Glioblastoma |
Resultados do estudo têm potencial para auxiliar no desenvolvimento de novas terapias contra o glioblastoma
Pesquisa conduzida pela Universidade de São Paulo (USP) revelou uma proteína responsável por interferir na formação do tumor cerebral. A influência da nucleofosmina (NPM1) no desenvolvimento de células de glioblastoma - um tipo de tumor que atinge o cérebro humano - é comprovada em estudo coordenado pelo professor José César Rosa, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP). Os resultados poderão contribuir para o desenvolvimento de terapias contra o glioblastoma.
A descrição da pesquisa será publicada numa edição especial da revista científica européia Proteomics, intitulada Proteomics in Brazil, reunindo artigos com estudos sobre proteínas realizados por cientistas brasileiros.
O ponto de partida do estudo foi um artigo publicado pelo grupo de pesquisa em 2010 (também na revista Proteomics), apontando que algumas proteínas, entre elas, a NPM1, estavam correlacionadas com a progressão tumoral em gliomas (tumores nas células gliais do sistema nervoso). " A nucleofosmina é uma proteína multifuncional atuando em remodelagem da cromatina durante a divisão celular, na proliferação celular e interagindo com inúmeras proteínas. Está alterada em vários tipos de tumores sólidos" , aponta César Rosa, ressaltando que " a proteína NPM1 por si só não induz morte celular, mas sensibiliza as células à morte celular em combinação com uma droga antineoplásica, a temozolamida, já utilizada para o tratamento de gliomas" .
Os pesquisadores procuraram vias de sinalização e proteínas afetadas pelo silenciamento do gene para a NPM1 utilizando uma estratégia proteômica de marcação por isóbaros, que consiste na quantificação de proteínas em múltiplas mostras, com base na diluição isotópica (a partir de substâncias químicas com mesmo número atômico). " Nos experimentos, o gene da nucleofosmina foi silenciado, ou seja, teve sua atividade interrompida e não houve transmissão de informações necessárias para produzir a proteína" , conta o professor. " Para isso, foi utilizada uma técnica de transfecção de células utilizando RNA de transferência. Esse RNA é formado por sequências de nucleotídeos específicos que interagem com o RNA mensageiro da nucleofosmina, impedindo a tradução da informação gênica necessária para se produzir a proteína" .
Em seguida, células com o gene da nucleofosmina silenciado e outras com o gene não silenciado foram analisadas por uma estratégia proteômica combinando hidrólise enzimática por tripsina e identificação de proteínas para por meio de cromatografia líquida acoplada à espectometria de massas. Os métodos foram aplicados para verificar a quantidade de nucleofosmina existente nos dois grupos de células. " Ensaios funcionais mediram a formação de colônias, características de células neoplásicas (com alterações que provocam crescimento exagerado) como as do glioblastoma, indicando a presença da proteína" , diz Cesar Rosa. " Também se mediu o aumento da hipoploidia (irregularidades nos cromossomos) após o silenciamento do gene da nucleofosmina, o que indica a quantidade de células que apresentam morte celular, causada indiretamente pela ausência da proteína" .
Resistência
Todos os experimentos foram realizados in vitro, utilizando linhagens celulares de glioblastoma, U87MG e A172. A expressão de dois genes, NPM1 e GRP78, foi sondada em amostras tumorais de pacientes através de técnicas de biologia molecular e correlacionada com seu tempo de sobrevida. " O principal efeito observado pelo sileciamento do gene da NPM1 foi uma diminuição na expressão de proteínas relacionadas ao estresse celular, principalmente a proteína GRP78" , ressalta o professor. " Muitas dessas proteínas estão envolvidas em resistência a drogas, causa comum de falha no tratamento de neoplasias" .
O glioblastoma multiforme é o grau mais agressivo dos astrocitomas (câncer de cérebro) e ainda é considerado incurável, mesmo após tratamento cirúrgico, radioterápico e quimioterápico, a sobrevida da maioria dos pacientes é cerca de 12 meses. " A pesquisa coloca a nucleofosmina como possível alvo terapêutico, mas muito ainda precisaria ser investigado, principalmente os mecanismos que levam as células neoplásicas à resistência a morte celular, uma marca fundamental de todo os tipos de cânceres, devido aos desequilíbrios nas atividades de oncogenes e genes supressores de tumores" , aponta César Rosa.
Os experimentos tiveram a participação dos grupos de pesquisa dos professores Suely Kazue Nagahashi Marie e Roger Chammas, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP.) A estrutura laboratorial, utilizada também em outras pesquisas, foi montada com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), além do suporte institucional da FMUSP, FMRP e Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto.
O artigo sobre a pesquisa," Quantitative proteomic analysis and functional studies reveal that nucleophosmin is envolved in cell death in glioblastoma cell line transfected with siRNA" será publicado em um número especial da revista científica europeia Proteomics, denominado Proteomics in Brazil. " Essa publicação representa um aumento da visibilidade da pesquisa na área proteômica realizada no Brasil, por tratar-se de uma revista de difusão internacional com um bom fator de impacto" , ressalta o professor da FMRP. A edição da revista, a primeira a ser editada na área de proteômica, é coordenada por Daniel Martins-de-Souza, pesquisador do Max Planck Institute of Psychiatry e da Ludwig-Maximilians-Universität, em Munique (Alemanha).
A publicação conta com 16 artigos aceitos de pesquisadores brasileiros, três deles de grupos da USP. "É um painel diversificado, que inclui desde estudos sobre biomarcadores para câncer até analises de proteínas presentes no trato disgestivo de pragas agrícolas. A bioinformática, com brasileiros que tiveram seus doutorados feitos no exterior, está também representada" , conta Martins-de-Souza. " O investimento em ciência no Brasil está gerando frutos bastante prósperos e chamando a atenção internacional" . A versão impressa da revista deverá ser lançada em outubro.
Fonte isaude.net
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