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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Bruxismo atinge as crianças e profissionais desconhecem a gravidade

O clichê sempre compara o sono das crianças ao “dos anjos”, mas um distúrbio temporomandibular joga esse ditado no lixo.

O bruxismo, hábito de ranger e/ou apertar os dentes durante o sono, além de provocar um barulho muitas vezes assustador, causa diversos problemas, como dores de cabeça e faciais e desgaste dos dentes. Não bastasse todo esse incômodo para os pequenos, a falta de profissionais capacitados ainda é um obstáculo para os pais. Pesquisas realizadas na clínica infantil da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da Universidade de São Paulo, detectaram que o problema é o terceiro motivo de procura por dentistas, atrás apenas da dor resultante das lesões de cáries e dos traumatismos dentais.

Aos 4 anos, enquanto dormia, Henrique Bernardes começou a produzir sons de rangido dos dentes assustando a mãe, Marina Gonçalves. De dia, o menino, que hoje está com 6 anos, reclamava de dores de cabeça e, após algum tempo, apresentou os dentes da frente quebradiços. Por já ter conversado a respeito do assunto com a sogra e pelo fato de a irmã já ter passado pelo mesmo problema, Marina soube quem procurar, embora não tivesse obtido respostas. “A dentista dele disse que era para eu esperar um tempo. Se não passasse, ele iria usar uma placa, mas ela nunca me disse o que causava o problema”, recorda.

O menino está trocando a dentição e vez ou outra ainda range os dentes, mas a mãe, mesmo preocupada, decidiu esperar mais um pouco para procurar outra opinião. Segundo a professora Kranya Victoria Díaz-Serrano, a falta de conhecimento de alguns profissionais sobre bruxismo e DTMs (desordens temporomandibulares) em crianças se dá, em parte, porque as faculdades abordam o assunto quase que exclusivamente mirando a população adulta. Na USP, o tema bruxismo e DTMs em crianças e adolescentes faz parte da grade curricular da graduação, na disciplina de odontopediatria. “Antigamente, acreditava-se que o bruxismo ocorria apenas em adultos. A partir da década de 1980, vêm sendo desenvolvidas pesquisas que têm como foco a população infantil ”, recorda.

Ela, que lidera as pesquisas do assunto na faculdade, conta que a procura dos pais por consultas é prova de que as pessoas estão mais informadas. A clínica infantil da USP recebe pelo menos três casos por semana. A especialista explica que o distúrbio é provocado por vários fatores e que, para a pessoa ser considerada como portadora do problema, o diagnóstico deve ser etiológico e não apenas sintomático. “Existem questões morfológicas, patofisiológicas e psicológicas que podem causar o distúrbio, as quais influenciam sua forma de manifestação”, diz.

Causa ou efeito
De acordo com o dentista João Palmieri, o bruxismo é uma das chamadas parasonias — ocorre normalmente nas fases 2 e REM do sono e , segundo estudos mais recentes, parece estar ligado a alguma forma de modulação orgânica, como uma resposta do indivíduo aos efeitos deletérios do estresse físico ou psíquico. “Isso significa que o bruxismo, em si, não é uma doença. Os efeitos sobre os dentes, como desgastes, fratura, hipermobilidade e os microdespertares durante o sono, é que são os problemas”, explica.

Ele conta que, quando o assunto é criança, a hiperatividade mastigatória noturna tem uma alta prevalência — cerca de 55% das crianças durante a dentição mista (de leite e permanente). Segundo Palmiere, é comum os pais notarem o suposto problema se agravar dos 5 aos 9 anos, quando ocorre a troca dos dentes decíduos (de leite) para os permanentes.

A professora Kranya Victoria Díaz-Serrano explicita que a teoria odontológica da década de 1960, que defendia que os elementos “periféricos” como interferências oclusais ou a maloclusão seriam as bases do bruxismo do sono, é, atualmente, no mínimo, controversa e inconclusiva. Estudos polissonográficos evidenciam que os fatores periféricos não são instrumentais na gênese dessa parafunção e que o contato interdental é o último episódio na sequência de eventos no bruxismo do sono. “Parece que o bruxismo desempenha um papel crucial não só na esfoliação dos dentes decíduos, mas também na estimulação da expansão óssea”, avalia.

Com Davi do Rego Barros, 6 anos, filho de Alexandra do Rego Barros, o problema ainda não foi resolvido. O garoto range os dentes durante a noite. A mãe conta que já o levou no pediatra por diversas vezes, ouvindo sempre que o distúrbio era causado por vermes. “Eu dava o vermífugo para ele, mas, mesmo assim, ele não melhorou”, lamenta. Filipe Silqueira Reis, do Instituto Brasiliense de Odontologia (IBO), conta que o distúrbio pode ser causado por questões emocionais, psicológicas, sistêmicas, deficiências nutricionais, estresse, problemas respiratórios, interferências dentais e até genética.

Acompanhamento
Para detectar o problema, Reis aconselha a vigília. “É possível observar durante a noite, quando a criança está dormindo, o barulho do ranger dos dentes. Nos casos mais avançados, percebe-se os desgastes nos dentes, além de relatos de dores de cabeça”, observa. Para João Palmiere, crianças que apresentam facetas de desgaste típicas do bruxismo raramente têm problemas de falta de espaço para os dentes permanentes. Para ele, alguns indivíduos bruxistas ou bruxômanos possuem uma arquitetura oclusal (forma como os dentes se organizam) que favorece o contato simultâneo dos dentes posteriores e anteriores. “Na criança, um arranjo semelhante ocorre durante a dentição mista. Quando fazemos as reconstruções dos dentes em adultos e propiciamos que o toque nos dentes anteriores desencostem os dentes posteriores, conseguimos reduzir os efeitos do bruxismo sem, no entanto, reduzir a atividade em si”, descreve.

Ele conta que, na clínica dele, foi desenvolvido uma técnica de reconstrução minimamente invasiva, usando somente resinas compostas, no qual tem obtido resultados animadores (plástica oclusal). “O tratamento para o bruxismo em crianças é a redução do estresse, algo cada vez mais difícil nos dias atuais”, acredita. Ele alerta que o uso de placas de mordida é altamente contraindicado para crianças, pois funcionariam como aparelhos que evitariam o crescimento e a expansão da maxila.

Fonte Zero Hora

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