Quando surgiram, em 2003, vieram como uma nova promessa: menos inchaço, menor retenção de líquido, melhora da pele e até do humor durante a temida tensão pré-menstrual (TPM). A maioria dos médicos confiou. Então, passaram a recomendar os novos anticoncepcionais, que, mesmo chegando ao custo de R$ 50 a cartela, trariam a segurança contra aquilo que as mulheres sempre temeram: riscos para a saúde pelo uso contínuo dos medicamentos. Nos últimos dias, contudo, a confiança nesses produtos da nova geração estremeceu. Estudos mostraram que os remédios oferecem mais perigo de trombose venosa e de tromboembolia pulmonar se comparados a contraceptivos mais antigos, de uma outra geração. A bomba levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a emitir esta semana um alerta aos médicos e às pacientes, referente a qualquer reação adversa grave, que deve ser notificada à agência.
O motivo, de acordo com as pesquisas, tem nome: drospirenona, um tipo de progesterona que está presente em alguns dos medicamentos, como Yasmin e Yaz, os mais vendidos recentemente no país e os mais comercializados pelo grupo farmacêutico alemão Bayer. O mal-estar, que gera dúvidas e medo nos consultórios brasileiros, veio depois que os estudos ganharam destaque na respeitada revista acadêmica British Medical Journal (BMJ) e no site da agência norte-americana para medicamentos e alimentos, a Food and Drugs Administration (FDA), nos últimos dias. O mais recente, feito com 1 milhão de mulheres dinamarquesas, descobriu que aquelas que tomavam o medicamento com a substância tinham o dobro de risco de trombose em comparação àquelas que tomam medicações mais antigas no mercado, com outro tipo de progesterona, o levonorgestrel.
Essas pílulas ganharam popularidade por provocarem menos reações adversas — como inchaço, ganho de peso, dores de cabeça e também diminuição da libido —, benefícios agregados justamente por serem produzidas com doses diferenciadas de hormônios. É justamente isso que agora, tudo indica, mostra-se como responsável pelo aumento da incidência dos coágulos. Sem alarde, a Anvisa, que não comenta o assunto, emitiu o alerta aos profissionais de saúde e também às mulheres: qualquer reação grave, mesmo que prescrita na bula, deve ser comunicada. Por enquanto, a agência não concluiu parecer definitivo e, sendo assim, é favorável ao uso dos medicamentos, desde que “usados sob supervisão médica e de acordo com as orientações contidas na bula”.
O que tem essa tal de drospirenona? Segundo explica a ginecologista Hérica Cristina Mendonça, vice-presidente do Comitê de Endocrinologia Ginecológica, Climatério e Planejamento Familiar, da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), a maioria das pílulas usa a combinação de hormônios progesterona com estrogênio e são vários os tipos de progesterona (nos remédios mais antigos, o levonorgestrel). “O estrogênio sempre foi o vilão, porque já foi comprovado que ele pode contribuir para a coagulação do sangue. Na reposição hormonal, por exemplo, durante a menopausa, a dosagem é baixa. Agora, com as novas descobertas, voltamos os olhos para a progesterona.”
Adaptação
A drospirenona, porém, não está presente somente nos dois medicamentos mais vendidos do país. Anticoncepcionais como a Elani Ciclo, do laboratório Libbs, também usam o componente. Hérica lembra que, nas pílulas Yasmin e Yaz, a dosagem de estrogênio é de 30mg e 3mg de progesterona. De acordo com a médica, há mulheres que não podem tomar estrogênio e usam anticoncepcionais com progesterona. “Só o progesterona retém líquido e a mulher tem dificuldades de se adaptar a ele, pois o ovário continua a produzir estrogênio e, até haver um equilíbrio, demora um tempo. Assim, ela pode ter menstruação sem controle de dias”, diz, lembrando que o momento é de atenção, uma vez que qualquer anticoncepcional pode causar efeitos colaterais.
Ana Lúcia Ribeiro Valadares, presidente do Comitê da Sogimig e pesquisadora da Unicamp, destaca que a pesquisa mostrou que o risco de trombose de um anticoncepcional comum é de cinco casos para cada 100 mil mulheres. “Conforme o estudado, as chances passaram para 10 casos a cada 100 mil. É muito baixo. Durante uma gravidez, as chances são bem maiores: de 60 casos para cada 100 mil grávidas”, lamenta Ana, com receio de que haja alarde e as mulheres abandonem o remédio. “Corremos o risco de termos um problema de saúde pública”, afirma.
O presidente da Sociedade Mineira de Angiologia, Bruno Naves, lamenta os estudos, por acreditar que as pílulas são uma libertação para as mulheres. Ele diz que as varizes são um dos problemas mais comuns decorrentes dos remédios. “A trombose tem três causas básicas: trauma, causado por uma cirurgia ou batida; imobilização prolongada, que pode ser provocada por uma recuperação cirúrgica; ou distúrbio de circulação sanguínea, relacionado com as pílulas”, explica. “Há pessoas que nascem com a trombofilia e a primeira manifestação pode vir aos 15 anos, quando a pílula normalmente é ingerida pela primeira vez. Isso pode ser um agente desecadeante”, explica.
Ele alerta que, se não tratada, a trombose pode levar à morte. “Esse coágulo pode subir para o pulmão e causar a embolia pulmonar. Somente nos EUA são 100 mil mortes por ano. No Brasil, não temos uma estimativa disso, mas não estamos tão longe. As sequelas são para o resto da vida. Depois de dois anos, pode abrir uma ferida na perna. Por isso, a atividade física regular é fundamental.”
Defesa
Em nota, a Bayer HealthCare Pharmaceuticals, responsável pela produção dos anticoncepcionais Yasmin e Yaz, informou que dados clínicos de um período de mais de 15 anos e os resultados de estudos de segurança realizados pós-comercialização dão suporte à conclusão da Bayer de que os contraceptivos que contêm drospirenona em sua formulação são “seguros e eficazes quando utilizados conforme indicação médica”. E que o risco é “similar” ao de qualquer outro anticoncepcional.
Fonte Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário