Todas as pessoas carregam alterações no seu conteúdo genético, mas isso não traz repercussão à saúde |
Um dos testes (da americana Recombine) acaba de chegar ao país. Com um pouco de saliva e R$ 4.000, o casal recebe um kit e pode testar genes mutantes para 179 doenças autossômicas recessivas (fibrose cística e anemia falciforme, por exemplo).
Caso o teste detecte uma doença que possa ser transmitida ao bebê, o casal é orientado a fazer uma fertilização in vitro e um teste genético nos embriões (com custo incluído no pacote) para descartar os doentes.
"Estamos tentando fazer com que as pessoas tenham crianças geneticamente saudáveis", diz Santiago Munné, presidente da Recombine e que esteve no Brasil apresentando o teste a médicos.
Outro exame disponível no país (Counsyl) custa R$ 4.900 e é feito com amostra de sangue. São mapeadas 109 doenças recessivas. O preço inclui uma consulta de aconselhamento genético.
Baixa cobertura
Para geneticistas ouvidos pela Folha, a relação entre custo e efetividade não compensa para casais sem riscos aparentes porque os testes são caros e detectam um número pequeno de doenças.
"Você pode gerar falsas expectativas nos casais de que eles não vão gerar um bebê doente, e isso não é verdade. O risco continuará existindo", diz Salmo Raskin, professor da PUC do Paraná e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Genética Clínica.
Todas as pessoas carregam alterações no seu conteúdo genético, mas isso não traz repercussão à saúde.
O risco surge quando um casal que carrega os mesmos genes alterados resolve ter um bebê. A criança terá 25% chances de herdar uma doença autossômica recessiva.
Acontece que o risco de ter essas doenças é baixo (não afetam nem 3% da população em geral), e os atuais testes cobrem menos de 5% delas.
"Para casais normais, os riscos são baixos demais e os custos são altos demais para que o teste possa ser indicado de forma seriada", afirma o geneticista Sergio Penna, professor titular da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que oferece na sua clínica o teste Counsyl.
O urologista do HC Rodrigo Pagani, que representa a empresa Recombine no Brasil, diz que são testadas as doenças mais frequentes na população e aquelas indicadas pelas sociedades de ginecologia, reprodução e genética.
"A perspectiva é de encontrarmos de 2% a 3% dos casais concordantes para a mesma doença. Isso mais do que justifica o exame."
Segundo ele, os pacientes serão informados de que não são testadas todas as doenças genéticas. "Eles assinam um termo de consentimento informado que explica isso."
Para Penna e Raskin, o teste genético pré-natal só se justifica para casais consanguíneos ou que pertençam a grupos étnicos com riscos de doenças genéticas (com ancestralidades judaica, africana e asiática, por exemplo).
Felipe Nadaes/Folhapress | ||
Fonte Folhaonline
Nenhum comentário:
Postar um comentário