André Sasse, diretor técnico do Instituto Radium e professor da Universidade de
Campinas (Unicamp), fala sobre o assunto que ainda é tabu no universo masculino
Uma pesquisa feita pelo Ibope Inteligência em oito capitais brasileiras,
inclusive Porto Alegre, confirmou que os homens reconhecem a gravidade do câncer
de próstata — segunda causa de morte no sexo masculino em 2010 —, mas fazer o
exame ainda é motivo de constrangimento.
O oncologista clínico e diretor técnico do Instituto Radium e professor da
Universidade de Campinas (Unicamp), André Sasse, um dos intérpretes da pesquisa,
falou com o caderno Vida, por telefone, sobre o comportamento masculino em
relação ao exame de toque retal, o papel das mulheres para incentivar os
parceiros a irem ao urologista, entre outros aspectos revelados pela pesquisa.
Confira os principais trechos:
Vida — Por que os homens são tão resistentes a fazer o exame de
próstata?
André Sasse — O exame da próstata é um exame físico, feito
pelo médico, que envolve a apalpação da próstata através do toque retal, e isso
ainda envolve muito conflito psicológico, muito preconceito. Muitas vezes os
próprios pacientes fazem piadas ou os amigos fazem piadas, e isso teria que ser
contornado de alguma maneira. A gente pede que as esposas convidem o maridos a
fazerem o exame, justamente para que eles entendam que isso não implica em perda
de virilidade, muito pelo contrário, é uma questão de afirmação da preocupação
com a saúde.
Vida — Então as mulheres têm um papel fundamental para que eles façam
os exames preventivos?
Sasse — É, porque a mulher está acostumada a fazer exames
preventivos. Geralmente, a mãe dela já a levou ao ginecologista desde jovem para
fazer o controle e manter a saúde dos órgãos genitais e a saúde em geral. A
mulher já sabe que é importante a questão da prevenção, como exames Papanicolau,
mamografia, exames clínicos e ginecológicos. O homem ainda não, então a questão
de transferência desse tipo de preocupação que ela já tem consigo mesma deve ser
transferido para o esposo ou companheiro de alguma maneira, para que ele também
possa fazer essa prevenção.
Vida — Seria possível criar essa cultura mais cedo, a exemplo do que
ocorre com as mulheres?
Sasse — A incidência do câncer de próstata é maior a partir
dos 50 anos de idade, então, antes disso, a investigação não faz muito sentido.
Outros aspectos relacionados à saúde sexual são menosprezados, é muito raro o
jovem ir ao urologista para fazer algum exame de rotina. O ideal seria ter um
médico de confiança que fizesse uma avaliação rotineira de todas as pessoas,
sejam homens ou mulheres, um clínico que ficasse preocupado com toda essa
orientação para a diminuição de doenças importantes.
Vida — Na pesquisa, os homens que não pretendem fazer o exame de
próstata alegam que estão bem de saúde e não precisam ir ao médico...
Sesse — O fato de ele não estar sentindo nada não quer dizer
absolutamente nada. A doença que é localizada, que é curável, muito raramente
tem sintomas. Quando tem sintomas, já está mais avançada e talvez até com
metástase. A procura do médico quando não se tem sintoma nenhum é o critério
mais importante da busca pela cura do câncer de próstata.
Vida — Existe outra alternativa para a detecção precoce do câncer de
próstata, que não seja o exame de toque retal?
Sasse — Uma das alternativas é o exame de sangue PSA
(Antígeno Prostático-Específico), mas nem sempre ele se eleva ainda quando a
doença está precoce, normalmente, ele se eleva quando a doença avança um pouco
mais. Então, o toque retal é importante para identificar eventuais nódulos que
ainda não levaram à elevação do PSA. Muitos homens só pedem o exame de sangue e
se consideram saudáveis. Então se pode perder a chance de cura quando se confia
só no exame de sangue.
Vida — Quais são as chances de cura com o diagnóstico
precoce?
Sasse — Ele é curado em cerca de 90 a 95%. Quando ele está
localmente avançado, a gente chega a curar em 70%. Ele não é curado quando já
tem metástase (quando se espalha para outras partes do corpo). Até tem bastante
evolução com novas terapias, novas drogas que oferecem o controle da doença a
longo prazo, mas são tratamentos caros e que devem ser contínuos.
As mulheres se preocupam mais
— 65% das mulheres se preocupam muito com o marido
— 54% dos homens se preocupam em ter câncer de próstata
— 50% dos homens já procuraram informações sobre a doença
— 48% para saber se precisa fazer exame
— 34% para saber como é feito o exame
— 62% das mulheres que buscaram informação queriam saber quais são os
sintomas
— 70% das mulheres já pediram ao parceiro para fazer o exame
— 67% dos maridos aceitaram a recomendação
— 28% alegam que não fizeram o exame porque são saudáveis
— 53% das mulheres dizem que eles não fazem o exame por medo, receio ou
vergonha
Fonte: Ibope Inteligência
Por Zero Hora
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