Respirar ar poluído causa mais ataques cardíacos que usar cocaína, segundo revisão de estudos envolvendo 700 mil pessoas, publicada ontem no "Lancet".
O trabalho, feito pela Hasselt University, na Bélgica, cruzou fatores de risco para infarto e a exposição da população a esses fatores.
É por isso que a poluição ficou em primeiro lugar. Individualmente, aumenta apenas 2,9 vezes o risco de infarto, em comparação com a cocaína (23 vezes).
Mas, como a população toda é exposta à poluição, e apenas uma fração pequena usa a droga (0,04%), a poluição desencadeia muito mais infartos do que a cocaína.
O estudo também coloca em patamares semelhantes os riscos da poluição e de outros fatores mais conhecidos, como esforço físico e consumo de álcool e de café.
Para o médico epidemiologista Luiz Alberto Pereira, do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, é esse o mérito do estudo.
Segundo Pereira, a poluição não é valorizada como fator de risco e ainda há muito ceticismo a seu respeito.
"O estudo pode fazer com que os clínicos finalmente olhem para a poluição como fator de risco relevante para infarto. Não se pode mais menosprezar um risco de 7%, similar ao do álcool."
Os gatilhos fazem a doença preexistente piorar ou se manifestar. No caso da poluição, a piora da qualidade do ar pode causar um infarto poucas horas depois da exposição em quem tem hipertensão ou problemas cardiovasculares.
Mas mesmo pessoas saudáveis podem sofrer dano e ter o risco de infarto aumentado ao longo do tempo, principalmente se morarem em cidades como São Paulo, diz o pneumologista Ubiratan de Paula Santos, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Já aqueles que se protegem com medicamentos para pressão alta e se expõem menos aos riscos sofrem menos os efeitos dos gatilhos.
Fonte pontocapital.com
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