Como a maioria das pessoas, eu tenho minha porção de tensão e ansiedade e fico feliz ao encontrar maneiras de enfrentá-las que não envolvam drogas ilegais.
Por isso, quando o termo "consciência plena" começou a surgir em todo lugar, fiquei intrigada.
Exames de imagens mostram que a consciência plena pode mudar o modo como nosso cérebro funciona. Ela nos ajuda a melhorar a tensão, a reduzir os hormônios do estresse e até na nossa recuperação quando lidamos com informações negativas.
Mas, como sou cética, perguntei-me se o assunto não estava sendo superestimado como uma panaceia simples, segura e que não envolve substâncias pesadas.
Primeiro, tive de descobrir o que é exatamente a "consciência plena". Eu tinha a impressão de que ela andava de mãos dadas com a meditação, mas descobri que ela é mais do que isso.
Prestar atenção no presente intencionalmente e sem julgamento é a maneira como Janice Marturano explica o fenômeno. Ela foi vice-advogada-geral e vice-presidente de responsabilidade pública da General Mills e ajudou a iniciar seu Fórum de Liderança Consciente em 2004. Saiu da empresa alguns anos atrás para iniciar o Instituto para a Liderança Consciente, sem fins lucrativos.
O que a consciência plena não tem a ver, disse Marturano, é com apenas reduzir o estresse. Ou com esvaziar nossas mentes de todos os pensamentos. Ou com religião. "As pessoas têm a sensação de que a consciência plena é algo que elas podem fazer se concentrando em uma uva passa durante cinco minutos", disse Michael Baime, diretor do Programa Penn para Consciência Plena no Sistema de Saúde da Universidade da Pensilvânia. "Isso é prática consciente, mas exige mais que isso."
Então aqui está o que eu aprendi sobre as técnicas básicas. Primeiro, encontre um lugar tranquilo para concentrar sua atenção -em sua respiração ou talvez em um objeto. Não é a respiração profunda, mas sim experimentar "quando o ar entra e quando sai", disse Marturano.
"Sinta a caixa torácica se estender sem que você faça nada. Consegue perceber como a mente pega uma carona e a reorienta? Essa reorientação é o exercício."
Talvez você comece com dez minutos e aumente seu tempo até meia hora ou 40 minutos por dia. Mas isso é apenas parte da prática total. Também há algo que Marturano chama de "pausas propositais".
Por exemplo, decidir que, em vez de pensar na próxima reunião enquanto escova os dentes, você se concentrará no sabor da pasta de dentes, na escova e na água. Eventualmente, expanda esse "estar no momento" para outras partes da sua vida.
A ideia é que, com o tempo, você se sinta mais concentrado e mais conectado consigo mesmo e com os outros. Parece simples, mas não é, porque vai muito contra o modo como a maioria das pessoas pensa e age. Nós queremos fazer coisas, identificar e resolver problemas. Esse é o oposto da consciência plena.
"Do modo como é apresentado na mídia, as pessoas começam a achar que é uma pílula mágica", disse Christy Matta, autora do livro "The Stress Response" [A reação do estresse].
Segundo Matta, "leva tempo e prática constante para experimentar os benefícios da consciência plena".
Ela disse que se você entra na prática com a ideia de reduzir o estresse, está trabalhando contra o que tenta alcançar, porque está dirigido para um objetivo.
Enquanto ter consciência de seus sentimentos pode ser bom quando você bebe uma deliciosa xícara de chá ou relaxa em um jardim, disse Matta, parte da consciência plena também são sentimentos desconfortáveis -não tentar modificá-los ou julgá-los, mas ter consciência deles. Isso pode não ser tão agradável.
Ela e outras pessoas descobriram que praticar a consciência plena pode aumentar a atenção e o enfoque e ajudar crianças a reagir ao estresse de maneira mais calma. "Mas isso também precisa fazer parte do aprendizado de técnicas emocionais e sociais concretas", disse.
Embora possa ajudar contra a ansiedade e a depressão, você talvez precise ampliá-la com outras terapias ou medicação, disse Matta. Todo mundo com quem eu falei disse que você precisa fazer um curso e talvez um retiro para experimentar plenamente e obter o valor da consciência plena.
Eu percebi que as pessoas com quem falei tendiam a dar cursos, por isso talvez elas sejam um pouco tendenciosas.
Agora que eu sei mais sobre o potencial e os limites da consciência plena, posso vê-la como uma opção. Posso entender por que outras pessoas são atraídas para ela, já que vivemos em um mundo tão fraturado e sobrecarregado de informação.
Nós olhamos tão à frente em busca da próxima coisa que virá que não vemos o que está acontecendo no presente.
A consciência plena pode não ser a resposta para todos os males. Mas pode responder a alguns. Para mim, isso já basta.
Alina Tugend
Fonte The New York Times
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