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sexta-feira, 7 de junho de 2013

O desafio do e-Saúde

Mais do que estruturar sinergias de assistência entre os sistemas de saúde público e privado, o mercado começa a discutir e implantar ações para que as informações dos pacientes percorram também os dois meios, assim como os três níveis de governo
 
A tecnologia já existe. Mas a infraestrutura é insuficiente e é preciso a estruturação de políticas perenes de Estado para suprir as demandas relacionadas à maior adoção de processos eletrônicos no setor de saúde e à integração das informações dos pacientes, bem como a formação de profissionais aderentes à sua utilização.
 
As conclusões fizeram parte do debate sobre e-Saúde no Setor Público, promovido pela  IT Mídia,  que contou com a participação do diretor técnico do departamento de Saúde da secretaria estadual de saúde de São Paulo, André Luiz Almeida,  a gerente de Padronização e Interoperabilidade (Gerpi) na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Marizélia Leão Moreira, e o  presidente da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e professor da Escola Paulista de Medicina, Rubens Belfort Júnior. Algumas iniciativas começam a cimentar a possibilidade do trânsito de informações do paciente entre público e privado e no trajeto das informações entre os três níveis de governo.  Um dos passos foi o reconhecimento da queda de barreiras entre o público, o particular e o complementar, já que o paciente transitará por todas estas esferas de acordo com sua conveniência.
 
Outro foi estabelecer a identificação unívoca do indivíduo no sistema de saúde suplementar. Segundo Marizélia, a ANS já conseguiu fazer essa identificação de 31 milhões de pessoas atendidas por planos de saúde, com o cartão único de saúde. “Estamos envolvendo as operadoras.
 
Hoje quando a pessoa compra um plano, a operadora já pode entrar no sistema e atribuir um número. É o primeiro passo para começar a juntar informação desse indivíduo”, diz.Como autarquia do Ministério da Saúde, o objetivo da ANS é buscar o equilíbrio entre os três principais agentes desse mercado: operadoras de planos de saúde, as prestadoras de serviços de saúde e beneficiários – hoje são pouco mais de 60 milhões de contratos, 220 mil prestadores e 1,4 mil empresas (incluindo a área odontológica). Segundo Marizélia, a versão 3.0 do TISS (Troca de Informações na Saúde Suplementar, que define formatos padrão para toda rotina relacionada a faturamento e cobrança), publicada no fim do ano passado, também pode colaborar no avanço do e-Saúde por trazer características como a padronização da informação, com terminologias para materiais, medicamentos e procedimentos médicos; o incentivo à cultura da transação eletrônica, que hoje cobre desde solicitações de procedimento até solicitações de recurso de glosa; e a possibilidade de desenvolver projetos em conjunto com o Ministério da Saúde tendo em vista o estabelecimento de uma linguagem única.
 
“A linguagem, a governança das informações e a infraestrutura de comunicação são alguns dos principais desafios para e-Saúde”, diz a gerente. “O sistema público tem uma terminologia específica voltada à coleta de dados para faturamento. Na saúde privada estamos um passo atrás e agora estamos unificando a terminologia entre os 220 mil prestadores de serviços do sistema para falarmos pelo menos uma linguagem de faturamento homogênea nesse universo.” A terminologia única permitirá a passagem do dado de um prestador a outro, etapa básica para a interoperabilidade.

Iniciativas Em São Paulo, segundo Almeida, a secretaria de Saúde desenvolve o projeto Saúde para São Paulo, o S4SP, uma estratégia criada para combater a desarticulação atual das informações. O órgão atua com uma rede composta por cerca de 250 serviços assistenciais prestando assistência direta ao cidadão, com 50 serviços próprios sob gestão do estado e os demais contratados no modelo de Organização Social.
 
O estado atende desde o serviço primário até o terciário e conta ainda com serviços de apoio, para diagnóstico de imagens e análises clínicas. Mas a informação eletrônica do paciente é estanque. “Não raro ela não percorre sequer dentro do serviço de saúde que está sendo prestado. São poucos os casos com processos automáticos”, diz o gestor.
 
O S4SP está interagindo com o Ministério da Saúde, embora, segundo Almeida, haja um ponto de ruptura, já que o órgão federal está em meio a um processo de definições e estudos e a secretaria já está executando etapas como a unificação de todos os sistemas de gestão dos 48 hospitais próprios para compartilhar a informação do paciente. Isso é feito pela Prodesp, com o desenvolvimento de solução própria baseada em ferramentas do Incor e do Hospital das Clínicas de São Paulo. Os demais hospitais sob gestão de OS terão seus sistemas integrados.
 
“Uma vantagem é que o conjunto de fornecedores do mercado brasileiro é um universo limitado. Estamos tentando seguir a linha de padrões para que todo mundo consiga se falar.”Além disso, a integração será promovida por meio de passos graduais. “Vamos começar pelo mínimo. Estamos interagindo com o Ministério da Saúde.” O compartilhamento do sumário de alta será o primeiro passo do projeto, que inclui também um canal de acesso do cidadão para sua informação de saúde, com todas suas passagens pelo serviço público registradas em um portal. “O cidadão precisa entender que a posse dessa informação é dele, só nos compete a guarda”, destaca Almeida.
 
Na saúde suplementar, explica Marizélia, a última versão do padrão de troca de informações já prevê obrigatoriedade dos dados para o beneficiário, mesmo sem definir o acesso online a eles. “Isso já é um sinal de mudanças”, observa.
 
