o tratamento
Um dos recursos mais modernos e comprovadamente eficazes para o tratamento da hidrocefalia de pressão normal é a implantação de uma válvula programável, denominada Hakim. O principal benefício é que o paciente será submetido a apenas um procedimento cirúrgico para a implantação da válvula, pela qual será feita a drenagem em quantidade adequada do líquido acumulado no cérebro.
Disponível no Brasil há cerca de cinco anos, uma das vantagens dessa válvula é que ela permite a regulagem ideal de pressão para cada paciente por meio de um ajuste em consultório, indolor, não invasivo e dura poucos segundos.
Como é feito
O tratamento para a hidrocefalia de pressão normal é cirúrgico e consiste em implantar, sob a pele, um sistema de válvula para drenar o líquido ventricular (líquor).
– Um cateter é introduzido na cavidade ventricular do cérebro.
– No consultório, o médico programa a liberação do líquor excedente sempre que houver aumento da pressão intracraniana.
– O líquor é drenado da cavidade interna do cérebro para a junção da veia cava superior com o átrio direito do coração ou para a cavidade peritoneal, o espaço entre as alças intestinais, onde é reabsorvido pelo organismo.
Principais sintomas
DÉFICIT COGNITIVO
Falhas na memória, dificuldades de cálculo, raciocínio lento, dificuldade para reconhecer familiares
DÉFICIT ESFINCTERIANO
Incontinência urinária e fecal
PROBLEMAS MOTORES
Dificuldade de locomoção e para se levantar de assentos baixos, movimentos lentos, desequilíbrio ao caminhar
A hidrocefalia de pressão normal é muito confundida com Alzheimer e Parkinson. Mais de 10% dos diagnósticos são feitos inadequadamente. Mas é possível fazer a diferenciação pelo quadro clínico do paciente.
Fonte Zero Hora
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