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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Para apagar as cicatrizes do câncer de mama

Técnicas para a reconstrução imediata da mama após a doença evoluem, mas falta de especialistas faz espera ainda ser longa

Os muitos números do câncer de mama ainda não contam a quantidade de mulheres brasileiras que não apagam do corpo as marcas físicas da doença.

Nos dados oficiais que mapeiam um dos principais problemas de saúde do sexo feminino, estão os 50 mil casos novos, as 44 mil internações e as 13 mil mortes que ocorrem todos os anos. Não há estatísticas, entretanto, sobre as mulheres que, após serem submetidas às cirurgias de retirada da mama (mastectomia), não conseguem fazer a reconstrução imediata do seio.

Relembrar as seqüelas da doença toda vez que encaram o espelho ou cogitam uma relação sexual pode trazer impacto na autoestima destas pacientes e afetar recuperação do câncer, afirmam os especialistas. A boa notícia que poderia figurar neste cenário é que técnicas mais seguras foram desenvolvidas para garantir a reconstrução imediata. A falta de mão de obra, porém, ainda fomenta a demora.

Todas as idades
“As mulheres que fazem a reconstrução ficam mais confiantes no tratamento, colaboram mais, são mais pró-ativas e menos depressivas”, avalia o cirurgião plástico do Hospital A.C Camargo, Alexandre Katalinic. Ele levantou os aspectos psicológicos de 45 mulheres reconstruídas, entre 15 e 68 anos.

“A tendência é menosprezar a importância da reconstrução em uma mulher mais velha, mas no meu trabalho a influência positiva não variou com a idade”, completou o especialista.

Os dados sobre quantas têm acesso à reconstrução da mama pós-câncer só aparecem em pesquisas pontuais, como trabalhos da Universidade Estadual de Campinas e Fundação Oswaldo Cruz, e contabilizam uma minoria que sai da mesa de cirurgia já reconstruída (percentual que varia 7 e 14%).

Para as quase 80% que convivem com a mutilação por períodos que podem variar de cinco anos até a vida inteira. Os médicos dos principais serviços de câncer de mama do País pontuam que os entraves não são por falta de tecnologia, já que a reconstrução mamária é uma das técnicas que mais evolui desde a década de 70.

“Muitas vezes para o SUS (Sistema Único de Saúde) existe uma fila tão grande de pacientes de câncer de mama que a prioridade não é reconstruir”, afirmou o presidente da Sociedade Paulista de Cirurgia Plástica, Carlos Alberto Komatso, que coordena um projeto nacional para fazer mutirões deste tipo de cirurgia.

“Na conta dos gestores infelizmente eles só mensuram que no tempo de uma cirurgia para o câncer de mama com reconstrução imediata, é possível a retirada de três cânceres sem reconstrução.”

Silicone anatômico
Marcelo Sampaio, responsável pela área de reconstrução mamária do Núcleo de Mastologia do Hospital Sírio Libanês, afirma que a matemática sobre o câncer de mama não poderia ser tão simplista. “A reconstrução imediata ainda não virou prioridade porque os responsáveis não conseguem contabilizar que a mulher que segue mutilada, sofre mais de depressão, acaba produzindo menos no mercado de trabalho e todas estas informações ficam fora da planilha de custos e economias.”

Sampaio acrescenta que a distância entre as pacientes e este tipo de serviço faz com que as quase 50 mil mulheres que, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), todo ano entram para a estatística da doença, fiquem afastadas das evoluções do tratamento.

“Existem hoje silicones anatômicos que, diferentemente dos usados em próteses puramente estéticas, são desenvolvidos para fazer com que a mulher entre e saia do centro cirúrgico do mesmo jeito”, diz ao citar que essa meta inclui reconstruir mamas um pouco mais caídas, menores e em formato de gota.

O chefe do departamento de cirurgia plástica da Universidade de São Paulo (USP), Marcus Castro Ferreira, acrescenta que a reconstrução da mama é uma meta dos médicos que lidam com estas pacientes desde 1970. Segundo ele, até 1984 as técnicas eram muito arcaicas, os resultados insatisfatórios e os riscos de complicação superiores a 60% dos atendimentos.

A partir dos anos 90, começou a ser disseminada a possibilidade da reconstrução imediata e surgiu a especialidade “oncoplástica”. Naqueles tempos, no entanto, ainda predominava a ideia de que a reconstrução deveria esperar no mínimo cinco anos para ser feita. Nos últimos cinco anos, diz ele, os procedimentos evoluíram ainda mais, os riscos foram reduzidos a menos de 10% dos casos, mas ainda prevalece o conceito de que as mamas podem exibir as marcas do câncer.

“O principal motivo para a reconstrução ser tardia e, em alguns casos, nunca acontecer é a falta de médicos habilitados para isso”, afirma. “As técnicas necessárias são mais complexas do que as da cirurgia plástica comum e os centros especializados são concentrados no Sul e Sudeste do País. Deveria existir um em cada capital, no mínimo.”

Lei e prática
Desde 1999 a reconstrução da mama após o câncer é um direito garantido à mulher por uma lei federal. No entanto, não há previsão no texto de quando o procedimento deve ser feito – imediatamente, após cinco ou vinte anos. Os médicos explicam que nem sempre é possível fazê-lo de forma imediata, principalmente quando a paciente é diabética, tem pressão alta ou alguma outra doença associada. Os especialistas dizem, entretanto, que em caso de quadros clínicos estabilizados não há nenhum impedimento.

Onice Sabadin dos Santos, 68 anos, e Maria Cornélio dos Santos , de 52, acrescentam mais um motivo para a reconstrução ficar ainda mais tardia: o medo. As duas tiveram câncer de mama há dois anos, não fizeram a reconstrução imediata e agora têm receio de voltar para o centro cirúrgico.

Onice disfarça as diferenças anatômicas com próteses provisórias, tem receio de ir à praia e diz que demorou para acostumar com o novo reflexo no espelho.

“Minhas filhas não apoiaram a cirurgia de reconstrução e o tempo passou. Agora não quero mais.”

Já Maria Cornélio diz que vencer a doença foi tão importante que a parte estética ficou em segundo plano. “Sou feliz assim, não quero passar por hospital novamente.”

Opinião diferente sobre a importância da reconstrução imediata tem a artista plástica Cláudia Vasconcellos, 42 anos. Há um ano descobriu o câncer de mama, em uma semana operou, retirou o tumor e saiu do centro cirúrgico reconstruída.

“O diagnóstico desta doença dá muito medo, pavor mesmo. A importância da reconstrução é que este impacto na feminilidade é amenizado”, acredita ela. Por causa disso, a artista investe em projetos sociais que ajudem mulheres mastectomizadas a terem a mama reconstruída. O mais rápido possível.

Fonte IG

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