Temos pelo menos três plantas usadas como “arnica” no país e que são bem diferentes da espécie verdadeira |
Não é por ser natural que um produto pode ser considerado seguro, bem como o fato de ser sintético não o condena a ser um perigo mortal.
Esteve em vigor uma consulta pública colocada pela ANVISA sobre o uso de fitoterápicos de conhecimento e aplicação já tradicionais. Vejo com bons olhos essa atitude, pois reflete o anseio não só das empresas farmacêuticas bem como da população em geral, que terá uma opção de tratamento ou alívio de sintomas aproveitando aquilo que a população já vem usando há anos.
As indústrias farmacêuticas tiveram de tirar muitos produtos do mercado para se adaptarem às novas regras criadas anos atrás. Entendemos e sabemos que deve haver regras que direcionem esse mercado em prol do bem estar da população. Mas, no meu entender, houve medidas que deixaram a população sem a possibilidade de usar algo em que seus pais e avós empiricamente confiavam e do qual já conheciam os benefícios e que haviam estudos que davam respaldo científico.
Entendo e sou a favor de termos e regras que possam nortear o uso desses produtos, deixando de fora fitoterápicos que tragam substâncias nocivas em sua constituição. Dentro desses grupos de substâncias, que são nocivas, encontram-se os alcaloides pizarrolizidinicos, que algumas espécies possuem e ao serem usados constantemente podem causar danos renais e hepáticos. Porém, muitas plantas que contêm esses grupos de substâncias ou outros grupos químicos tóxicos estão descritas em diversos trabalhos científicos nacionais e internacionais. O que, na verdade precisaria haver é uma normatização para regrar essas liberações.
Essa consulta pode gerar protestos de ambos os lados, defensores e contrários a essas regras. Creio que todos ganharão com isso, sociedade e empresas do ramo; passaremos a usar mais o nosso potencial da biodiversidade, deixando de importar somente aquilo que os tecnocratas de plantão acham seguro, colocando no mercado aqueles que a tradição consagrou e que são respaldados por estudos que a academia realizou. Ganharemos muito com isso, pois temos a maior reserva vegetal do planeta e, no entanto, usamos medicamentos de outros países inclusive de países vizinhos.
Àqueles que são extremamente contra, eu sugeriria pensarem inclusive na extensa lista de livros e publicações na internet que “mostram” as maravilhas terapêuticas que tais espécies têm. Essas publicações, ao meu ver, podem ser muito perigosas, pois estimulam o uso de muitas espécies e algumas sem estudo de toxicidade ou mesmo de efetividade na ação.
Outra preocupação que tais publicações me trazem é a identificação errônea de espécies. Para termos uma pequena ideia: há confusões com espécies de estado para estado brasileiro. Como exemplo, temos a planta arnica (arnica montana - que não deve ser ingerida por conter alcaloides pizarrolizidinicos) e, no entanto, temos pelo menos três plantas usadas como “arnica” no país e que são bem diferentes da espécie verdadeira.
É evidente que a identificação botânica macroscópica bem como o uso de marcadores químicos corretos em conjunto com estudos que comprovem a segurança devem ser aplicados. E é claro, também, que os modismos de plantas ditas “miraculosas” que de tempos em tempos aparecem devem passar por processos mais complexos de estudos e análises; não só comprovando a segurança como sua atividade, para que o publico não seja enganado com falácias intencionais.
O triângulo — segurança, eficácia e qualidade — deve ser preservado. Produtos novos precisam de uma investigação maior, não podemos nos basear em modismos temporários. É a velha história apregoada também pelos nossos antepassados: “Com saúde não se brinca”. Eles sabiam o que diziam…
Fonte SaudeWeb
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