Beatrice de Gea/The New York Times
Terrence Levin, ex-executivo de publicidade da Forbes, bebe
copo de água com gás em Pig and Whistle, em Nova York
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Como executivo de vendas de anúncios da revista Forbes, Terry Lavin trabalhou duro para ganhar sua reputação de companheiro de bebida confiável.
"Era como se eu tivesse alugado um espaço no P.J. Clarke's", disse, se referindo ao bar de Midtown Manhattan. "Sempre fui o último a sair, sempre com um coquetel na mão."
Em um negócio baseado na simpatia, o papel o ajudou a ter sucesso. Até 2010, quando ele decidiu dar um tempo para o seu corpo e parar de beber por seis meses. Sua saúde melhorou; já seu negócio, não.
"Ligava para camaradas com quem eu tinha amizade, camaradas que tinham nas mãos grandes orçamentos para anúncios, a fim de ver se queriam sair para um happy hour ou comer alguma coisa", lembrou, "e eles me respondiam: 'Está bebendo? Não? Então esquece'".
Lá se vão os benefícios da vida sóbria.
Mesmo enquanto almoços com três doses de Martini e reuniões de funcionários abastecidas a uísque se tornam mais difíceis de encontrar fora da TV a cabo, grandes quantidades de rituais de negócios americanos continuam girando em torno do consumo de álcool.
Quer seja cortejando um cliente, esboçando um acordo ou simplesmente provando que você é um jogador de equipe, tomar uma rodada de cerveja é substancialmente mais vital para muitas ocupações que jogar uma rodada de golfe.
Para profissionais que se abstêm do álcool – seja por saúde, religião, recuperação ou simplesmente por preferência – pode parecer às vezes mais difícil progredir se não estiverem dispostos a tomar uma.
"Esperam que você beba, e beber é parte do que você faz; as pessoas ficam meio sérias se você disser que não bebe", disse Link Christin, diretor de um programa de tratamento especial para advogados iniciado no ano passado pela Hazelden, uma rede de centros de recuperação contra álcool e drogas que fica no estado de Minnesota. "Se disser que não bebe, você tem que lidar com a suspeita de que não sabe jogar."
Para encontrar essa postura em ação, basta olhar para a campanha presidencial deste ano. Como parte de sua estratégia de campanha de convencer os eleitores de que Mitt Romney, um mórmon abstinente, é diferente da maioria dos americanos, o presidente Barack Obama tem feito uma exibição notável de que aprecia cerveja como as pessoas comuns.
"Ontem fui à Feira Estadual e comi costeleta com cerveja", Obama se gabou para uma multidão de Iowa em agosto, o dia em que fechou um quiosque de cerveja para que pudesse comprar cervejas para ele e para outros dez frequentadores da feira. "E a cerveja estava boa. Hoje, só tomei cerveja. Não comi costeleta. Mas a cerveja estava boa." A multidão retribuiu gritando em coro: "Mais quatro cervejas!".
Quando o público exigiu que Obama revelasse as suas receitas de cerveja caseira após dividir uma garrafa com um dos clientes de um pequeno restaurante em Knoxville, Iowa, a Casa Branca aproveitou o momento, exigindo primeiro 25.000 assinaturas em um abaixo-assinado (a Casa Branca finalmente cedeu, liberando duas receitas depois de apenas 12.000 assinaturas).
E esse não é um assunto novo entre os políticos. Edward M. Kennedy se queixou da falta de álcool na Casa Branca de Jimmy Carter enquanto se preparava para desafiar o presidente nas prévias de 1980. E isto se tornou um truísmo nas pesquisas nos últimos anos: os eleitores escolhem o candidato com quem beberiam uma cerveja (o mais recente presidente que não bebe a assumir a Casa Branca, George W. Bush, pelo menos se assegurou de ser ocasionalmente fotografado segurando uma cerveja sem álcool).
Para pessoas menos públicas, a noção de que alguém que não bebe não tem bom desempenho nos negócios – ou pior, é uma pessoa não confiável – pode impedir o progresso profissional.
