Os pais de Miguel Barros, hoje com 9 meses de idade, já haviam percebido uma certa assimetria na cabeça do filho mas só descobriram que isso poderia ser um problema quando o menino estava com 5 meses. Assistindo a um programa de televisão, a psicóloga Lívia da Silva e o marido, o técnico de manutenção Leonardo Barros, ficaram sabendo da plagiocefalia posicional, doença que deixa a cabeça do bebê torta e desproporcional. Além do prejuízo estético, pode haver consequências mais sérias, como dificuldade de aprendizado e, em casos mais graves, problemas de alinhamento dentário e duplicidade visual.
A partir do programa exibido na televisão, Lívia e Leonardo resolveram pesquisar as formas de tratamento para o problema. Pela Internet, encontraram a Cranial Care, em São Paulo, que oferecia o serviço. A clínica é a primeira da América Latina a trabalhar com esse diagnóstico e a oferecer o tratamento desde o início deste ano. Até então, o tratamento só podia ser feito no exterior ou por meio de cirurgia.
Apesar de viverem no Rio de Janeiro, a distância não foi obstáculo para que Lívia e Leonardo levassem adiante o tratamento de Miguel. Já na primeira consulta foi confirmado o diagnóstico de plagiocefalia posicional. O tratamento começou com o uso de uma órtese, peça similar a um capacete, que se ajusta à cabeça do bebê mantendo-a na posição correta.
Miguel utilizava a órtese 23 horas por dia, tirando apenas para tomar banho e para a higiene do capacete. De 15 em 15 dias, os pais levavam a criança à clínica para o acompanhamento. Nessas consultas, eram feitos ajustes na peça para que o tratamento seguisse de forma adequada. A rotina de viagens durou quatro meses e, para o alívio dos pais, o tratamento foi concluído na semana passada.
Apesar das dificuldades e do custo, Lívia acredita que valeu a pena. O tratamento custou aproximadamente R$ 10 mil, além das despesas com viagem e hospedagem. A assimetria foi completamente corrigida.
– É um valor muito alto mas o resultado foi excelente. Se você olhar hoje, não fala que o Miguel teve que usar o capacete.
Assim como Miguel, cerca de 12% das crianças nascem com algum tipo de assimetria na cabeça. Desse total, 3% merecem algum tipo de intervenção, e o restante regride naturalmente. Além disso, 54% das crianças gêmeas também nascem com assimetrias. Segundo o neurocirurgião e um dos fundadores da clínica Cranial Care, Gerd Schreen, a plagiocefalia posicional pode ocorrer por causa do posicionamento intrauterino, em função de um parto mais complicado e ou na gestação de gêmeos. Após o nascimento, a assimetria também pode se desenvolver pelo posicionamento viciado em uma região da cabeça do bebê, seja na hora de dormir ou pelo torcicolo congênito.
Órtese
O neurocirurgião Gerd Schreen explica, que ao chegar à clínica, a criança é submetida a uma avaliação que oferece todas as medidas do crânio e revela as assimetrias de maneira exata. Isso é feito por meio de um equipamento que escaneia o crânio do bebê de maneira indolor. Em seguida, as medidas são encaminhadas à Orthomerica, parceira da Cranial Care nos Estados Unidos, que vai criar uma órtese sob medida para a criança. O processo completo, entre envio das medidas e chegada do capacete ao Brasil, leva aproximadamente 15 dias. A partir de então o tratamento é iniciado.
O neurocirurgião explica também que o capacete não gera nenhum desconforto ao bebê, já que é todo acolchoado e é ajustado a cada duas semanas para se adequar à cabeça da criança.
– É bastante comum as pessoas acharem que dói, mas a órtese não traz incômodo à criança. Aliás, elas se adaptam muito bem.
No caso de Miguel, Lívia conta que ele se acostumou muito rapidamente à órtese e sentiu falta quando o tratamento terminou.
– O Miguel estranhou quando tiramos o capacete e a gente também, porque agora ele sai correndo e bate a cabeça em tudo. Então até a gente está sentindo falta do capacete.
Segundo o médico, a duração do tratamento com a órtese para a correção da plagiocefalia posicional varia entre três e cinco meses, de acordo com a idade e o grau de deformidade apresentado pelo paciente. No entanto, é fundamental que a assimetria seja identificada antes de a criança completar um ano e meio, como foi no caso de Miguel. Caso contrário, a órtese não pode mais corrigir a assimetria e, em alguns casos, é necessária a intervenção cirúrgica, que segundo o médico oferece grande risco.
Cranial Care
A clínica foi fundada em fevereiro deste ano e é a primeira da América Latina a oferecer o tratamento com a órtese para casos de plagiocefalia posicional. A iniciativa foi do neurocirurgião Gerd Schreen, que também teve uma filha com a doença.
– O nome da doença era praticamente desconhecido para mim também. Quando veio o diagnóstico, junto com o alívio ao saber que não era nada mais sério, veio também a preocupação de o que fazer com aquilo.
Pela Internet, o médico descobriu o tratamento com a órtese, que até então só era realizado nos Estados Unidos e em alguns países europeus.
– Então, fomos ao Estados Unidos para tratá-la. Mudei com a família para lá. Ficava indo e vindo porque tinha que trabalhar.
A partir daí, Schreen decidiu trazer o tratamento para o Brasil e fundou a clínica junto com o advogado Eduardo Aguirre, outro que enfrentou o problema. A clínica já atendeu aproximadamente 70 pacientes.
Fonte R7
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