Qual seu lugar preferido no cinema: as pontas, a última fileira, o cantinho mais vazio? É provável que você nunca tenha parado para pensar no assunto, mas Claude Forest, professor de economia do cinema e do audiovisual na universidade de Sorbonne Nouvelle, em Paris, publicou um estudo curioso sobre os hábitos dos frequentadores de cinemas.
Durante cinco meses Forest observou 3.501 espectadores em nove salas de exibição da capital francesa, somando 108 sessões em todos os tipos de horários e dias da semana. Ele traçou perfis variados e distinguiu pequenas rotinas que os frequentadores tinham em comum.
Há, por exemplo, os apressadinhos. Aqueles que mal podem esperar as portas da sala se abrirem para ocupar seus assentos. São os primeiros a chegar e ficam com o privilégio da escolha. Quase todos se sentam na parte de trás da sala, mas não necessariamente no meio.
Apressadinho que se preza jamais senta na primeira fileira. Uma vez instalado, ele não costumam ler ou usar o telefone: prefere observar a dinâmica das outras pessoas procurando cadeiras, com uma pontinha de satisfação no rosto.
Logo depois dos apressadinhos chega a multidão tranquila, como chama o autor do estudo. Esse grupo escolhe assentos afastados das outras pessoas, separados por cadeiras vazias.
Os tranquilos nunca sentam exatamente atrás de alguém e raramente sentam na frente. A bolsa na cadeira ao lado é usada como marcador de território e caso alguma pessoa escolha se sentar perto demais, vai encarar olhares descontentes. Mas, depois que a sala começa a encher, a ocupação de lugares próximos começa a parecer aceitável e em seguida, inevitável.
Quando as luzes apagam chegam eles, os atrasados. Há três tipos de atrasados: o primeiro tipo é o reservado, que acaba sentando nos lugares mais acessíveis para não atrapalhar os outros. O segundo é o meticuloso, que observa da entrada onde estão os lugares interessantes, dessa forma pode seguir diretamente para a cadeira escolhida, mesmo que tenha que passar na frente da tela.
O terceiro tipo é o dominante do último momento, aquele que, apesar do seu atraso, não pensa duas vezes antes de atrapalhar as outras pessoas para sentar na cadeira que quiser, sejá lá onde ela estiver. "Tendo o filme começado ou não, os outros lugares estando livres ou não, ele vai chegar até a poltrona desejada, atrapalhando uma parte da fileira e fazendo as pessoas se levantarem ou tirarem as coisas dos assentos para ele poder sentar", explica Forest.
Ele pode até mesmo obrigar as pessoas a mudarem de lugar, caso, por exemplo, não existam duas cadeiras vagas juntas e ele estiver acompanhado. O apressadinho que chegou cedo pra escolher o melhor lugar pode se ver forçado a trocar de cadeira. Apesar de muitas vezes demonstrar certa hostilidade, ninguém recusa o pedido.
As pessoas que chegam em grupo tendem a fazer mais barulho e chamar atenção, principalmente as mais jovens. Sentam na metade da frente da sala, onde há espaço para toda a galera na mesma fileira.
Já os casais procuram se fazer invisíveis e se instalam nas últimas fileiras, nunca nas pontas. Interessante notar que em quase 80% dos casais, a mulher se senta no meio e o homem, perto do corredor. Forest justificou esse fato com duas hipóteses: a gentileza de deixar as mulheres passarem na frente ou o reflexo de proteção, agravado em um ambiente escuro: "Atitude evidentemente inútil dentro de uma sala de cinema, mas ainda inconscientemente posta em prática", esclarece o professor.
No final do filme, a iniciativa de levantar da poltrona depende de alguns fatores como a localização da cadeira, mas também do gênero dos espectadores, do filme visto e do sentimento que ele causou. Em todas as 108 sessoões, com exceção de apenas uma, foi um homem quem se levantou primeiro. Todos estavam desacompanhados e, em 80% dos casos, eram de meia-idade. Curiosamente, o mesmo perfil vale também para o último espectador a deixar a sala.
"Fiquei surpreso com a diferença de comportamento entre homens e mulheres", disse Forest. Enquanto os homens saíram uniformemente durante todo o período de evacuação, as mulheres não foram nem as primeiras, nem as últimas: a grande procentagem delas se concentrou no meio do processo.
O estudo concluiu que as escolhas feitas dentro da sala de cinema têm mais a ver com a personalidade do que com a procura por qualidade da imagem e de som, já que atualmente as salas são todas projetadas para que o filme seja apreciado de qualquer poltrona.
Fonte Folhaonline
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