Antecipando-se a uma decisão nacional, o governo do Distrito Federal decidiu
vacinar adolescentes contra HPV - doença causada pelo papiloma vírus humano - e,
para isso, comprou produto num valor quase três vezes maior do que o oferecido
pelo Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Serão gastos
R$ 13 milhões somente este ano. Cada dose da vacina custará R$ 72,5. Pelo fundo
rotatório, o mesmo imunizante é vendido a US$ 13,8 (R$ 27,6).
O gasto está sendo feito em um momento em que o Ministério da Saúde negocia
com fabricantes um acordo para a transferência de tecnologia para produção da
vacina. Quando a negociação for concluída, o governo deverá incorporar o produto
ao Programa de Imunização Nacional e, com isso, todos os Estados - incluindo o
DF - receberão a vacina gratuitamente.
A gerente de câncer da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Cristina
Scandiuzzi, afirma que a administração não quis esperar. "O HPV pode levar ao
câncer de colo de útero. Uma morte inevitável e inaceitável. Por isso decidimos
agir", disse.
Mas a estratégia é considerada desnecessária por especialistas, sobretudo
quando se leva em conta os números gerais da doença no Distrito Federal. Não há
na região uma incidência preocupante nem um aumento que possa ter despertado a
atenção. Segundo Cristina, o câncer de colo de útero é a quinta causa de morte
entre mulheres do Distrito Federal, com 84 registros anuais. Boa parte dessas
mortes poderia ter sido evitada com diagnóstico e tratamento adequados.
Para especialistas ouvidos pelo Estado, uma medida muito mais barata e eficaz
teria sido reforçar a testagem para diagnóstico precoce. O impacto da vacinação
de HPV para saúde pública, segundo estudos, é sentido apenas após 20 anos.
Existem duas vacinas no mercado. Uma quadrivalente, que protege contra os
vírus HPV 16,18 (presentes em cerca de 70% dos casos de câncer) e HPV 6 e 11,
causadores de verrugas genitais. A bivalente, feita por outro produtor, protege
contra os HPV 16 e 18. Em termos de proteção contra o câncer de colo de útero,
ambas são consideradas equivalentes, afirmam especialistas.
A vacina escolhida pelo Distrito Federal foi a quadrivalente. Segundo
Cristina, a opção foi feita para aumentar a proteção dada às adolescentes. A
produtora da vacina bivalente informou que enviou no ano passado ao Distrito
Federal os dados sobre seu produto e disse que estaria apta a atender uma
eventual demanda.
O governo de Brasília afirma ter seguido as recomendações feitas pelos órgãos
de controle, incluindo o Tribunal de Contas do DF. A aquisição foi feita por
meio de um pregão. O DF observa ainda que não poderia ter comprado a vacina pelo
fundo rotatório, algo que somente pode ser feito por países.
O Ministério da Saúde disse não ter sido procurado pelo governo do DF para
realizar a compra por meio do Fundo Rotatório. Conforme a pasta, a intermediação
somente é feita nos casos de grande necessidade dos Estados, como epidemias ou
situações de emergência. Algo que não ocorre no Distrito Federal.
A previsão é a de que 64,2 mil meninas nascidas entre janeiro de 2000 e 31 de
dezembro de 2002 sejam imunizadas. Uma campanha piloto foi feita no dia 8. Mas
os resultados foram aquém do desejado: a cobertura vacinal foi de 53%.
Cristina espera que os números melhorem quando a campanha se estender para
todo o DF. Pelo cronograma, a imunização de todas as adolescentes será feita
entre 1.º e 25 de abril. As doses serão aplicadas nas escolas, tanto públicas
quanto privadas. Mas ela somente será feita com a autorização dos pais.
Aproximadamente 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras do HPV. Deste
total, 32% estão infectadas pelos tipos 16, 18 ou ambos.
Fonte Estadão
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