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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Saúde pessoal: níveis de radiação aumentam, trazendo riscos frequentemente ignorados

Radiação também apresenta uma grave desvantagem médica: sua capacidade de corromper o DNA

A radiação, assim como o álcool, é uma faca de dois gumes. Ela traz inegáveis benefícios médicos: a radiação pode revelar problemas escondidos, que vão de ossos quebrados a lesões pulmonares, problemas cardíacos e tumores. Além disso, ela pode ser utilizada para tratar e, às vezes, para curar certos tipos de câncer.

Entretanto, a radiação também apresenta uma grave desvantagem médica: sua capacidade de corromper o DNA e, 10 ou 20 anos mais tarde, causar um câncer. As tomografias computadorizadas expõem três quartos dos americanos a uma radiação de 100 a 500 vezes maior do que a de um exame de raios X normal e, atualmente, acredita-se que seja responsável por 1,5 por cento de todos os casos de câncer dos Estados Unidos.

Reconhecer o perigo envolvido no aumento do número de exames radiológicos levou inúmeros especialistas, incluindo um grande número de radiologistas, a exigir mais parcimônia antes de pedir exames de imagiologia médica.

"Houve um aumento no volume de todos os tipos de exames de imagiologia, mas as tomografias respondem pela maior parte desse fenômeno", afirmou a Dra. Rebecca Smith-Bindman, especialista em radiologia e imagiologia biomédica na Universidade da Califórnia, em San Francisco. "Obviamente, esse tipo de exame está sendo utilizado em excesso. Todos os anos, mais de 10 por cento dos pacientes estão sendo expostos a doses altíssimas de radiação."

Segundo os especialistas, o segredo para utilizar a radiação médica da forma apropriada é balancear os riscos potenciais e os benefícios conhecidos. Entretanto, a despeito do aumento astronômico no uso da radiação para obter imagens médicas nos últimos anos, esses riscos não são levados em conta na maioria das vezes. As consequências incluem custos médicos desnecessários e riscos para a saúde do paciente no futuro.

Tanto os médicos quanto os pacientes têm a responsabilidade de compreender melhor os benefícios e os riscos e considerá-los cuidadosamente antes que os pacientes sejam submetidos a um procedimento radioativo por ordem médica.

Os pacientes podem se surpreender ao descobrir que alguns dos usos mais recentes das imagens radiológicas, incluindo tomografias de artérias coronárias para procurar por acúmulos de cálcio, ainda não foram testados cientificamente em ensaios clínicos apropriados, de forma que seus benefícios são apenas conjecturais. Especialistas estimam que o uso generalizado dos exames em artérias coronárias – que expõem o paciente a radiações 600 vezes maiores do que as de um exame de raios X no peito – poderiam resultar em 42 novos casos de câncer a cada 100.000 homens e 62 casos a cada 100.000 mulheres que se submetessem ao exame.

A cada 1.000 pessoas que realizam uma tomografia, a radiação acrescenta um novo caso de câncer aos 420 que normalmente ocorreriam. O risco pode parecer pequeno, mas não para a pessoa que for afetada por um câncer que poderia ter sido evitado.

O que ajuda a complicar o problema é a gigantesca variação – às vezes em até 10 vezes o mais – nas quantidades de radiação às quais os pacientes são expostos durante um mesmo procedimento em diferentes instituições, ou até em uma mesma instituição, mas em momentos diferentes.

Calculando a exposição
Embora os efeitos radioativos que causam o câncer sejam cumulativos, ninguém calcula o volume de radiação ao qual os pacientes foram expostos antes que o médico peça um novo exame. Mesmo quando os pacientes são questionados a respeito de exames anteriores, quase sempre o único objetivo é o de comparar os resultados, e não o de estimar os riscos oriundos da exposição a mais radiação.

