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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Propensão a ver o lado positivo pode ser perigosa, apontam estudos

A propensão a ver o lado positivo, creem alguns,
pode ser equivocada ou até letal
A pessoa irrepreensivelmente positiva e divertida de conviver é bem-vinda em quase todo lugar. Já os pessimistas costumam ser rejeitados -no escritório, na sala de aula (embora caiam bem num seminário sobre Nietzsche) e em casa. Com seus alertas e previsões sombrias, são particularmente malvistos no "happy hour".
 
Recentes descobertas científicas apontam os benefícios do otimismo para a saúde. Após pesquisadores de Harvard analisarem 200 estudos que monitoraram os riscos cardiovasculares e os estados emocionais, foi concluído, segundo o "New York Times", "que traços como otimismo e esperança, assim como níveis maiores de felicidade e de satisfação com a vida, estão relacionados à redução do risco de doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais". Outros dados sugerem que os otimistas tendem a viver mais, a lidar melhor com doenças e até a prosperar mais financeiramente.
 
Mas a propensão a ver o lado positivo, creem alguns, pode ser equivocada ou até letal.
 
Haider Javed Warraich, residente em medicina interna no Centro Médico Beth Israel Deaconess, em Boston, tratou uma paciente cardíaca que morreu depois de ele autorizar um arriscado procedimento para aliviar seus sintomas. "Passei a acreditar que fui vítima de um otimismo irracional, uma condição que atinge médicos e pacientes de forma desenfreada, particularmente nos cuidados do final da vida", escreveu ele no "Times".
 
Um estudo da revista médica britânica "BMJ" mostrou que cerca de dois terços dos médicos superestimam a sobrevida de pacientes terminais. Esse otimismo, escreveu ele, "leva os médicos a avalizarem tratamentos que provavelmente não irão salvar a vida dos pacientes, mas que podem lhes causar sofrimento desnecessário e empurrar suas famílias um pouco mais na direção da bancarrota médica".
 
Na política, o otimismo é considerado indispensável à saúde das nações. Nos EUA e na Europa, onde crises financeiras abalaram a fé de muitos, louvores ao pensamento positivo se tornaram parte do discurso nacional.
 
O governo espanhol lançou uma campanha para melhorar a imagem do país. Em uma escala menor, alunos da Universidade Camilo José Cela, em Madri, estão produzindo um boletim chamado "Buenas Noticias", informou o "Times". Maripé Menéndez, diretora de comunicações da universidade, disse que o objetivo é animar os jornalistas e os leitores -por enquanto, não há dados mostrando se a estratégia funcionou.
 
Há quem veja aspectos mais negativos no otimismo. Em artigo no "Times", o filósofo britânico Roger Scruton observou que "podemos atribuir os principais desastres da política do século 20 às doutrinas impecavelmente otimistas de Marx, Lênin, Mao e muitos outros para quem o progresso era a tendência inevitável da história".
 
Essas lições, escreveu Scruton, parecem ter servido de pouca coisa. Ele cita os resultados da "chamada Primavera Árabe", incluindo a ascensão de governos islâmicos na Tunísia e no Egito, a guerra civil e a destruição na Síria, a morte do embaixador americano na Líbia e a perseguição a cristãos na região, entre outros fatos.
 
"Um pouco de reflexão sobre as forças que iriam ser inevitavelmente desencadeadas pelo colapso das autocracias árabes teria levado as potências ocidentais a serem um pouco mais cautelosas ao dar aval às mudanças", escreveu Scruton. "Mas, em emergências repentinas, o otimismo domina."
 
Fonte Folhaonline

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