"Existe a percepção de que você é quase impotente", afirmou um abstêmio, que é editor de uma revista de estilo de vida focada em bebidas e que pediu para não ser identificado porque muitos de seus colegas de trabalho não sabem que ele entrou no programa dos 12 passos.
As desvantagens profissionais da sobriedade variam do literal – o editor teve recusar uma promoção em potencial porque envolveria beber vinho – ao sutil.
"Regularmente, me recuso a ir a almoços e jantares com pessoas do ramo que, no passado, eu aceitaria correndo", afirmou. "Simplesmente, não posso ir a um jantar com um fabricante de vinho e dizer: não, obrigado. Não vou beber.''
Mas não precisamos trabalhar diretamente com bebidas alcoólicas para passarmos por isso. Em Wall Street, onde prevalece o estilo de vida "modelos e garrafas", os que não bebem "queixam-se de que não conseguem fechar negócios, não conseguem mesmo entrar nas negociações iniciais porque não entram no comportamento de beber", diz John Crepsac, um terapeuta de Nova York que aconselha profissionais de Wall Street em recuperação.
Os cientistas sociais se referem a isso como "capital social", a quantidade de potencial econômico a ser controlado pela capacidade de se enturmar.
"Houve épocas em que eu sabia que colegas iriam sair com clientes que poderiam ajudar a avançar a minha carreira", disse um corretor de Wall Street que não bebe e que pediu para ficar anônimo porque o seu empregador não permite que funcionários conversem com a imprensa, "mas era compreendido sem palavras: 'Sim, não vamos convidá-lo porque provavelmente vamos tomar alguma coisa e ele não vai participar, então do que adianta?'''.
Claro que a sobriedade e o sucesso não são mutuamente contraditórios. Warren Buffett, Donald Trump, Joe Biden e Larry Ellison são abstêmios desde sempre. Quer vença a eleição ou não, também não faltou sucesso para Romney.
E mulheres sóbrias podem de fato se beneficiar com um padrão dúbio. "Ainda se espera que os homens se reúnam e enlouqueçam, mas de algum modo isso é mal visto se uma mulher participa", disse Crepsac, notando que poucas de suas pacientes se queixaram deque a sobriedade tenha lhe prejudicado a carreira. "Existem várias coisas pelas quais as mulheres são discriminadas no trabalho, mas esta não é uma delas."
Mesmo assim, as pesquisas apoiam a ideia de que os que não bebem têm dificuldades para subir na hierarquia corporativa. Vários estudos demonstraram que as pessoas que bebem ganham mais dinheiro do que as que não bebem, embora os que bebem demais ganhem menos do que os que bebem moderadamente.
Essa pressão de desempenho pode às vezes causar uma recaída nos profissionais em recuperação. É por esta razão que a Hazelden criou um grupo de apoio especialmente para advogados que estão tentando ficar sóbrios.
"A pressão para trazer negócios em escritórios de advocacia, a pressão de fazer acontecer, é maior a cada dia", disse Christin, ex-advogado e alcoólatra recuperado. "Quando temos que escolher entre sustentar a família e entre beber uma taça de vinho, pode ser difícil não se desviar do caminho", afirmou.
Abstinentes tendem a desenvolver estratégias para se socializar profissionalmente sem o álcool. Alguns pedem uma bebida e simplesmente não bebem; outros utilizam o humor para desviar atenção indesejada. "Digo que estou grávido", informou o corretor de Wall Street.
Lavin, que tirou uma licença das vendas de anúncios para escrever um livro, aconselha pedir a sua bebida em um copo que engane. "As pessoas ficam bem mais calmas se você estiver bebendo água mineral em um copo de uísque", disse.
E existe justiça. Joe McKinsey, um ex-executivo imobiliário que abriu uma clínica de recuperação para executivos em East Hampton, no estado de Nova York, após sua própria recuperação, disse que bastaram apenas alguns meses de sobriedade em seu antigo trabalho para passar de objeto de piadas a confidente dos que estavam em apuros.
"As pessoas acabam te cercando, perguntando: 'Acha que tenho um problema?'", afirmou. "Tornei-me o cara a quem recorrer se precisar ter uma conversa particular."
Fonte iG
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