Dormir pouco por muitas noites em seguida altera a atividade de centenas de genes essenciais para a saúde, como os ligados ao estresse e à resposta imunológica.
Testes em pessoas que dormiram menos de seis horas por dia por uma semana revelaram mudanças importantes na atividade dos genes que regulam o sistema imune, o metabolismo, o ciclo do sono e a resposta ao estresse, sugerindo que a falta de sono possa ter um impacto grande no bem-estar a longo prazo.
As mudanças, que afetaram mais de 700 genes, podem explicar mecanismos biológicos que aumentam o risco de uma série de doenças, como problemas cardíacos, diabetes, obesidade, estresse e depressão em pessoas que dormem pouco.
"A surpresa para nós foi que uma diferença modesta na duração do sono levou a esse tipo de alteração", afirmou Derk-Jan Dijk, diretor do Centro de Pesquisa de Sono da Universidade Surrey, líder do estudo. "É uma indicação de que perturbações do sono ou restrição de sono faz mais do que deixar você cansado."
Estudos anteriores sugeriam que quem dorme menos de cinco horas por noite tem um risco 15% maior de morte por qualquer causa do que quem dorme bem. Em uma pesquisa com trabalhadores britânicos, mais de 5% afirmaram dormir cinco horas ou menos por noite. Outra pesquisa americana de 2010 mostrou que 30% das pessoas não dormem mais do que seis horas por noite.
Dijk e seus colegas pediram a 14 homens e 12 mulheres, todos saudáveis com idades entre 23 e 31 anos, para viver em um centro de pesquisa de sono por 12 dias. Cada um visitou o centro em duas ocasiões. Em uma visita, eles ficaram dez horas por noite na cama por uma semana. Na outra, só seis horas.
No fim de cada semana, eles eram mantidos acordados por um dia e uma noite, de 39 a 41 horas.
Usando um exame de eletroencefalograma, os cientistas viram que os participantes dormiram 8,5 horas por noite na semana das dez horas na cama e 5h42 na semana das seis horas na cama por noite.
O tempo dormindo teve um impacto grande na atividade dos genes, detectada em exames de sangue nos voluntários, como relatado na publicação "Proceedings of the National Academy of Sciences".
Entre os privados de sono, a atividade de 444 genes foi suprimida, enquanto que 267 genes ficaram mais ativos em quem dormia mais.
As mudanças nos genes que controlam o metabolismo podem exacerbar condições como diabetes ou obesidade, enquanto problemas nos genes que regulam a resposta inflamatória do corpo podem ter impacto em doenças cardíacas. Outro genes afetados foram ligados ao estresse e à idade.
A perda de sono teve efeito nos genes que controlam o relógio biológico, sugerindo que o sono ruim possa virar um círculo vicioso.
"Há um feedback entre o que você faz com seu sono e como isso afeta seu ritmo circadiano, o que será muito importante em pesquisas futuras", diz Dijk.
Ressalvas
Os pesquisadores não viram quanto tempo levou para os genes voltarem à sua atividade normal nos voluntários privados de sono, mas esperam fazer isso no futuro.
Por meio das medições das alterações dos genes após a falta de sono, os cientistas não sabem se elas são uma resposta inofensiva e de curto prazo ao sono ruim, um sinal do corpo se adaptando, ou se são potencialmente perigosas para a saúde.
"Os perigos potenciais do deficit de sono na sociedade atual e a necessidade das oito horas de sono por noite são muitas vezes aumentados e podem causar preocupações indevidas. Apesar de esse importante estudo dar base para essa preocupação, o sono dos participantes foi restrito abruptamente para um nível não usual, o que pode ter sido estressante", afirma Jim Horne, professor de psicofisiologia no Centro de Pesquisa de Sono da Universidade Loughborough.
"Precisamos ter cuidado para não generalizar esses achados para quem dorme sempre seis horas por noite e está feliz com isso. Além disso, o sono pode se adaptar a mudanças e deve ser julgado por sua qualidade, e não só quantidade total."
Fonte Folhaonline
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