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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Robôs quebram as barreiras do autismo: amigos de lata reduzem a ansiedade

Robôs quebram as barreiras do autismo: amigos de lata reduzem a ansiedade Divulgação/
Se as crianças estão mais interessadas no robô do que na
terapia humana, então o robô pode ser capaz de usar essa
 relação para atividades benéficas
Experimentos mostram crianças autistas interagindo melhor com máquinas do que com terapeutas
 
Robôs são fascinantes. Ao andar, realizar tarefas e até mesmo falar, essas máquinas convidam qualquer um a parar e observar a tecnologia em movimento. Esse interesse natural pelos humanoides eletrônicos é explorado na ficção científica, em brinquedos e em eletrodomésticos, mas ainda há outras fronteiras que podem ser atravessadas pelos homens de lata. Trata-se do relacionamento com pessoas que têm dificuldade de interagir com outros humanos, mas que podem se abrir para um amigo mecânico: novas pesquisas reforçam a tese de que os robôs são mais atraentes para as crianças autistas do que os adultos. Além de divertida, a ferramenta robótica pode facilitar o trabalho de terapeutas e acelerar os efeitos do complicado tratamento do transtorno do espectro autista (TEA).

Sabendo do interesse dos pequenos pelas figuras robóticas, os pesquisadores do Instituto de Pesquisa e Tratamento para Distúrbios do Espectro Autista (Triad, na sigla em inglês) decidiram colocar o talento das máquinas à prova. Um grupo de 12 crianças de três a cinco anos foi submetido a uma série de exercícios de atenção em uma sala com televisores que exibiam desenhos animados. Metade delas era diagnosticada com TEA, enquanto os outros participantes apresentavam um desenvolvimento comum. A técnica foi chamada de arquitetura adaptável mediada por robôs.

Em uma parte do teste, as crianças obedeciam aos comandos de adultos, que apontavam animadamente para os vídeos e chamavam os pequenos voluntários a olhar e fazer o mesmo. Nessa fase, os pacientes com autismo tinham dificuldade de interagir com os instrutores e não seguiam às instruções tão bem quanto os coleguinhas. Os resultados foram medidos por uma série de câmeras espalhadas pela sala, que detectavam a direção do olhar das crianças de acordo com o posicionamento de um conjunto de lâmpadas infravermelhas presas ao boné que elas usavam. Mas tudo mudou quando os terapeutas saíram de cena e os robôs passaram a dar as ordens. Bastava o pequeno humanoide chamar o nome da criança para que ela olhasse interessada para a máquina.

Reação percebida, por exemplo, em Aiden, uma criança de 3 anos que participou do estudo. O novo professor conseguiu atrair a atenção tanto das crianças com aprendizado regular quanto das diagnosticadas com o distúrbio. Mas a diferença de comportamento entre os pacientes com o autismo foi tão grande que eles praticamente se nivelaram com o outro grupo em termos de atenção.

— Demonstramos que, se as crianças estão mais interessadas no robô do que na terapia humana, então o robô pode ser capaz de usar essa relação para atividades benéficas — conclui Nilanjan Sarkar, professor de engenharia mecânica da Universidade de Vanderbilt, nos EUA, e um dos autores do experimento.

Adaptações
O novo colega das crianças que participaram do estudo é o robozinho NAO, um modelo de 58cm desenvolvido na França. Com mãos com três dedos e pernas articuladas, a máquina mais lembra um simpático personagem de desenho animado. Mas o design gracioso esconde uma avançada tecnologia. São duas câmeras, quatro microfones, sonar e uma rede de sensores táteis e de pressão. Ele também tem luzes de LED e um sintetizador de voz, que transmite gravações em uma voz eletrônica por meio dos sensores localizados na lateral da cabeça. O robô foi adaptado para o estudo, 'aprendendo' os movimentos necessários e ganhando voz por meio de gravações. O mesmo modelo de máquina é usado em mais de 40 instituições para estudos sobre a interação entre homem e máquina, muitos deles focados no espectro autista e em crianças.

— Dá para ver que a criança dá atenção para o robô, e isso possibilita que se trabalhe com o aprendizado de conceitos ligados à escola e à vida. Isso vale para qualquer criança — aponta Roseli Aparecida Francelin Romero, coordenadora do Laboratório de Aprendizado de Robôs do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da Universidade de São Paulo (USP).

O NAO, ressalta a especialista, conta com diversas ferramentas e um software flexível, que pode ser adaptado a diversas tarefas, além de aceitar comandos de voz em inglês e em francês, músicas e diversos comandos básicos pré-instalados.

— O segredo é que ele é fácil de programar — analisa Roseli.

A máquina também tem um alto grau de liberdade de movimento e consegue fazer atividades como andar, agachar, ficar apoiada em um só pé e até mesmo jogar futebol. Com o sucesso da iniciativa, o grupo da Universidade de Vanderbilt deu início a novos projetos com exercícios que trabalham outras dificuldades enfrentadas por crianças autistas, como aprender a imitar, brincar de faz de conta e dividir. As atividades podem parecer brincadeiras, mas, para os pequenos com o transtorno, esses são graves problemas que podem causar sérias limitações na vida infantil e na adulta.

— A primeira preocupação dos pais com crianças autistas é o atraso de linguagem. A partir disso, elas mostram falta de interesse e não mantêm contato visual nem respondem quando chamadas pelo nome. Outro problema são os movimentos repetitivos, chamados movimentos estereotipados — descreve Carlos Gadia, pediatra e diretor da ONG Autismo & Realidade.
 
Fonte Correio Braziliense

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