Estudo mostra que existe uma associação perigosa entre o baixo peso ao nascer com o sobrepeso durante a vida: mais chances de doenças cardiovasculares e diabetes
Pessoas com baixo peso ao nascer, mas que desenvolvem obesidade durante a infância ou na vida adulta, têm maior risco de apresentar doenças cardiovasculares e resistência à insulina - fator de risco para diabetes.
Uma das razões para essa associação, destacada em diversos estudos nos últimos anos e que ainda não está completamente elucidada, pode estar na alteração dos níveis de proteínas (adipocitocinas) produzidas pelo tecido adiposo e que funcionam como fatores de proteção ou, inversamente, de risco para doenças cardiovasculares.
A constatação foi feita por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) por meio de um projeto realizado com apoio da Fapesp.
A pesquisa envolveu uma avaliação de 547 crianças, de 6 a 12 anos de idade, de uma escola no município de Embu, na Grande São Paulo. Foram caracterizados o peso ao nascer, antecedentes familiares para doenças cardiovasculares, estado nutricional, pressão arterial e perfil lipídico, de glicemia, insulina e de adipocitocinas, entre outros indicadores.
Por meio de exames laboratoriais, verificou-se que cerca de 30% das crianças apresentavam alto grau de sobrepeso ou de obesidade, associados a fatores como o aumento do colesterol e da pressão arterial. As crianças com peso mais baixo ao nascer apresentaram níveis mais elevados de triglicérides, ácido úrico e do índice HOMA, que está relacionado à resistência à insulina.
A partir da comparação das crianças obesas ou com sobrepeso e com baixo peso ao nascer com as de peso normal no nascimento, os pesquisadores também observaram que as primeiras tinham níveis mais baixos de determinadas adiponectinas - uma classe de adipocitocinas que protege contra diabetes tipo 2 e doença cardiovascular.
Mas esse primeiro grupo apresentou níveis mais elevados de outras adipocitocinas, que atuam como marcadores inflamatórios e endoteliais e são indicadores de risco de doenças cardiovasculares.
“Com isso, conseguimos verificar de modo parcial a associação entre o baixo peso ao nascer com o maior risco de doença cardiovascular na vida adulta”, disse Maria Wany Louzada Strufaldi, professora da Unifesp e coordenadora do projeto, à Agência FAPESP.
Segundo ela, a pesquisa abre uma nova perspectiva para explicar pelo aspecto inflamatório a associação entre baixo peso ao nascer com sobrepeso ou obesidade e riscos de doenças cardiovasculares, cujos mecanismos ainda não estão claros.
“Ninguém sabe exatamente qual criança irá desenvolver doença cardiovascular. Sabemos dos fatores de risco, mas em que momento isso pode acontecer, ou mesmo se irá ocorrer, ainda não está claro”, disse.
Sinais de alerta
Os pesquisadores também avaliaram os níveis de resistina apresentados pelas crianças com sobrepeso ou obesidade e baixo peso ao nascer. Estudos anteriores apontaram que a resistina teria a função inversa da adiponectina. Entretanto, na nova pesquisa, a proteína não foi identificada como um fator de proteção ou de risco para doença cardiovascular e não se mostrou associada com outros marcadores inflamatórios ou com o peso ao nascimento das crianças avaliadas.
“Isso mostra como é complexo elucidar os mecanismos que estão por trás da associação entre baixo peso ao nascer, sobrepeso e obesidade e aumento de risco de doença cardiovascular. Há muitos caminhos para tentarmos desvendar quais fatores interferem ou não nessa questão”, avaliou Strufaldi.
O grupo da Unifesp pretende investigar se os mecanismos que observaram na pesquisa também se reproduzem de forma expressiva em crianças com doenças crônicas, como a asma.
Por meio disso, além de tentar encontrar uma explicação fisiopatológica para possíveis mecanismos inflamatórios associados ao peso de nascimento, também se pretende obter uma aplicação clínica.
“A partir do aumento da prevalência de doenças crônicas, como a obesidade, o diabetes e a própria asma, esses estudos são importantes para que os pediatras possam identificar sinais de alerta e realizar exames mais precocemente ou mais detalhados em certas crianças”, disse Strufaldi.
Fonte Estadão
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