Sistemas agilizam processos e rotinas reduzindo custos nos hospitais, mas após atingir sua eficiência máxima, para onde irá a tecnologia?
Reduzir os custos operacionais e automatizar processos clínicos e administrativos dentro das unidades de saúde. Estas têm sido algumas das inúmeras funções exercidas pelos Enterprise Resource Planning (ERPs) nas últimas duas décadas em que são utilizados no Brasil.
Nos últimos 20 anos, os sistemas de informações gerenciais passaram por uma forte consolidação no segmento de saúde aumentando a eficiência da gestão da qualidade e gestão estratégica, sistemas financeiros e hospitalares. Avanços como a implantação da TISS e da TUSS é considerado um dos principais passos para uma das tendências apontadas para o setor de saúde nos próximos cinco anos: a interoperabilidade entre sistemas.
Para que uma instituição de saúde possa adotar um sistema de informação gerencial é necessário criar um ambiente político favorável ao projeto, convencendo a alta direção de que se trata de uma iniciativa de interesse da instituição e não da área de TI. Para viabilizar a incorporação desse tipo de tecnologia, deve-se envolver os formadores de opinião da organização, por meio da criação de um comitê gestor do projeto, que deverá decidir em conjunto qual a ferramenta mais indicada”, aponta o gerente executivo de TI do Hospital Samaritano, Klaiton Simão. Segundo ele, para esta decisão, o comitê deve apoiar-se em uma grade de diretrizes, chamada Request For Information (RFI), que deve conter todos os requisitos desejáveis ou essenciais a um sistema de gestão. Esta grade de requisitos deverá ser o norte para que o comitê avalie cada uma das soluções disponíveis no mercado, sendo que a própria metodologia apontará o software vencedor, evitando assim resistências futuras.
Um levantamento feito pela consultoria Frost & Sullivan na área de saúde mostra que, somente em 2009, o mercado de HIS (Hospital Information System), no Brasil, movimentou US$74,6 milhões com perspectivas de crescimento de 15,3% ao ano até 2014, quando atingirá a casa dos US$150,3 milhões. O estudo também aponta que, em 2010, 17% dos hospitais brasileiros já utilizavam este tipo de ferramenta. “Enquanto em países europeus a cobertura dos hospitais com sistemas de informação integrada chegam a passar de 60%, na América Latina, este número é bastante inferior, muito em função do baixo poder de investimento da maioria das instituições de saúde”, explica a gerente de pesquisa de saúde da Frost & Sullivan, Marina Dividino.
“Observamos que as ferramentas pouco evoluíram nos últimos cinco anos, possivelmente em virtude da pouca adesão das instituições hospitalares a este tipo de projeto”, observa Simão. Segundo o executivo, enquanto o cenário do mercado for de cerca de 75% das instituições hospitalares ainda sem o apoio de uma ferramenta integrada de gestão, naturalmente as empresas que produzem estes softwares não receberão uma grande pressão por melhorias.
Para Marina, as maiores evoluções do setor nos últimos anos se relacionam à gestão da informação clínica e administrativa, dentro dos hospitais. “Uma vez que os hospitais estão se tornando unidades de negócios, os sistemas de gerenciamento integrado das informações administrativas e clínicas, como ERPs, HIS e RIS/PACS, tornam-se ferramentas fundamentais para as instituições de saúde”. Outro avanço levantado por ela foi o processo de digitalização de diversos exames de imagem, que impulsionou a adoção de aplicações de TI em maior escala.
Simão explica que, dentro de um sistema ideal, o próximo passo dos ERPs, seria transformar os dados – já organizados e confiáveis – que o sistema de gestão gera para a organização, em informação útil e precisa, para apoiar a tomada de decisões estratégicas.
Para o gerente administrativo do Hospital Mater Dei, de Belo Horizonte (MG), José Henrique Dias Salvador, os hospitais têm visto a TI cada vez mais estratégica no auxilio à gestão das unidades. “Os hospitais perceberam isso um pouco mais tarde, e, agora, cada vez mais, eles vêm se atentando a isso. As ferramentas de gestão estão caminhando para o controle dos processos e auxiliando os gestores na tomada de decisões, tornando a TI mais estratégica e menos operacional”, afirma.
