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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Reanimação cardíaca prolongada traz benefícios, mostra estudo

 

Quando um paciente hospitalar sofre uma parada cardíaca, uma das questões mais difíceis que a equipe médica enfrenta é por quanto tempo continuar fazendo a reanimação cardiorrespiratória. Um novo estudo que envolveu centenas de hospitais sugere que muitos médicos podem estar desistindo cedo demais.

O estudo constatou que os pacientes têm mais chances de sobrevivência em hospitais que persistem com a reanimação por nove minutos mais, em média, que os hospitais onde as manobras são interrompidas antes.

Não existem diretrizes claras, baseadas em provas, sobre o tempo pelo qual devem ser feitas as manobras de reanimação cardiorrespiratória.

As descobertas contradizem o pensamento médico convencional, segundo o qual uma reanimação prolongada em pacientes hospitalizados geralmente é inútil, porque, quando os pacientes sobrevivem, frequentemente sofrem danos neurológicos permanentes. Os pesquisadores descobriram, pelo contrário, que os pacientes que sobreviveram à reanimação cardíaca prolongada e tiveram alta hospitalar se saíram tão bem quanto os que foram reanimados em pouco tempo.

Publicado online na terça-feira na revista médica "Lancet", o estudo é um dos maiores de seu tipo e um dos primeiros a vincular a duração dos esforços de reanimação aos índices de sobrevivência. De acordo com vários especialistas, os resultados devem levar hospitais a rever suas práticas e considerar a possibilidade de agir de outro modo se as manobras de reanimação não tiverem surtido efeito.

Entre um e cinco de cada mil pacientes hospitalizados sofre uma parada cardíaca. Geralmente esses pacientes são mais velhos e estão mais doentes que os pacientes não hospitalizados que sofrem paradas cardíacas, e seus resultados geralmente são fracos: menos de 20% sobrevivem para receber alta hospitalar.

"Um dos desafios que enfrentamos durante uma parada cardíaca sofrida no hospital é determinar por quanto tempo continuar com a reanimação cardiorrespiratória, se o paciente permanecer sem reação", disse Zachary D. Goldberger, autor principal do novo estudo, que foi financiado pela Associação Americana de Hospitais, a Fundação Robert Wood Johnson Foundation e os Institutos Nacionais de Saúde. "Esta é uma área para a qual não existem diretrizes."

Goldberger e seus colegas colheram dados do maior registro mundial de paradas cardíacas sofridas em hospitais. O registro é mantido pela Associação Americana do Coração; identifica 64.339 pacientes que sofreram paradas cardíacas em 435 hospitais dos Estados Unidos entre 2000 e 2008.

Os pesquisadores examinaram pacientes hospitalares adultos em leitos comuns e em UTIs, excluindo os que estavam em atendimento de emergência e os que sofreram paradas cardíacas durante procedimentos médicos. Calcularam a duração média das manobras de reanimação feitas nos pacientes que não sobreviveram, e não nos sobreviventes, para mensurar a tendência dos hospitais de fazer esforços mais prolongados de reanimação.

Uma das primeiras surpresas foi a variação importante na duração das manobras de reanimação cardiorrespiratória nos diferentes hospitais: entre uma média de 16 minutos nos hospitais que passavam menos tempo tentando reanimar pacientes até a média de 25 minutos naqueles que passavam mais tempo. É uma diferença de mais de 50%.

O autor sênior do estudo, Brahmajee Nallamothu, professor da Universidade do Michigan e cardiologista no Centro Médico Ann Arbor VA, disse que inicialmente os pesquisadores pensaram que descobririam que alguns pacientes estavam sendo sujeitados a manobras prolongadas de reanimação que não teriam resultado.

Mas o que descobriram foi que aqueles minutos a mais fizeram uma diferença positiva. Os pacientes nos hospitais em que as manobras de reanimação cardiorrespiratória costumam ser feitas por mais tempo tiveram 12% mais chances de sobreviver e ter alta do hospital que os pacientes submetidos a menos tempo de reanimação.

Nallamothu e seus colegas constataram que a função neurológica foi semelhante, independentemente da duração do procedimento.

Os pacientes que tiveram o maior benefício adicional da reanimação cardíaca prolongada foram aqueles cujas condições não reagem à desfibrilação, ou aplicação de uma corrente elétrica. O tempo adicional gasto com reanimação prolongada pode dar aos médicos tempo de analisar a situação e tentar intervenções diferentes, disse Nallamothu.

"Usando a reanimação cardíaca, é possível manter o sangue e o oxigênio circulando, às vezes por bem mais de 30 minutos, e ainda ter pacientes que sobrevivem e, o que é mais importante, têm sobrevivência neurológica boa", disse Jerry P. Nolan, consultor em anestesia e medicina de urgência no Royal United Hospital NHS Trust, em Bath, na Inglaterra, que redigiu um comentário acompanhando o artigo.

Stephen J. Green, presidente associado de cardiologia no Sistema de Saúde Judaico North Shore-Long Island, que não participou do estudo, comentou que, à luz da nova pesquisa, os hospitais podem precisar modificar suas práticas.

Mas ele e outros especialistas recearam que as novas descobertas possam levar ao prolongamento dos esforços para reanimar pacientes para os quais a reanimação cardiorrespiratória seria inapropriada, porque se encontram no final da vida ou por outras razões.

"Não existe um número mágico", disse Green. "Se você está fazendo as manobras há 10 ou 15 minutos, terá que continuar, mas, continuando mais e mais, você chega ao ponto em que o retorno será muito pequeno."

Os autores do estudo reconhecem que a pesquisa não indica que a reanimação prolongada seja melhor para todos os pacientes.

"A última coisa que queremos é que a mensagem que todos levem para casa é que todo o mundo deve ser submetido à reanimação prolongada", falou Goldberger. "Não podemos identificar uma duração ótima das manobras para todos os pacientes em hospitais."

Tradução de CLARA ALLAIN

Fonte Folhaonline

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