Outro é a questão da execução de contrato. A informação da execução, ou da recusa, já é um direito – o motivo de negativa de cobertura deve ser repassado para o beneficiário com base em um padrão. “Toda informação de atenção à saúde que já foi padronizada está disponível para o beneficiário de plano de saúde”, aponta a gerente. Além disso, segundo ela, já foi identificado que as pessoas preferem ter os dados naquele serviço que disponibiliza um acesso via internet. “Está faltando um passo, e aí que entra a figura do profissional. É ele acessar o resultado do laboratório, mesmo que disponha da senha da pessoa.
 
Há muito o que se fazer na questão da governança da informação, quem acessa, quando acessa e por que acessa. Mas a tecnologia já está aí, é uma questão de tempo.”E o usuário?“Só o paciente organizado, reclamando da sua falta de direito de possuir seus dados médicos é que vai fazer diferença. Ele é o ator principal deste processo”, diz Belfort Júnior. Ele destaca também a questão dos recursos humanos, foco da Escola Paulista de Medicina.
 
A EPM, hoje federalizada, foi criada há 80 anos pela SPDM, hoje organização filantrópica proprietária do Hospital São Paulo, de ensino federal. A associação conta com 18 hospitais e 39 unidades e presta serviços de saúde, ensino e a partir deste ano, pesquisa, além de atuar como OS em alguns estados. “Estamos interessados em como será o médico daqui a dez anos”, adianta.
 
Ele lembra que o passo seguinte a exemplos promissores de sucesso, como os apresentados por Almeida e Marizélia, é contar com recursos humanos informados, formados e sensibilizados para operacionalizar o sistema. “Isso envolve você ter não apenas  formação adequada do médico, mas ele entender que aquilo apesar de às vezes não ser tão amigável quanto a gente gostaria é necessário. Não substitui, mas complementa a anamnese, tanto que vai ser num tempo adicional de consulta médica”, defende. ”
 
Em saúde a gente sempre volta para o mais importante, que é o recurso humano, o indivíduo que tem de estar preparado para usar a informação existente em benefício do paciente.”  O gerente médico da Unidade Ibirapuera do Einstein,  Silvio Possa, reitera a necessidade de treinamento – segundo ele, experiência realizada no Hospital  M´Boi Mirim, onde foi gestor até o ano passado,  com implantação de sistema de troca de informação, com envio de resumo de alta por e-mail, mostrou ser ineficaz. “Ninguém olhava”, constata. “Treinar o médico e vencer barreiras é fundamental.”A familiaridade com o uso da tecnologia já é uma realidade para o cidadão 3.0, aquele nativo digital que já espera contar com serviços eletrônicos.
 
Ele ainda está sadio, mas daqui a pouco frequentará o serviço de saúde e exigirá solução para o quadro de informações desintegradas – além daqueles construídos para suportar o faturamento, elas transitam por sistemas estanques voltados a de situações específicas, como acompanhamento de câncer ou hipertensão ou busca de leitos, dificultando a visão do paciente por completo e a vida dos profissionais.
 
“Hoje os sistemas são registradores, não oferecem recursos que permitam maior produtividade do médico”, acrescentou  o diretor –presidente da Folks e-Saúde, Claudio Giulliano Alves da Costa. Ele lembra que o Brasil passou muito tempo investindo em sistemas segmentados, como Sistemas de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan), Sistema de Informação de Atenção Básica (Siab), Sistema de Informação Ambulatorial (Sai), Sistema de Informações sobre Mortalidade (Sim). “A tecnologia de comunicação vai fazer a diferença para mudar essa situação”, diz a gerente da ANS.
 
Ela lembra que o processo de evolução passou da fase de coleta de informações de faturamento em papel para o meio eletrônico, daí para sua ampliação para traçar perfil epidemiológico. Hoje já se identifica que podemos agregar informação para ganhar redução de custo, evitando, por exemplo, repetições de exames. “Mas não podemos cair, do lado oposto, no risco de coletar um grande número de informação porque também não vai dar conta de gerenciar tudo e a informação, quando necessária, não vai estar disponível”, alerta.
 
“É preciso atentar para a efetividade da informação”, acrescentou  a diretora de enfermagem do Hospital Celso Pierro ( PUC –Campinas), Ana Luiza Meres, lembrando que a construção de uma ferramenta deve pensar na pessoa na ponta. “A resolutividade depende de coisas pequenas, padronizadas, que possam contribuir com o paciente.”
 
Marizélia, da ANS, avalia ainda ser necessário um modelo de governança para e-saúde que envolva órgãos de vários setores, incluindo ministérios como Planejamento, Tecnologia, Educação. “O Brasil tem uma característica particular com o SUS, com os gestores federal, estaduais e municipais atuando no mesmo sistema.
 
Se a gente não trabalhar um modelo de governança que adeque a cada um, vão ter várias iniciativas para atingir o mesmo alvo.” Para Rubens Belfort Júnior, é essencial o papel indutor do estado. “Não tem sentido nós gastarmos em algum sistema nosso e depois ficar só para nós”, alega. “É importante o papel indutor do estado, sempre também com a parte financeira. Passa também por investimentos financeiros, que organizações por maiores que sejam não têm, são investimentos maciços em tecnologia.” Segundo ele, falta pressão política. “Se a sociedade entender que precisa melhorar a saúde e se mobilizar a saúde vai melhorar. Atores individuais não vão.” O diretor da Amil, Paulo Marcos lembrou que mesmo países pobres tiram proveito da tecnologia, inclusive móvel, para melhorar a saúde com menos custos. “Tem investimentos para isso no mundo inteiro”, diz.
 
Fonte Saudeweb

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