Para a gerente de tecnologia da informação do hospital Mater Dei, Rafaela França, a tendência, no Brasil, será baseada na melhoria dos indicadores estratégicos para oferecer a informação em tempo mais hábil, com dados consolidados e maior valor ao gestor hospitalar. “Ainda não temos um sistema que consiga agregar essas informações e criar, a partir delas, conhecimento para entregar as pessoas”.
Tornar os processos clínicos e administrativos de um hospital mais ágeis por meio de ferramentas eletrônicas leva o futuro dos ERPs para outra realidade, talvez um pouco mais próxima do conceito de saúde sem papel que da interoperabilidade dos sistemas. Segundo o diretor geral da MV, Luciano Regus, este primeiro segmento deve ter um consumo acelerado no mercado de TI, que terá uma grande influência na automação de toda a cadeia de saúde seguidos da certificação digital. “O trabalho sem papel, dentro do hospital, irá refletir na troca de informações entre hospital e fonte pagadora também de forma eletrônica, fazendo uma cadeia conectada sem papel, reduzindo o nível de gloza, o ciclo de pagamento, acelerando o processo de faturamento e reduzindo o número de pessoas envolvidas em atividades administrativas”.
No entanto, para poder investir em tecnologias mais modernas e avançadas, garantindo uma melhor qualidade na entrega dos serviços, é necessário baixar o custo da saúde. Para a diretora comercial da Wheb Sistemas, Solange Plebani, este é um dos papéis exercidos pela tecnologia da informação que já caminha para a interoperabilidade entre os softwares de gestão. “A tendência é que isso se torne comum, por exemplo, não importa se o Hospital Sírio-Libanês usa o Tasy, o Hospital Nossa Senhora de Lourdes, o MV, e o Hospital São Marcos usa um sistema da WPD, o que importa é que todos interajam no futuro, evitando a repetição de exames e trocando informações para um atendimento mais eficiente e inteligente”, acrescenta.
Dividindo a mesma opinião da executiva da Wheb, Simão, do Samaritano, ressalta que as unidades não vão re-implantar seus sistemas de gestão para ter um único padrão de dados. Por esse motivo, a solução está na interoperabilidade, na padronização da informação que permitirá a troca dessas informações entre as unidades de saúde. “O setor caminha para isso, mas a passos muito lentos. Na esfera pública já vemos iniciativas vindas do SUS com o Cartão Nacional de Saúde, na saúde suplementar vemos os avanços com a criação do TISS que, em algumas áreas já é uma realidade e em outras ainda é apenas um conceito, mas sem dúvida alguma é o futuro”.
De acordo com Solange, a interoperabilidade é uma grande tendência, não só entre sistemas, mas também, em equipamentos médicos, que no Brasil ainda são pouco usados. “A tendência é que todo equipamento médico que possua alguma tecnologia embarcada que possa conversar com o software de gestão, como monitores cardíacos e respiradores”.
Outro ponto levantado por Solange foi a TI voltada ao paciente. Hoje, no Brasil, essas tecnologias estão muito mais focadas no corpo clínico e instituições de saúde e poderiam chegar ao paciente por meio de portais de informação, na forma de acompanhamento de resultados de exames, atendimentos, agendamentos de consultas, histórico médico e pagamento de planos de saúde. Estes portais trabalhariam dentro de um conceito de web 2.0, elevando o relacionamento entre cliente, operadora e hospital. “Acredito que esse relacionamento vem para a área da saúde muito mais forte e baseado em conteúdo, uma vez que já são utilizadas ferramentas como o prontuário eletrônico que organiza as informações do paciente, que podem ser usadas para medicina preventiva pela própria pessoa”. Para ela, a população está se cuidando mais, praticando mais esportes e cuidando mais da alimentação.
“O pós ERP está basicamente centrado na utilização de TI como apoio à prática médica, e dentro desse conceito a convergência de tecnologia da informação com a engenharia clínica e hospitalar”, finaliza Simão.
Fonte SaudeWeb
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