Usado em shows de entretenimento, método também pode ter finalidade terapêutica
Duas pessoas comuns ficam frente a frente. Uma delas, de meia idade, bem
vestida, balança um objeto e dá alguns comandos com uma voz sussurrante. Pronto!
Daqui em diante o outro come cebola achando que é maçã, masca alho pensando ser
chiclete, imita galinha, fica mudo e até deixa que lhe atravessem agulhas no
pescoço. Essa é uma visão bem popular do misterioso evento da hipnose. Crença,
magia, teatro ou ciência?
Para o neurologista Leandro Teles, a hipnose é um fenômeno real e
quantificável.
— É possível, sim, em alguns momentos, pessoas propensas a hipnose
apresentarem percepção sensorial e vivências alternativas motivadas pela
sugestão de um hipnotizador — diz o médico.
Porém, se a pessoa imagina as coisas durante a hipnose ou se ela realmente
sente o que é proposto, é uma "dúvida milenar". Segundo Teles, estudos mais
recentes relacionados à investigação das áreas cerebrais ativadas durante a
hipnose mostram que, em alguns casos, ocorre ativação de regiões da percepção e
não da criação. Isso sugere que o processo lembre mais alucinações perceptivas
do que imaginação.
— Durante o transe, o hipnotizador conquista um canal de atenção sustentada e
o hipnotizado abole ou altera algumas entradas sensoriais, tudo em prol da
vivência proposta pela sessão — explica.
A maioria dos estudos mostra que pessoas em transe hipnótico têm um acesso
mais amplo e detalhado a algumas recordações episódicas. O problema, conforme o
neurologista, é que a indução por sugestão, por vezes, traz uma versão pouco
confiável, onde o que a pessoa "acha que viu" ou "queria ter visto" surge como
se realmente tivesse vivenciado.
— Em momentos de transe com atividade de "regressão temporal" a condução
inadequada pode levar a falsas interpretações do passado e deixá-las com aquela
sensação de familiaridade típica das lembranças — alerta Teles.
Em se tratando de regressão para vidas passadas, o neurologista considera uma
questão de cunho religioso, mas, do ponto de vista estritamente científico, o
acesso a esse tipo de recordação não é comprovado, ao menos até o momento. O
médico esclarece que a capacidade de recordação episódica consciente toma corpo
a partir de quatro anos de idade.
O especialista comenta, ainda, que existem pessoas mais e menos
hipnotizáveis. Além disso, as pessoas precisam "querer", de alguma forma, mesmo
que não conscientemente, ser hipnotizadas.
— Outro mito é achar que as pessoas ficam completamente na mão do
hipnotizador, que cometeriam crimes ou fariam qualquer coisa no estado de
transe. Na verdade, a crítica continua agindo em algum grau e geralmente
interrompe o processo quando algo proposto fere os princípios éticos e morais do
paciente — diz.
Ainda nesse quesito, muitos acham que, caso o hipnotizador passe mal, fuja ou
mesmo morra durante o transe, o paciente possa ficar preso na hipnose. Isso não
acontece, pois, cessado o estímulo por alguns minutos, o paciente sai do transe
geralmente para o sono normal e acorda bem.
A hipnose pode ser usada com finalidade terapêutica para pacientes com dor
crônica, anestesias breves, ansiedade, depressão, alcoolismo, tabagismo e mesmo
outros abusos. Seu uso também é eficaz na investigação de crises de origem
psíquica que mimetizam doenças como a epilepsia, uma vez que é possível
desencadear uma crise e separar as patologias.
Fora do âmbito médico, o transe hipnótico é usado em shows de entretenimento
e mesmo como vivências regressivas de cunho religioso ou não. Seja como for seu
uso só é recomendado com a participação de profissionais habilitados, éticos e
sob o consentimento esclarecido do paciente.
Fonte Zero Hora
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