A implantação de prótese de silicone só é recomendada pelos médicos a adolescentes com desenvolvimento físico completo |
Médicos e psicóloga explicam como avaliar se o desejo é legítimo ou se ela provavelmente vai se arrepender depois da cirurgia
Algumas décadas atrás, entrar na igreja de véu e grinalda era o sonho de muitas garotas brasileiras, logo seguido por tornar-se independente dos pais. Hoje, outro sonho entra na lista das adolescentes: colocar silicone nos seios. De acordo com o cirurgião plástico e presidente da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) Sebastião Guerra, aproximadamente uma a cada dez mulheres que fazem o implante hoje em dia tem menos de 18 anos.
Ao se deparar com este desejo, muitos pais se sentem perdidos. Na dúvida se autorizam e apóiam a decisão ou se proíbem terminantemente a filha de passar pelo procedimento antes de pagar suas próprias contas e morar debaixo do próprio teto, o ideal é colocar todas as cartas na mesa e fazer as perguntas certas para decidir, junto à menina, se esta é mesmo a hora certa para a cirurgia. “Tentar perceber como a adolescente se posiciona, com o que conta para enfrentar dilemas existenciais e, especialmente, se ela está em paz com a identidade sexual são os primeiros passos”, diz a psicóloga e psicanalista Élide Camargo Signorelli, especialista em adolescência.
Além da observação, a conversa pode ser pontuada por outras questões, enumeradas abaixo.
1. O corpo dela já parou de mudar?
Elas ainda são adolescentes, mas, segundo o presidente da SBCP, muitas já têm o corpo bem desenvolvido e são, fisicamente, mulheres completas. Guerra conta já ter operado uma garota norueguesa de 13 anos. Bem desenvolvida, ela tinha quadris e 1,68 m de altura, mas quase nada de seios: “Ela estava complexada pelo problema”, diz o cirurgião.
Somente um médico especialista pode dizer se o desenvolvimento está completo e, mesmo assim, variações de peso ainda podem mudar a silhueta. De acordo com Bernardo Hochman, do Departamento de Cirurgia Plástica da Unifesp, por volta dos 15 anos de idade a mama já costuma estar adulta. “Mas o ideal mesmo é [fazer a cirurgia] a partir dos 18 anos, quando definitivamente a puberdade já ficou para trás”.
2. Alguma amiga dela colocou silicone recentemente?
Se a resposta for “sim”, os pais devem ficar atentos. Como em muitas situações na fase adolescente, ela pode estar tomando uma atitude apenas para acompanhar a turma ou seguir o exemplo de uma amiga a quem admira – e que, não por coincidência, tem peitos maiores que ela. A adolescência é palco de muitos conflitos internos, especialmente com a própria aparência. O cirurgião plástico Ednei José Silva, da Clínica Dermaplast, em São Paulo, lembra que às vezes a amiga que tem “mais peito” chama mais a atenção dos garotos do que as outras – e isso pode chatear a jovem. Para André Colaneri, cirurgião plástico e membro da SBCP, a adolescente precisa saber que continuará sendo ela mesma, independentemente do silicone. “Ela não pode se tornar uma paciente sempre insatisfeita. Precisa saber que ela não será outra pessoa; ela será ela mesma, melhorada”, diz.
3. Por que ela quer colocar silicone?
De acordo com a psicóloga e psicanalista Élide Camargo Signorelli, o silicone virou um grande atrativo por representar aquilo que estaria faltando à adolescente para ela se sentir merecedora de valor diante do olhar do outro. “O peito de silicone é um elemento concreto que acaba driblando, às vezes, o peito simbólico, ou seja, a coragem, a afirmação do próprio ser para o desafio da vida”, diz. A busca pelo silicone, segundo ela, certamente passa pela necessidade de fazer alguma reparação, seja interna ou externa – ou seja, em nível mental ou corporal.
Além disso, o padrão estético de hoje conta muitos pontos na decisão. Se uma adolescente quer colocar silicone para ficar parecida com a atriz e modelo Pamela Anderson, por exemplo, tem alguma coisa muito errada na história. Segundo Guerra, não é incomum as adolescentes levarem ao consultório uma fotografia de celebridade, mostrando o tamanho que elas querem para as próprias mamas. Na hora da decisão, é preciso saber a real condição dos seios da adolescente (se são de fato muito pequenos ou quase inexistentes), o grau de amadurecimento psíquico da jovem e a dimensão que ela atribui a esse desejo. “Há jovens que decidem pela cirurgia como um detalhe para corrigir uma falha ou uma insatisfação. Outras se tornam obcecadas pelo assunto por não encontrarem outro tipo de refúgio, seja ele espiritual, cultural, social ou afetivo”, diz Élide.
4. Ela é insegura demais?
De acordo com Sebastião Guerra, se uma adolescente é a única de seu grupo que ainda não tem as mamas desenvolvidas, embora já tenha o resto do corpo bem completo, não há problemas em colocar silicone, caso isso seja feito com prudência. No entanto, é preciso ter cautela com aquela garota que quer colocar silicone por achar que não consegue ter um namorado, por exemplo. “Ela acha que tem um defeito e coloca a culpa de tudo que acontece neste defeito”, diz Sebastião. Nestes casos, colocar silicone não é a solução do problema.
5. Quantos anos ela tem?
Embora hoje em dia as meninas estejam crescendo mais rapidamente do que antes, pode ser fácil mudar de ideia depois da cirurgia já feita. Sebastião Guerra lembra que, em alguns casos, a mama pode crescer tardiamente, por volta dos 18 anos, e deixar as mamas com silicone maiores do que o imaginado.
Ela sabe o que a operação envolve?
A adolescente fascinada pela ideia do silicone vê apenas o resultado das cirurgias nas modelos de revista ou entre as colegas. De acordo com Ednei José Silva, ela precisa entender todo o processo. “Ela deve conhecer todos os benefícios e desvantagens também, como os incômodos do pós-operatório e a cicatriz”, diz.
7. A mãe dela colocou silicone recentemente?
Segundo Sebastião Guerra, hoje em dia é comum as meninas quererem colocar silicone depois das mães passarem pela cirurgia. Bernardo Hochman concorda. “Toda filha se espelha na mãe, e é algo até saudável”, diz. Mas se o espelho se tornar competição, Hochman indica o acompanhamento profissional de um psiquiatra.
Se você e sua filha passaram por todas estas perguntas e decidiram que a colocação das próteses de silicone é um desejo legítimo, o próximo passo é a consulta com o cirurgião. É no consultório que a adolescente pode se despir de qualquer vaidade e ter uma conversa bem esclarecedora com o médico. Só o profissional pode dar o aval final. Sebastião Guerra, presidente da SBCP, considera a participação dos pais nessa hora essencial – como em todas as outras partes do caminho.
Fonte IG
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