O mundo está engordando. Mais da metade dos norte-americanos adultos pesa mais do que deveria. Na China, pela primeira vez há mais gente acima do peso do que abaixo; a França viu seu índice de obesidade passar de 8,5% em 1997 para 14,5%; no México, essa taxa triplicou nas últimas três décadas.
Para o jornalista norte-americano Michael Moss, ganhador do incensado Prêmio Pulitzer em 2010, a resposta para o fenômeno pode ser resumida em três palavras: sal, açúcar e gordura.
Esses ingredientes, segundo ele, são a fundação da indústria de processamento de alimentos, que a cada dia coloca nos supermercados toneladas de comidas deliciosas --e engordativas.
Aquelas três palavras foram usadas por Moss no título de seu livro, em que relata suas investigações sobre o processo produtivo e as práticas comerciais da indústria alimentícia: "Salt Sugar Fat", lançado há pouco nos EUA.
Seu subtítulo, "Como os gigantes da comida nos fisgaram", não deixa dúvida de que esse não é um catálogo de receitas.
Também não é um texto didático de orientação alimentar, mas duvido que mesmo gordinhos praticantes não procurarão repensar sua dieta depois da leitura.
E é bem possível que a eventual conversão do leitor à alimentação saudável não se dê apenas pelas evidências científicas do mal provocado pela "junk food" mas também por revolta contra as práticas da indústria de alimentos processados.
Maquinações
Não que o livro seja um libelo inflamado; ao contrário, é pura reportagem investigativa, fruto de quatro anos de trabalho. Em suas páginas, todos têm voz: indústria, varejo, cientistas, ativistas em prol da saúde pública e representantes governamentais.
A história que emerge, porém, revela maquinações para seduzir o público que, não raro, vão além dos limites legais --ou morais ou éticos.
Algumas das maiores empresas do setor, aliás, chegaram à conclusão de que estavam exagerando e que poderiam ser consideradas responsáveis pela epidemia de obesidade no mundo.
Em 1999, o tema foi colocado em discussão em uma reunião secreta dos gigantes da indústria. Para alguns deles, era preciso pelo menos mostrar interesse em reduzir o potencial engordativo da comida processada, ligada a alguns tipos de câncer.
A tentativa fracassou sem nunca ter decolado. No fim da apresentação, Stephen Sanger, então presidente da General Mills, disse que os consumidores compravam o que queriam e queriam o que fosse saboroso. "Não venham me falar de nutrição", disse.
De fato, a indústria não só oferece o que o consumidor quer mas faz com que ele queira mais. Essa magia, diz Moss no livro, é obtida pela manipulação das quantidades de açúcar, gordura e sal em cada alimento para ativar os nossos centros de prazer.
Mesmo com toda sua sedução e poder, a indústria foi obrigada a se adaptar às exigências de entidades de defesa do consumidor e a agentes regulamentadores.
Esses últimos, porém, se mostraram ao longo dos anos presas fáceis do lobby corporativo, demorando para agir e formulando regras aquém do recomendado por médicos e ativistas.
Consumidor
Perdido no meio desse imbróglio, resta ao consumidor, segundo Moss, procurar se informar mais e melhor sobre a comida exposta nas gôndolas de supermercados. "Nós temos o poder de fazer escolhas. Nós decidimos o que comprar. Nós decidimos o quanto comer", afirma ele.
Uma proclamação que parece um tanto frágil frente a todos os ardis da indústria revelados ao longo do livro.
SALT SUGAR FAT
AUTOR Michael Moss
EDITORA Random House
PREÇO US$ 15,40 (R$ 30,62) na Amazon.com (480 páginas)
Fonte Folhaonline
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