Moacyr Lopes Junior/Folhapress Porthos Martinez, 13, e a terapeuta Ester Massola fazem exercícios de relaxamento no hospital Albert Einstein |
Ela estava presente também no dia que a mãe do menino lembra como o mais tenso de todo esse período no hospital: o do transplante de medula pelo qual seu filho, que teve leucemia, passou.
"A Ester entrou e fomos controlando a ansiedade. Eu nem tinha dormido na noite anterior, esperando a bolsa de células-tronco chegar", lembra Gisele Martinez, 43, mãe de Porthos. Quando o médico chegou, estavam os dois tranquilos para o procedimento, conta ela.
O médico Paulo de Tarso Lima, coordenador do Serviço de Medicina Integrativa do Einstein, diz que um dos objetivos desse tipo de intervenção é fazer o paciente e seus cuidadores "retomarem o momento presente".
"Não posso receitar ao paciente que ele se sinta bem, mas posso ajudá-lo a acessar seu bem-estar. Já temos evidência científica de que isso ajuda o tratamento."
Tatiana Grinfeld, 35, começou a fazer terapia de toque em janeiro. Ela vai ao hospital duas ou três vezes por semana para tomar medicações para tratar consequências do tratamento de câncer pelo qual passou. Enquanto o soro passa pelo cateter, ela se deita e recebe a terapia.
"Me sinto reenergizada. Passamos por tantos altos e baixos durante um tratamento. A terapia muda a nossa forma de encarar as coisas."
O hospital abre amanhã seu novo Centro de Oncologia e Hematologia Família Dayan, anexo ao prédio principal, no Morumbi, num investimento de quase R$ 40 milhões. Ele terá seis espaços dedicados a práticas complementares, como aulas de ioga, meditação e relaxamento para adultos e crianças.
Em cerca de quatro meses, o hospital deverá lançar ainda um curso à distância de aperfeiçoamento de profissionais em medicina integrativa voltada para câncer.
Moacyr Lopes Junior/Folhapress Tatiana Grinfeld, 35, recebe terapia de toque enquanto toma medicação |
A colaboração também será em pesquisa. Uma delas vai estudar efeitos da meditação tibetana em 40 mulheres com câncer de mama em São Paulo e 40 nos EUA que sofrem com problemas cognitivos após a quimioterapia.
Segundo Paulo de Tarso Lima, as consultas do serviço de medicina integrativa têm o objetivo de dar abertura para que o paciente compartilhe sua necessidade por tratamentos complementares -de 45% a 80% dos pacientes oncológicos brasileiros buscam alguma terapia do tipo.
Lima afirma que sua intervenção inclui checar o risco e o benefício do que o paciente está buscando.
Se ele procura uma cirurgia espiritual em que pode haver cortes mas está com o sistema imunológico abalado logo após um transplante de medula, exemplifica o médico, é preciso alertar que aquele não é o melhor momento. "Respeitamos e acolhemos as escolhas do paciente. Mas vamos ajudá-lo a se estruturar para ir e voltar com segurança", diz Lima.
O Hospital Sírio-Libanês também deu início a um departamento de medicina integrativa, há três anos, com o apoio do centro Memorial Sloan-Kettering (EUA).
Artur Katz, coordenador de oncologia clínica do Sírio-Libanês, afirma que há uma preocupação particular com o emprego das substâncias supostamente naturais que podem ter um efeito prejudicial no tratamento, ao interagir com as drogas usadas na quimioterapia.
"É fundamental estimular o paciente a discutir essas opções com o médico. Ele não pode se sentir inibido."
Em certos casos, quando há evidência de benefício ou ao menos de que a substância não causa dano, é válido também estimular o uso, segundo Hamerschlak.
"Há um tipo de leucemia crônica para a qual há evidências de que chá-verde faz bem. Você precisa ver o sorriso dos pacientes quando digo isso. Há uma ansiedade por esse tipo de indicação."
Por outro lado, em outros tipos de câncer, o mesmo chá-verde pode prejudicar o efeito da químio.
Folhaonline
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