Pacientes com quadros graves de anemia falciforme aguardam a publicação de
uma portaria pelo Ministério da Saúde que autorize a realização de transplante
de células-tronco hematopoiéticas para a doença.
Hoje, a técnica "mais conhecida como transplante de medula"é a única capaz
de curar a doença, mas só é permitida no Brasil mediante protocolos de pesquisa.
Os que se enquadram nos critérios de indicação representam 20% de todos os
pacientes, parcela que pode chegar a até 6.000 pessoas no país. São esses
doentes com quadros avançados os que não respondem ao tratamento-padrão com
remédios.
O problema foi discutido na semana passada no Simpósio USP-Paris-Diderot
sobre Hematologia e Imunologia. Na ocasião, a médica Belinda Simões, da Unidade
de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da USP de Ribeirão Preto, afirmou que, desde 2000, 21 brasileiros foram
transplantados. Entre eles, 18 foram curados e recebem acompanhamento especial.
Três pessoas, que fizeram o procedimento em estágio muito avançado, morreram em
decorrência de complicações da doença.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
"Para alguns pacientes, não há mais o que fazer. Hoje, é a única opção
curativa."
Na Europa, onde o procedimento já foi autorizado, a situação é diferente: já
foram registrados 611 transplantes desse tipo. A sobrevida dos transplantados,
dois anos após a cirurgia, foi de 94%.
"Aguardamos a publicação da portaria que autorizaria o procedimento desde
2011. As evidências de eficácia já foram mandadas para o Ministério da Saúde",
diz Simões.
De acordo com o Secretário de Atenção à Saúde, Helvécio Magalhães, uma
revisão geral do regulamento técnico sobre transplantes está sendo preparada e
deve entrar em consulta pública em até quatro meses.
Segundo ele, o novo texto incluirá a indicação do transplante de medula para
anemia falciforme, que deve passar a ser feita pelo SUS.
O médico Luís Fernando Bouzas, diretor do Centro de Transplante de Medula
Óssea do Inca (Instituto Nacional de Câncer), afirma que "devem ser seguidos
critérios rígidos" para a adoção da técnica.
Para a hematologista Sara Olalla Saad, da Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas), a aprovação do tratamento é urgente. "Atendo adultos e vejo tudo o
que acontece na evolução da doença. Eles têm sequelas em todos os órgãos e uma
qualidade de vida baixíssima", diz. "Prefiro ter o risco de 10% de morrerem por
causa do transplante a deixá-los sem alternativa."
A hematologista Carmem Bonfim, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), diz
que o fato de a doença atingir pessoas de classes sociais mais baixas --é mais
comum entre negros-- é uma das razões para o atraso da autorização do
transplante.
"A doença atinge uma população que não tem acesso às informações e nem
percebe que há algo que possa ser feito para ajudá-la."
Fonte Folhaonline
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