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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sobre iodo, tireoide, poluição e lobby

Por Cláudia Collucci
 
Enquanto a redução dos teores de iodo no sal aprovada pela Anvisa divide a opinião de pesquisadores, uma outra questão, tão polêmica quanto, permanece intocada: a tireoidite provocada por poluentes industriais.
 
Ano passado, um dos periódicos mais conceituados sobre imunologia, o "Journal of Clinical Immunology", publicou uma pesquisa brasileira sobre o aumento de casos de tireoidite crônica autoimune na divisa entre Santo André, Mauá e São Paulo, onde estão instaladas indústrias do setor petroquímico.
 
O resultado sugere a descoberta do novo tipo de doença, a tireoidite química autoimune, ligada a fatores ambientais, principalmente à poluição por agentes químicos.
 
A hipótese é que a poluição seja o gatilho para desencadear a formação de anticorpos antitireoideanos, que são substâncias que agridem a glândula tireoide ocasionando a tireoidite crônica autoimune.
 
O estudo, da professora de endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), em Santo André (SP), Maria Angela Zaccarelli Marino, analisou 6.306 pacientes, com idade entre 5 e 78 anos, durante 15 anos que moram na capital paulista e em quatro cidades do Grande ABC.
 
Entre 1989 e 2004, os moradores estudados foram acompanhados em consultas médicas e exames laboratoriais de sangue com dosagens dos hormônios tireoidianos.
 
De acordo com a pesquisadora, os pacientes foram divididos em dois grupos segundo o local de moradia. Na região próxima ao parque industrial petroquímico estavam 3.356 pacientes do grupo 1. O grupo 2 foi composto por 2.950 de uma região afastada de área industrial.
 
Os resultados mostraram que, em 1992, somente 2,5% da população do grupo 1 sofriam de tireoidite crônica autoimune. Em 2001, o mesmo grupo já apresentava taxa de 57,6%.
 
Já a população que vivia longe da área químico-industrial não teve aumento significativo no período. Na comparação geral dos 15 anos, o grupo 1 apresentou 905 pacientes com a doença, contra somente 173 do grupo 2.
 
A região que concentra as indústrias petroquímicas tinha cinco vezes mais casos de tireoidite crônica autoimune na comparação com a área residencial estudada.
 
A pesquisadora alerta que a tireoidite crônica autoimune está relacionada com outras doenças autoimunes, como a esclerose múltipla, artrite reumatoide, diabetes tipo 1, hepatite crônica autoimune, vitiligo e lúpus eritematoso sistêmico.
 
Nessa polêmica do iodo, cujo teor de sal já foi mudado três vezes nos últimos 15 anos, pelo menos em uma oportunidade houve um claro lobby da indústria salineira. Foi em 1998, quando uma resolução da Anvisa aumentou a proporção de iodo no sal de 40-60 microgramas por quilo para 40-100.
 
Na época, o setor reclamava que o limite mínimo de 40 e o máximo de 60 de sal eram muito próximos, o que levava a erros de dosagens e, consequentemente, a multas. A alteração foi feita sem o aval de assessores técnicos.
 
Espero que, no caso dos poluentes químicos, essa falta de repercussão do estudo da professora Maria Ângela seja só desatenção das autoridades em saúde pública. Mas não custa nada lembrar o tamanho e o poder do setor que está na outra ponta.
 
Fonte Folhaonline

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