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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

"Mulheres têm papel fundamental para que seus esposos façam exames de próstata", diz oncologista

André Sasse, diretor técnico do Instituto Radium e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), fala sobre o assunto que ainda é tabu no universo masculino
 
Uma pesquisa feita pelo Ibope Inteligência em oito capitais brasileiras, inclusive Porto Alegre, confirmou que os homens reconhecem a gravidade do câncer de próstata — segunda causa de morte no sexo masculino em 2010 —, mas fazer o exame ainda é motivo de constrangimento.
 
O oncologista clínico e diretor técnico do Instituto Radium e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), André Sasse, um dos intérpretes da pesquisa, falou com o caderno Vida, por telefone, sobre o comportamento masculino em relação ao exame de toque retal, o papel das mulheres para incentivar os parceiros a irem ao urologista, entre outros aspectos revelados pela pesquisa. Confira os principais trechos:
 
Vida — Por que os homens são tão resistentes a fazer o exame de próstata?
André Sasse — O exame da próstata é um exame físico, feito pelo médico, que envolve a apalpação da próstata através do toque retal, e isso ainda envolve muito conflito psicológico, muito preconceito. Muitas vezes os próprios pacientes fazem piadas ou os amigos fazem piadas, e isso teria que ser contornado de alguma maneira. A gente pede que as esposas convidem o maridos a fazerem o exame, justamente para que eles entendam que isso não implica em perda de virilidade, muito pelo contrário, é uma questão de afirmação da preocupação com a saúde.
 
Vida — Então as mulheres têm um papel fundamental para que eles façam os exames preventivos?
Sasse — É, porque a mulher está acostumada a fazer exames preventivos. Geralmente, a mãe dela já a levou ao ginecologista desde jovem para fazer o controle e manter a saúde dos órgãos genitais e a saúde em geral. A mulher já sabe que é importante a questão da prevenção, como exames Papanicolau, mamografia, exames clínicos e ginecológicos. O homem ainda não, então a questão de transferência desse tipo de preocupação que ela já tem consigo mesma deve ser transferido para o esposo ou companheiro de alguma maneira, para que ele também possa fazer essa prevenção.
 
Vida — Seria possível criar essa cultura mais cedo, a exemplo do que ocorre com as mulheres?
Sasse — A incidência do câncer de próstata é maior a partir dos 50 anos de idade, então, antes disso, a investigação não faz muito sentido. Outros aspectos relacionados à saúde sexual são menosprezados, é muito raro o jovem ir ao urologista para fazer algum exame de rotina. O ideal seria ter um médico de confiança que fizesse uma avaliação rotineira de todas as pessoas, sejam homens ou mulheres, um clínico que ficasse preocupado com toda essa orientação para a diminuição de doenças importantes.
 
Vida — Na pesquisa, os homens que não pretendem fazer o exame de próstata alegam que estão bem de saúde e não precisam ir ao médico...
Sesse — O fato de ele não estar sentindo nada não quer dizer absolutamente nada. A doença que é localizada, que é curável, muito raramente tem sintomas. Quando tem sintomas, já está mais avançada e talvez até com metástase. A procura do médico quando não se tem sintoma nenhum é o critério mais importante da busca pela cura do câncer de próstata.
 
Vida — Existe outra alternativa para a detecção precoce do câncer de próstata, que não seja o exame de toque retal?
Sasse — Uma das alternativas é o exame de sangue PSA (Antígeno Prostático-Específico), mas nem sempre ele se eleva ainda quando a doença está precoce, normalmente, ele se eleva quando a doença avança um pouco mais. Então, o toque retal é importante para identificar eventuais nódulos que ainda não levaram à elevação do PSA. Muitos homens só pedem o exame de sangue e se consideram saudáveis. Então se pode perder a chance de cura quando se confia só no exame de sangue.
 
Vida — Quais são as chances de cura com o diagnóstico precoce?
Sasse — Ele é curado em cerca de 90 a 95%. Quando ele está localmente avançado, a gente chega a curar em 70%. Ele não é curado quando já tem metástase (quando se espalha para outras partes do corpo). Até tem bastante evolução com novas terapias, novas drogas que oferecem o controle da doença a longo prazo, mas são tratamentos caros e que devem ser contínuos.
 
As mulheres se preocupam mais
— 65% das mulheres se preocupam muito com o marido
 
— 54% dos homens se preocupam em ter câncer de próstata
 
— 50% dos homens já procuraram informações sobre a doença
 
— 48% para saber se precisa fazer exame
 
— 34% para saber como é feito o exame
 
— 62% das mulheres que buscaram informação queriam saber quais são os sintomas
 
— 70% das mulheres já pediram ao parceiro para fazer o exame
 
— 67% dos maridos aceitaram a recomendação
 
— 28% alegam que não fizeram o exame porque são saudáveis
 
— 53% das mulheres dizem que eles não fazem o exame por medo, receio ou vergonha
 
Fonte: Ibope Inteligência
 
Por Zero Hora

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