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sexta-feira, 15 de março de 2013

O efeito placebo da importação de médicos

 
Por Antonio Carlos Lopes*
 
Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica critica o ingresso no Brasil de profissionais formados no exterior
 
Recentemente foi divulgado na mídia que o Governo Federal planeja facilitar a entrada de médicos estrangeiros e brasileiros formados no exterior, convidando-os a atuar no SUS. A ideia geral é tentar equacionar a falta de profissionais para assistência em áreas remotas e nas periferias das grandes cidades.
 
O lançamento de editais internacionais para estimular a vinda de tais médicos impõe a condição de que, após dois anos exercendo a profissão no Brasil, eles precisariam realizar o processo de revalidação do diploma. Esta é uma decisão que, sem dúvida, pode impactar negativamente o cenário da saúde pública brasileira e, mais que isso, expor a saúde da população a riscos desnecessários.
 
Inserir na saúde pública médicos sem a devida competência avaliada é uma ameaça ao cidadão brasileiro. Qualquer profissional de medicina, formado seja onde for, deve ter sua capacidade comprovada, afinal, terá grande responsabilidade em suas mãos: a vida do paciente.
 
É preciso pensar também na questão cultural e nas características regionais. Dentro da proposta de importação de profissionais, consta que haverá aulas de português. No entanto, a complexidade do exercício da medicina não se resume ao idioma. É um atentado ao cidadão colocar na linha de frente do atendimento profissionais que não conhecem as características de nosso sistema de saúde, não possuem informações suficientes sobre a epidemiologia do Brasil, ignoram boa parte das enfermidades tropicais e nem ao menos compreendem as particularidades da nossa relação médico-paciente.
 
Atualmente o ingresso de profissionais formados no exterior é feito por meio do exame Revalida, que, mesmo sendo bem básico, possui alto índice de reprovação. O governo, por inúmeras vezes, tentou flexibilizar as regras para a entrada de graduados fora do Brasil, mas, devido às pressões de entidades médicas, recuou.
 
Fato é que, conforme constatado por estudo do CFM (Conselho Federal de Medicina), o problema é a má distribuição dos médicos no Brasil. Temos a quantidade necessária de profissionais, porém, há uma maior concentração nos grandes centros e carência nas periferias e regiões afastadas do país. Se compararmos o Brasil ao Reino Unido, por exemplo, percebemos que, de fato possuímos menos médicos por habitante. Porém o que precisamos não é quantidade, é qualidade. E nesses países mais desenvolvidos, a medicina é de nível mais elevado e os pacientes se sentem mais e melhor assistidos.
 
A precária infraestrutura oferecida pelos hospitais locais e más condições de trabalho são os principais entraves que favorecem a manutenção dessa situação. Ao invés de agir em prol de melhorias na estrutura do SUS, caminhamos no sentido contrário.
 
Uma eventual importação de médicos em nada será efetiva no que concerne à qualidade da saúde pública brasileira. Trazer médicos de fora é a mesma coisa que tratar o indivíduo com dor de cabeça cortando o seu pescoço, em vez de tentar curar a doença que está causando esse desconforto.

*Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
 
Fonte Saudeweb

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