Você sabe diferenciar os tipos de TPM? Especialista tira dúvidas e dá dicas sobre tratamentos e atividades que ajudam a melhorar os sintomas.
Quando o assunto é TPM – síndrome disfórica, ou síndrome pré-mentrual – não há mulher que não tenha sentido pelo menos um dos quase cem sintomas relacionados à condição. Entre estes sinais estão irritabilidade, ansiedade, labilidade emocional, sensação de perda de controle ou estar no limite, tensão e humor deprimido. Alterações no sono, fadiga, aumento do apetite ou vontade de comer doces, salgados ou chocolate, dificuldade de concentração e sensação de inchaço também fazem parte da lista.
A TPM é, portanto, a presença cíclica de sintomas físicos e psicológicos na segunda fase do ciclo menstrual, mas que desaparecem com a menstruação. “Para definição de TPM, os critérios mais usados são os adotados pelo Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (American College of Obstetrics and Gynecology – ACOG). Esses critérios foram desenvolvidos pela Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) e o Instituto Nacional de Saúde Mental (National Institute of Mental Health – NIMH)”, explica a ginecologista e obstetra Patrícia de Rossi, da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp).
Os critérios diagnósticos são:
· Um ou mais sintomas afetivos (depressão, explosões de raiva, irritabilidade, ansiedade, confusão, isolamento social) e somáticos (sensibilidade mamária, sensação de distensão abdominal, cefaleia, edema de extremidades) durante os cinco dias antes da menstruação nos últimos três ciclos menstruais;
· Os sintomas devem melhorar até o quarto dia de menstruação e não acontecer até o 13º dia do ciclo;
· Os sintomas devem estar presentes na ausência de terapia farmacológica, ingestão hormonal, uso de álcool ou drogas;
· Os sintomas ocorrem em dois ciclos avaliados prospectivamente;
· Os sintomas causam disfunção no desempenho social ou econômico.
Transtorno disfórico pré-menstrual
Mas, quando os sintomas mais significativos são os psicológicos causando grande impacto no dia a dia, pode se tratar de transtorno disfórico pré-menstrual, uma forma mais severa da TPM que acomete de 3% a 5% das mulheres.
“Os critérios mais importantes para diagnóstico não são os sintomas predominantes, mas o padrão cíclico, a gravidade dos sintomas e o quanto eles afetam a vida diária”, diz a ginecologista.
Patrícia explica que, assim como na TPM, não existe um teste objetivo para diagnóstico da TDPM. A identificação é baseada no histórico médico e psiquiátrico completo da paciente. A Associação Americana de Psiquiatria estabeleceu a definição e critérios para o diagnóstico do “transtorno disfórico da fase lútea tardia”, que foram utilizados posteriormente para a definição de TDPM no DSM-IV-R (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais).
“Uma anamnese detalhada é necessária para estabelecer o diagnostico e o diferencial com doenças mentais (principalmente transtornos do humor e ansiedade), anemia e doenças tireoidianas.”
Ela lembra ainda que é preciso verificar se estes sintomas não são, na realidade, a piora de sintomas de problemas físicos ou relacionados à saúde mental que a mulher já tem, como enxaqueca, síndrome do pânico, depressão, transtorno bipolar do humor. “Se não houver resolução dos sintomas depois do começo da menstruação, a hipótese de TPM nessas pacientes está afastada”, diz.
Recentemente se popularizou um conceito de quatro tipos de TPM, que seriam combatidos com mudanças, principalmente na alimentação, e prática de exercícios. Mas Patrícia explica que esta classificação por tipos não é consenso. “Muito pelo contrário. Este conceito surgiu na década de 1980, quando o pesquisador Guy Abraham estudou perfis nutricionais como causa dos sintomas. Li relatos associando essa classificação à Organização Mundial da Saúde, mas não encontrei as referências originais. Vários suplementos nutricionais foram estudados para uso na TPM, porém não há resultados consistentes”, explica Patrícia.
A ginecologista diz que, de forma geral, o tratamento inicial da TPM deve incluir medidas não farmacológicas. A orientação da paciente e seus familiares ajuda a entender a síndrome e os cuidados que devem ser tomados para sua melhora. “Dentre as orientações iniciais, deve ser ressaltada a redução do estresse, repouso adequado e atividade física. Por exemplo, exercícios aeróbicos podem melhorar o humor e a retenção hídrica.”
Alimentação
Orientações alimentares podem melhorar vários sintomas da TPM. “Diminuição do consumo de cafeína reduz a irritabilidade e a insônia; menor ingestão de sal diminui o inchaço, a mastalgia e o ganho de peso”, diz Patrícia de Rossi.
Refeições frequentes com carboidratos complexos minimizam os distúrbios alimentares e a ocorrência de hipoglicemia. Outras orientações incluem moderação na ingestão de açúcar refinado e aumento do consumo de proteínas e vitaminas.
Interrupção da menstruação
Em casos mais extremos, algumas mulheres optam pela interrupção da menstruação, como forma de se verem livres dos sintomas da TPM. Esta pode ser uma opção também para quem sofre de TDPM.
Segundo Patrícia de Rossi, a melhor forma de interromper a menstruação é com uso contínuo (sem intervalo) de contraceptivos orais combinados. “Para isso, é necessário que todos os comprimidos tenham a mesma fórmula e dose. Obviamente, mulheres com contraindicações aos hormônios da pílula combinada não podem utilizar esse esquema”. Fazem parte deste grupo as mulheres com enxaqueca com aura (um sintoma específico, geralmente visual, que antecede a crise), antecedente de trombose, câncer de mama e fumantes com mais de 35 anos.
Outro método usado para interromper ou reduzir a menstruação é o dispositivo intrauterino de levonorgestrel. Mas, segundo a ginecologista, este método não apresenta a eficácia equivalente e não é indicado para o tratamento específico da TPM.
“Há um anticoncepcional oral que mostrou em estudos ser eficaz para alívio dos sintomas da TPM e TDPM (Yaz®, Bayer), mas uma revisão tipo metanálise da Cochrane Review não foi capaz de mostrar diferenças significativas entre essa pílula e outras formulações. Na prática, é uma opção válida”, indica.
Uso contínuo não afeta fertilidade
O uso de anticoncepcional oral combinado de forma contínua, afirma Patrícia, não gera danos para a saúde. “A composição da pílula, com os dois principais hormônios produzidos pelos ovários (estrogênio e progestogênio), tem uma atuação equilibrada no endométrio que se sustenta enquanto a mulher tomar a pílula.”
Ao interromper o uso, há uma brusca redução dos níveis hormonais que “sustentam” o endométrio e ocorre um sangramento semelhante à menstruação. “Portanto, o uso contínuo não produz ‘sangue’ demais ou outras ideias estranhas como ‘ir para a cabeça’”, diz.
Da mesma forma, o uso contínuo de contraceptivos hormonais combinados não afeta a fertilidade, da mesma forma como as mulheres que tomam a pílula irregularmente conseguem engravidar quando interrompem o uso. “Na verdade, as pílulas bloqueiam o estímulo de hormônios da hipófise e “repousam” os ovários. Creio que as pessoas acabam confundindo, porque algumas mulheres param de tomar pílula e imaginam engravidar automaticamente, fato que não ocorre nem mesmo naquelas que não usam nenhum método e que obviamente depende da idade da mulher”, conclui.
Fonte O que eu tenho
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