Indústria farmacêutica brasileira começa a abordar um novo influenciador ou “pagador”. Especialista explica a transição sob o conceito de Market Access
O acesso da população a medicamentos no Brasil é um grande desafio à correta gestão da saúde, seja na esfera pública quanto no ambiente privado.
Dados da FIOCRUZ apontam que os gastos com medicamentos consomem aproximadamente 61% do orçamento familiar nas famílias de baixa renda e segundo o IBGE cerca de 55% da população não podem pagar os medicamentos de que necessitam.
Dentro deste cenário, buscarmos um patrocinador dos medicamentos à população ampliar seu acesso aos remédios prescritos torna-se crítico em qualquer política de saúde. O governo brasileiro investe em torno de 8% dos seus gastos em saúde na compra de medicamentos, o que representa para 2013 um montante superior a R$ 10 bilhões. Importante destacar que o SUS mantém em sua política a cobertura de fármacos voltados a doenças raras e de alta complexidade, como programas de cobertura para patologias como esclerose múltipla, doenças de deficiências enzimáticas e o próprio programa de medicamentos usados no tratamento da AIDS. Junta-se a isto, os programas de medicamentos mais básicos indicados para doenças agudas e crônicas de uso domiciliar.
Mas só esta iniciativa pública não é suficiente. A demanda cresce a passos largos e buscar novas fontes de financiamento é o desafio.
A iniciativa privada por sua vez se mobiliza para buscar cobrir esta lacuna. As operadoras de saúde, de forma ainda compulsória e menos pelo conceito e visão estratégica, começa a expandir a cobertura de medicamentos também para drogas em uso domiciliar e voltadas a doenças crônicas. As empresas privadas surgem como um agente importante neste cenário, pois elas incorporam cada vez mais em sua grade de benefícios o subsídio de medicamentos sejam em sua totalidade ou de forma parcial. A ANS lançou em dezembro passado uma resolução normativa (RN 310) que estimula as empresas de planos de saúde a estruturarem e venderem planos específicos para cobertura de medicamentos. Este é um grande avanço, mas ainda tem muito por vir.
E qual o papel da indústria farmacêutica neste contexto ?
As empresas que atuam na pesquisa e produção dos medicamentos perceberam a algum tempo que elas necessitariam cada vez mais ampliar sua atuação, expandindo o alcance do médico prescritor para o financiador potencial do medicamento. Com isto, uma nova dinâmica de negócio consolida-se no mercado, o ambiente muda do B2C – relação direta da indústria com o profissional médico, para o B2B – relação com uma instituição pública ou privada patrocinadora da conta de medicamento.
Mas, porque a indústria está configurando um novo modelo de equipe e abordagem no mercado ?! Esta pergunta tem em si a sua resposta. Para interagir com o novo pagador de medicamentos, a indústria precisa disponibilizar um profissional que possua novas competências do que convencionamos chamar de de modelo B2B, associado aos conhecimentos que já possui no modelo tradicional de abordagem à classe médica e interação com a cadeia farmacêutica. Nasce as estruturas de Market Access.
Ao falar de acesso, o foco não é apenas a indústria abordar o decisor ou influenciador do “novo pagador”, mas sim, trabalhar e desenvolver estratégias e meios de facilitar ou viabilizar o medicamento para o paciente final. Dentro desta nova linha de visão, o foco do produtor de medicamentos deixa de ser o produto e passa a ser verdadeiramente o paciente. Novas demandas surgem, como ajudar o sistema de saúde a trabalhar diagnósticos precoces, monitorar a adesão efetiva dos pacientes ao tratamento e viabilizar através de projeções orçamentárias e farmacoeconomicas a incorporação dos medicamentos pelo sistema de saúde, seja ele público ou privado.
Este tema está apenas começando no país, mas sem sombra de dúvidas deverá pautar a agenda dos líderes da indústria farmacêutica pelos próximos anos.
* Carlos Pappini Jr, é Mestre em Administração de Empresas pela PUC SP, com MBA em Economia e Gestão em Saúde na UNIFESP. Possui mais de 20 anos de atuação no setor da saúde, tendo atuado na Amil e em grandes empresas farmacêuticas.
É professor e coordenador do curso de pós graduação da BSP – Business School na área da saúde e Diretor Geral da In Health Business, empresa especializada na área de acesso a saúde no mercado brasileiro.
Fonte Saudeweb
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