Depois de décadas de desinteresse pelo tema, novos estudos começam apontar a possibilidade de reaparecimento da malária na Europa, especialmente no sul.
O mosquito transmissor da doença ainda existe em vários países, migrações trazem portadores do parasita no sangue e o aquecimento global expande a área de transmissão da doença.
Já há suspeitas de casos na Grécia, Espanha, França e Itália, e até mesmo mais ao norte, na Alemanha. Estudos sobre o possível ressurgimento da doença foram feitos recentemente por pesquisadores na Espanha, Itália, França, Alemanha e Portugal.
"O sul da Europa está entre as regiões de maior risco para malária", dizem os autores de um estudo espanhol, coordenado por Maria Dolores Bargues, da Universidade de Valência, publicado na revista "Malaria Journal".
Essa região é a mais próxima da África, o continente mais afetado pela doença, e tem altos índices de imigração vinda de áreas endêmicas. Bargues concluiu que características do clima na região espanhola do rio Ebro favorecem a transmissão.
A malária é hoje tão conhecida como uma "doença tropical" que é fácil esquecer como ela era comum há apenas cinquenta anos. O último surto da doença na Itália foi registrado em 1962. Só em 1970 o país foi considerado livre da doença pela Organização Mundial de Saúde.
De acordo com um estudo da equipe de Roberto Romi, da Instituto Superior de Saúde, de Roma, o potencial malariogênico é influenciado, dentre outros fatores, pelo número de portadores do parasita no período do ano em que a transmissão é viável.
Romi e colegas concluíram que a receptividade é particularmente alta no centro-sul italiano em áreas rurais pela presença em alta densidade de mosquitos vetores suscetível a infecção pelo parasita.
Não haveria consequências sérias em termos de saúde pública. "Mas o impacto na imagem da Itália poderia ser sério a nível internacional", dizem os pesquisadores, "que sem dúvida afetaria a indústria do turismo".
Hoje a malária está presente em mais de cem países e cerca de 40% da população mundial vive em área de risco de contrair a doença. Mas esse número pode aumentar.
"Com a devida combinação de circunstâncias, a malária pode retornar para EUA e Europa Ocidental", diz o historiador de medicina americano Frank Snowden.
Guerra biológica
A malária foi usada como arma biológica na Segunda Guerra Mundial no "único caso de guerra biológica na Europa no século 20", diz o historiador Frank Snowden, que tem um estudo sobre o tema.
A região do Lácio, ao sul de Roma, tinha pântanos que facilitavam a transmissão da doença. Esses pântanos foram drenados e habitados no regime fascista de Mussolini.
Quando a Itália se rendeu aos aliados em 1943, dois especialistas alemães em malária, Erich Martini e Ernst Rodenwldt, planejaram a reintrodução da malária na área.
O exército alemão destruiu as bombas que impediam o alagamento e os mosquitos transmissores voltaram.
Os dois médicos ainda confiscaram o estoque italiano de quinino (medicamento contra a doença).Os casos passaram de 1.217 em 1943 para 54.929 em 1944, em um total de só 245.000 pessoas.
Fonte Folhaonline
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