A propensão a ver o lado positivo, creem alguns, pode ser equivocada ou até letal |
Recentes descobertas científicas apontam os benefícios do otimismo para a
saúde. Após pesquisadores de Harvard analisarem 200 estudos que monitoraram os
riscos cardiovasculares e os estados emocionais, foi concluído, segundo o "New
York Times", "que traços como otimismo e esperança, assim como níveis maiores de
felicidade e de satisfação com a vida, estão relacionados à redução do risco de
doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais". Outros dados sugerem que os
otimistas tendem a viver mais, a lidar melhor com doenças e até a prosperar mais
financeiramente.
Mas a propensão a ver o lado positivo, creem alguns, pode ser equivocada ou
até letal.
Haider Javed Warraich, residente em medicina interna no Centro Médico Beth
Israel Deaconess, em Boston, tratou uma paciente cardíaca que morreu depois de
ele autorizar um arriscado procedimento para aliviar seus sintomas. "Passei a
acreditar que fui vítima de um otimismo irracional, uma condição que atinge
médicos e pacientes de forma desenfreada, particularmente nos cuidados do final
da vida", escreveu ele no "Times".
Um estudo da revista médica britânica "BMJ" mostrou que cerca de dois terços
dos médicos superestimam a sobrevida de pacientes terminais. Esse otimismo,
escreveu ele, "leva os médicos a avalizarem tratamentos que provavelmente não
irão salvar a vida dos pacientes, mas que podem lhes causar sofrimento
desnecessário e empurrar suas famílias um pouco mais na direção da bancarrota
médica".
Na política, o otimismo é considerado indispensável à saúde das nações. Nos
EUA e na Europa, onde crises financeiras abalaram a fé de muitos, louvores ao
pensamento positivo se tornaram parte do discurso nacional.
O governo espanhol lançou uma campanha para melhorar a imagem do país. Em uma
escala menor, alunos da Universidade Camilo José Cela, em Madri, estão
produzindo um boletim chamado "Buenas Noticias", informou o "Times". Maripé
Menéndez, diretora de comunicações da universidade, disse que o objetivo é
animar os jornalistas e os leitores -por enquanto, não há dados mostrando se a
estratégia funcionou.
Há quem veja aspectos mais negativos no otimismo. Em artigo no "Times", o
filósofo britânico Roger Scruton observou que "podemos atribuir os principais
desastres da política do século 20 às doutrinas impecavelmente otimistas de
Marx, Lênin, Mao e muitos outros para quem o progresso era a tendência
inevitável da história".
Essas lições, escreveu Scruton, parecem ter servido de pouca coisa. Ele cita
os resultados da "chamada Primavera Árabe", incluindo a ascensão de governos
islâmicos na Tunísia e no Egito, a guerra civil e a destruição na Síria, a morte
do embaixador americano na Líbia e a perseguição a cristãos na região, entre
outros fatos.
"Um pouco de reflexão sobre as forças que iriam ser inevitavelmente
desencadeadas pelo colapso das autocracias árabes teria levado as potências
ocidentais a serem um pouco mais cautelosas ao dar aval às mudanças", escreveu
Scruton. "Mas, em emergências repentinas, o otimismo domina."
Fonte Folhaonline
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