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sexta-feira, 20 de julho de 2012

USP avalia qualidade de vida de jovens portadores de HIV

Estudo recomenda que o tratamento não seja apenas com antirretrovirais, mas que leve em conta a qualidade de vida, preocupando-se de forma geral com alimentação, atividade física, perda auditiva, etc

A perda auditiva e a otite média supurada – uma inflamação no ouvido médio que pode ser causada pelo uso de um antirretroviral – têm alta ocorrência entre as crianças e adolescentes portadores de HIV-Aids, atingindo pelo menos 36% dos indivíduos avaliados, de acordo com um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP).

Outra pesquisa realizada na USP mostra que os adolescentes portadores de HIV-Aids, embora necessitem, a princípio, de cuidados redobrados com a alimentação, apresentam uma dieta semelhante à dos não-portadores – com alto consumo de açúcar, gordura saturada e sódio e consumo insuficiente de cereais integrais e frutas.

Os dois estudos fizeram parte do projeto Qualidade de vida e sua relação com o curso de vida de crianças e adolescentes portadores de HIV-Aids, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular e coordenado pela professora Maria do Rosário Latorre, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Os estudos sobre a perda auditiva e sobre a dieta corresponderam, respectivamente, à tese de doutorado de Aline Medeiros da Silva e à dissertação de mestrado de Luana Tanaka. Ambas foram orientadas por Latorre e defendidas em 2011 na FSP-USP, com bolsas da FAPESP. Além dessas pesquisas, o projeto gerou mais um doutorado e dois mestrados ainda em curso.

De acordo com Latorre, os estudos de coorte foram realizados com crianças potadoras de HIV-Aids atendidas no Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

“O projeto teve o objetivo de analisar a qualidade de vida de crianças e adolescentes portadores de HIV-Aids em relação à saúde, adesão ao uso de medicamentos, presença de lipodistrofia, perda auditiva e sobrevida”, disse Latorre à Agência FAPESP.

Silva, que é fonoaudióloga, avaliou 106 indivíduos portadores de HIV-Aids com idades de 5 a 19 anos, atendidas no Instituto da Criança, com o objetivo de estimar a prevalência de perda auditiva entre elas, identificando os fatores associados a essa ocorrência. Além do doutorado, Silva teve bolsas da FAPESP também na Iniciação Científica e no Mestrado.

Dois critérios foram usados para identificar a perda auditiva. O BIAP, uma classificação internacional que tira uma média dos resultados a partir de uma audiometria, é amplamente usado para diagnósticos de perda auditiva. O ASHA é um critério mais rigoroso, que classifica alterações muito pequenas como perda auditiva.

“Mesmo na classificação BIAP, essas crianças e adolescentes apresentaram uma prevalência muito alta de perda auditiva: 35,8%. Pela ASHA, a prevalência chegou a 59,4%. Estudos de base populacional feitos no Brasil mostram que, entre as crianças sem HIV-Aids, a prevalência de perda auditiva pode ir de 2% a 20%, dependendo do critério”, disse Silva.

A otite média supurada, segundo Silva, apareceu como um fator de risco para a perda auditiva. Foi detectada também uma correlação entre a perda auditiva e o uso do antirretroviral Lamivudina.

“As crianças que tiveram otite média supurada tiveram uma prevalência maior de perda auditiva, assim como as que utilizaram a Lamivudina. Tanto os indivíduos que apresentaram a inflamação, como os que utilizaram o antirretroviral, apresentaram uma chance seis vezes maior de apresentar perda auditiva”, afirmou.

A partir das conclusões do estudo, Silva recomenda que as crianças com HIV-Aids tenham acompanhamento em longo prazo e que sejam avaliadas periodicamente em relação à perda auditiva.

“Essas crianças têm o sistema imunológico muito debilitado e necessitam de um cuidado especial. O ideal seria que, no serviço público, essas crianças fossem valiadas a cada seis meses com uma audiometria, a fim de acompanhar a evolução do quadro antes que a perda auditiva se estabeleça”, declarou.

No estudo sobre a dieta, Tanaka utilizou os dados referentes a entrevistas com 88 indivíduos de 10 a 19 anos, portadores de HIV-Aids, atendidos pelo Instituto da Criança. A metodologia consistiu em aplicar uma adaptação brasileira do Índice de Qualidade da Dieta, que avalia consumo de itens como frutas, vegetais, óleos, cereais, cereais integrais, gorduras saturadas, sódio e outros.

“Alguns valores chamaram a atenção. Verificamos que 72% dos adolescentes não consomem cerais integrais. O consumo aumentado de sódio ocorre em 86% dos entrevistados. Também verificamos médias baixas para consumo de frutas e calorias provenientes de gorduras sólidas”, disse Tanaka.

Segundo Tanaka, os valores apresentados indicam uma dieta de baixa qualidade que, no entanto, não difere da dieta típica dos adolescentes brasileiros não portadores do HIV-Aids. De acordo com ela, o estudo indica que há necessidade de uma melhora da dieta entre os jovens infectados.

“A literatura internacional mostra que a terapia antirretroviral pode contribuir para o aumento de gordura na região abdominal e pode estar associada a valores aumentados de colesterol ruim. Por isso, muitos desses adolescentes estão submetidos a riscos maiores que a população não infectada quando se alimentam mal. Entretanto, a forma como eles se alimentam é semelhante”, declarou.

O estudo, segundo Tanaka, recomenda que o tratamento dos jovens portadores de HIV-Aids não seja focado apenas no rigor da terapia com antirretrovirais, mas que leve em conta a qualidade de vida dos pacientes, preocupando-se de forma geral com a alimentação, a atividade física, a perda auditiva e o surgimento de doenças oportunistas.

Fonte SaudeWeb

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