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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Alternativas à camisinha podem evitar a contaminação de Aids




Durante os últimos 30 anos a camisinha tem sido sozinha o instrumento mais eficaz de prevenção da Aids, doença que já atingiu mais de 60 milhões de pessoas no mundo. Todas as outras formas de se tentar impedir o contágio pelo vírus HIV não se mostraram totalmente seguras. No entanto, nem sempre o preservativo é uma opção disponível. E por isso mesmo a doença continua a fazer pelo menos 2,6 milhões de novas vítimas a cada ano. Em um estudo publicado na edição de hoje da revista Science, pesquisadores britânicos e americanos propõem uma alternativa para barrar o vírus entre as populações que, por alguma razão, não têm acesso a camisinha — o uso combinado de vários métodos que isoladamente não são 100% confiáveis.

Segundo os pesquisadores, seria viável acrescentar ao preservativo a vacina contra HIV mais eficiente já produzida, mas que só funciona em 31% dos casos. Além desta, usar o tenofir, um gel que extermina o vírus, mas é eficaz apenas com 39% dos pacientes, e adotar aderir à circuncisão — a retirada da pele em excesso do pênis que conseguiu baixar o índice de contaminação em 57%. Nenhuma dessas alternativas isoladas é suficientemente forte para evitar a contaminação de grandes populações. No entanto, segundo os pesquisadores, se forem associadas, elas podem ser o reforço que faltava para o controle do HIV e a queda no índice de vítimas da Aids.

De acordo com Sheena McCormack, do Centro de Pesquisa Médica Clínica do Reino Unido, a adoção de novas técnicas de prevenção do HIV se tornou necessária depois que locais onde há pleno acesso ao diagnóstico e tratamento apresentaram aumento nos casos. “Embora o panorama geral da epidemia do HIV pareça promissor, com uma taxa relativamente estável de novas infecções, há exemplos de registros crescentes em países que têm acesso universal ao tratamento, tais como o Reino Unido”, disse a pesquisadora ao Correio.

Depois que vários métodos biomédicos de prevenção apresentaram relativo sucesso, os estudiosos decidiram utilizá-los de maneira combinada. “A camisinha é um problema, por exemplo, para os casais que querem ter filho, que poderiam adotar os métodos biomédicos. Como isoladamente eles não são totalmente eficazes, surgiu a ideia de combiná-los”, explicou.

Para os pesquisadores, uma vacina segura e duradoura seria a forma mais eficaz de prevenir a infecção. “No entanto, os ensaios com as vacinas atuais só reduziram a infecção em 31%, o que claramente não é uma taxa boa, suficiente, para ter um impacto significativo na epidemia”, relata Robin Shattock, professor do Imperial College de Londres e principal autor da pesquisa. “No entanto, a combinação de várias estratégias nos parece hoje uma opção bastante viável. Ainda não fizemos testes para confirmar nossa tese, mas com os atuais avanços nessas formas alternativas, acreditamos que é um bom momento para testar suas eficácias combinadas”, completa o especialista.

Outras armas
A tese levantada pelos britânicos dá força a uma corrente de cientistas que defende pesquisas alternativas para dominar a síndrome. Em entrevista ao Correio, quando esteve no Brasil, no fim de maio, o médico francês Willy Rozenbaum, que ajudou a descrever a doença no início dos anos 1980, já havia defendido a adoção de formas complementares de proteção contra o HIV. “Se essa única forma (a camisinha) fosse eficiente, já teríamos controlado a epidemia há muito tempo. O problema não é que a camisinha não seja eficiente por si, o problema é que, por mais que haja campanhas, ela não é suficientemente utilizada, a ponto de barrar o avanço do vírus”, afirmou.

Apesar de proporem a novidade, os especialistas lembram, no entanto, que ela não substitui o modelo de prevenção tradicional, baseado na camisinha. “Pelo menos por enquanto, ela ainda fornece a melhor proteção contra o HIV”, lembra Shattock. “Não devem ser abandonados os esforços para promover o uso do preservativo. Deve-se inclusive pensar em estratégias para ampliar o seu uso. O que defendemos é abordagens alternativas para os casos onde ela não pode ser utilizada”, completa o britânico.

O presidente da ONG LGBTTT Estruturação, Welton Tindade, acredita que o surgimento de reforços para a camisinha são mais que bem-vindos. “O ideal é que houvesse várias possibilidades, como é hoje com a prevenção da gravidez”, afirma. “A mulher que não quer engravidar pode escolher entre a pílula, a camisinha, o diafragma aquele que mais se adapta ao perfil dela. Se essa fosse uma possibilidade também em relação à prevenção da Aids, com certeza mais pessoas estariam protegidas”, analisa.

Para ele, a camisinha não consegue neutralizar sozinha o avanço do vírus por falta de consciência. “Não falta informação. Todo mundo sabe que tem que usar preservativo, o que falta é conscientização. Por mil motivos as pessoas acham que não vão pegar a doença, que não vão ficar doentes, o que é completamente errado”, critica. “Também percebo que há um certo cansaço da camisinha. Algumas pessoas, especialmente as mais velhas, têm baixado a guarda, deixado a proteção com o preservativo em segundo plano.”

Bom exemplo
A preocupação dos pesquisadores, que viram a Aids aumentar mesmo em países onde há pleno acesso à prevenção e ao tratamento, é a mesma de Organização Mundial da Saúde (OMS). Recentemente a instituição anunciou que, depois de décadas de queda no índice de infectados pelo HIV, a Aids voltou a subir entre os homossexuais. Enquanto isso, no mundo inteiro, a comunidade científica busca soluções para conter a epidemia.

Sônia Morais, 23 anos, exercita a consciência de cidadã preocupada com o avanço da doença de uma maneira simples e eficiente. Semanalmente ela e seu grupo percorrem bares, boates, festas e pontos de prostituição distribuindo preservativos. “Pelo menos entre as profissionais do sexo a prevenção é uma questão bem resolvida. Elas sabem que é preciso se proteger. Já houve casos em que a garota estava dentro do carro para sair com um cliente mas preferiu, antes, pegar a camisinha com a gente”, conta.

Para ela, no entanto, ainda é preciso melhorar o acesso ao método tradicional de proteção. “Existem centros de referência em que a distribuição funciona muito bem. Mas já houve casos relatados de travestis que foram a postos de saúde e tiveram a camisinha negada”, alerta Sônia. “Esse é um problema que não pode acontecer. Se o mais difícil é conscientizar, a pessoa não pode ficar desprotegida por falta de acesso ao preservativo por puro preconceito”, reclama a jovem.

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