Enquanto as obras para a construção do estádio Itaquerão seguem em pleno vapor para a Copa do Mundo de 2014, São Paulo começa a preparar também sua estrutura de saúde para receber jogadores e torcedores e já iniciou a capacitação de profissionais para atendimento de emergências, sobretudo às relacionadas ao coração.
Com base em estudos realizados em Mundiais anteriores, a Secretaria de Estado da Saúde prevê que o fato de a sede dos jogos ser no País, os torcedores brasileiros vão se emocionar ainda mais. “Existe uma expectativa de que situações como dor no peito, pressão alta e até enfarte sejam mais numerosas em dias de jogo” diz o médico da secretaria, Benedito Acácio Borges Neto. “As pessoas ficam mais emotivas e os corações ficam mais vulneráveis.”
No ano passado, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) realizou um estudo para analisar os atendimentos feitos em nove hospitais brasileiros durante a Copa do Mundo da África do Sul. Os dados coletados pelo Estudo Copa – O coração do torcedor ainda estão sendo trabalhados para uma futura publicação, mas de acordo com o presidente do Grupo de Estudos em Cardiologia do Esporte da SBC Nabil Ghorayeb, um dos coordenadores do levantamento, houve um aumento bastante expressivo de eventos cardiovasculares no período dos jogos, que compreendiam desde anginas até arritmias e pressão alta.
“Chegamos à conclusão de que nas partidas mais importantes houve realmente uma tendência maior de esses problemas ocorrerem. Principalmente quando o Brasil perdeu da Holanda”, diz o especialista, acrescentando que o nervosismo e a pressão para que o Brasil vença na própria casa atingirão os brasileiros de forma ainda mais intensa em 2014. Segundo Ghorayeb, outro estudo, realizado na Copa do Mundo de 2006 pela Universidade de Munique, constatou que o risco cardiovascular entre os alemães triplicou durante o evento esportivo.
O treinamento para os profissionais da saúde de São Paulo inclui orientações para atuação em estádios, arquibancadas e dentro de hospitais. No dia 14 deste mês, por exemplo, a Federação Internacional de Futebol (Fifa), promoveu um curso prático para 45 médicos do Hospital das Clínicas (leia mais abaixo).
Profissionais de outros hospitais estão recebendo aulas de aprimoramento de interpretação e traçado de eletrocardiograma. Também serão ampliadas as redes de tele-eletrocardiograma, em que os exames realizados em ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) são transmitidos para centros de referência em cardiologia. Em poucos minutos, especialistas interpretam o exame e enviam o resultado de volta para os socorristas.
A ampliação do serviço de emergência é essencial, de acordo com Ghorayeb. “O governo também vai ter de capacitar médicos de plantão para atender parada cardíaca e enfarte agudo do miocárdio”, diz ele. “O que temos visto são recém formados trabalhando sem ter o curso do suporte básico da vida.”
O cardiologista acrescenta que outro risco que aumenta durante os jogos são os de acidente vascular cerebral (AVC) e lembra o caso recente envolvendo o treinador do Vasco, Ricardo Gomes. No dia 28 de agosto, durante o clássico entre Vasco e Flamengo, Gomes sofreu um AVC hemorrágico e teve de passar por uma cirurgia.
Fifa e Hospital das Clínicas treinam 45 profissionais
Quarenta e cinco médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo passaram, no dia 14 de setembro, pelo primeiro ‘treino’ da Federação Internacional de Futebol (Fifa) para trabalhar dentro dos estádios na Copa de 2014. Por enquanto, o Instituto de Ortopedia e Traumatologia do hospital é o único centro credenciado pela Fifa para a Copa.
A aula prática foi realizada no Parque São Jorge (sede social do Corinthians), na zona leste da cidade, e ministrada pelo médico sul-africano Efraim Kramer, o mesmo que comandou o departamento médico de Johannesburgo, no Mundial do ano passado.
Orientados para lidar com situações de emergências cardíacas em campo e nas arquibancadas, o grupo de profissionais do Hospital das Clínicas também recebeu instruções sobre os equipamentos médicos necessários em cada estádio e sobre como deve agir em caso de tumultos envolvendo torcedores.
“Essa parceria entre o Hospital das Clínicas e a Fifa é fundamental para garantirmos o melhor atendimento possível nos nossos estádios durante a Copa de 2014, seja para os jogadores, dentro do campo, seja para os torcedores na arquibancada”, afirma o médico do HC André Pedrinelli, um dos responsáveis pela coordenação do curso para médicos.
Fonte Estadão
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