Ela nasceu com fibrose cística, doença hereditária com alto risco de morte. Aos 30 anos, fez um transplante bilateral de pulmão nos EUA.
Há dez meses, aos 44 anos, a economista paulistana Nancy (o nome é fictício) teve gêmeos por meio de barriga de aluguel nos EUA. O tratamento custou US$ 80 mil (cerca de R$ 161 mil). A seguir, trechos do depoimento exclusivo à Folha.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
"Nasci com fibrose cística, assim como meu único irmão, que morreu aos dez anos. Os médicos diziam que meu prazo de vida era de chegar aos 15, 20 anos, no máximo.
Meu tratamento todo foi nos Estados Unidos, em Saint Louis (Missouri). Passava minhas férias escolares internada lá, tomando antibióticos, cortisona. Meus colegas não sabiam da doença e me achavam a pessoa mais sortuda do mundo por viajar sempre.
Chegou uma hora em que a situação piorou muito, usava oxigênio o tempo todo e entrei na fila do transplante de lá (EUA). Em 1998, num domingo de Páscoa, recebi o meu pulmão. Tinha 30 anos.
Quando pude respirar de novo, foi como renascer. Até então não tinha pensado em ser mãe. Achei que não pudesse ter filhos. Meus médicos nos EUA diziam que a gravidez seria um risco porque poderia haver rejeição.
Foi aí que meu médico daqui sugeriu a barriga de aluguel nos EUA. Ele até disse que, na minha condição, poderia conseguir uma autorização no CRM e tentar encontrar uma barriga no Brasil.
Mas aí eu pensei: 'Vou pegar uma pessoa que nem sei quem é, sem garantia nenhuma? Se é para fazer, vamos fazer num lugar 100% seguro'.
Entrei em contato com uma agência lá, que tem parceria com a clínica daqui, e depois de várias conversas escolhi a mulher que viria a ser a minha barriga de aluguel.
A agência tem assistentes que acompanham a mulher durante os nove meses de gravidez para ver ser ela faz o pré-natal, os ultra-sons, se foi à nutricionista, à psicóloga.
Em dezembro de 2010, a minha barriga veio para o Brasil. Foram transferidos três embriões. Mas ela não engravidou. Dois meses depois, ela retornou, fez a transferência de mais três embriões. Dessa vez deu certo. Eram gêmeos. Na gravidez, passamos alguns percalços, ela teve sangramentos. No quarto mês de gestação, voltei aos EUA. Foi muito emocionante ver meus filhos se mexendo no ultra-som.
Quando ela estava na 32ª semana, me mudei para lá para acompanhar o fim da gravidez. Com 36 semanas, ela começou a apresentar pré-eclâmpsia e foi internada. Uma semana depois, entrou em trabalho de parto. Meus filhos nasceram enormes, com 2,7 kg e 3,3 kg.
Saímos do hospital, toda a papelada para o registro deles já estava pronta.
A vida inteira convivi com essa coisa de morrer rápido. Sei que o transplante não é eterno, tem prazo de validade. Mas não penso nisso. Vou continuar lutando. Agora tenho duas figurinhas lindas para tomar conta."
Fonte Folhaonline
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