Conforme escreveu o Dr. Michael S. Lauer, do Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue, no The New England Journal of Medicine três anos atrás: "A questão da exposição à radiação provavelmente não virá à tona, uma vez que cada um dos procedimentos é considerado de forma isolada e os riscos decorrentes de cada um deles são baixos e aparentemente imensuráveis. Além disso, um câncer causado pela exposição à radiação só apareceria depois de muitos anos e não poderia ser facilmente ligado a procedimentos feitos no passado".

Depois de uma extensa revisão das causas ambientais e dos fatores de risco para o câncer de mama, o Instituto de Medicina informou no ano passado que só encontrou evidências suficientes para a relação entre o aparecimento desse tipo de câncer e a terapia de reposição hormonal utilizada por mulheres na menopausa aliada à radiação ionizante em doses muito mais altas do que as recebidas durante uma mamografia.

Todas as pessoas são expostas a uma determinada quantidade de radiação de fundo – cerca de três millisieverts por ano, oriundos de raios cósmicos, do gás radônio e de elementos radioativos na terra. Em 1980, de acordo com a The Harvard Health Letter, diversas novas fontes de radiação, como exames médicos, usinas nucleares, vazamentos nucleares, aparelhos de televisão, monitores de computador, detectores de fumaça e equipamentos de monitoramento em aeroportos acrescentaram, em média, mais 0,5 millisieverts por pessoa por ano.

Entretanto, agora, a quantidade de radiação utilizada para fins médicos supera a radiação de fundo, acrescentando mais três millisieverts a cada ano em média para cada pessoa. (Uma mamografia envolve 0,7 millisieverts e a dose é duas vezes maior com as mamografias 3D.)

Existem muitas razões para esse aumento. Médicos e consultórios particulares compraram aparelhos radioativos, que costumam utilizar de forma indiscriminada para recuperar o investimento. O mesmo ocorre com hospitais que adquirem equipamentos desnecessários para que possam se gabar do fato de que possuem os equipamentos mais modernos e a maior capacidade de detectar determinadas doenças. Os médicos que pedem esse tipo de exame não sofrem com os efeitos colaterais e os pacientes acreditam que estão se beneficiando com o que a medicina possui de mais moderno.

Lauer escreveu o seguinte em um comentário sobre exames cardiológicos: "Boa parte dos médicos que pedem exames desse tipo não sofre as consequências dos custos decorrentes de procedimentos sem relevância comprovada. Pelo contrário, eles e seus colegas recebem pelos serviços que prestam e seus pacientes não reclamam porque os custos são cobertos por terceiros. Os pacientes ficam felizes por serem submetidos a exames completos e que envolvem tecnologias de ponta".

Além das razões financeiras
De acordo com um novo estudo, a imagiologia médica vai muito além das motivações financeiras. Smith-Bindman e seus colegas afirmaram em junho no The Journal of the American Medical Association que o aumento dramático na quantidade de exames de imagiologia médica entre 1996 e 2010, incluindo um aumento de 300 por cento no número de tomografias computadorizadas, ocorreu em seis grandes sistemas médicos pré-pagos, onde o incentivo financeiro deveria encorajar um número menor de exames, não o contrário. O aumento no número de testes duplicou a proporção de pacientes que são expostos a níveis altos ou muito altos de radiação.

Os pesquisadores informaram que 20 tomografias eram realizadas a cada 100 pacientes adultos; e que cerca de 35 tomografias eram realizadas a cada 100 pacientes com idades entre 65 e 75 anos. Além disso, as crianças que foram submetidas a tomografias na cabeça durante o estudo foram expostas a doses de radiação que podem triplicar o risco do aparecimento de câncer no cérebro ou de leucemia.

Smith-Bindman pediu para que os pacientes passassem a fazer parte da decisão antes de serem submetidos a exames desse tipo. Segundo ela, "os pacientes deveriam questionar: 'Para que eu preciso do exame? Eu preciso mesmo disso? Por quê? Eu disso agora?'".

The New York Times News

Fonte R7

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