Depois de várias décadas de esforços para encontrar uma vacina para câncer de pulmão — sempre sem resultados convincentes —, a boa notícia vem de Cuba, mais precisamente do Centro de Imunologia Molecular de Havana, onde um grupo de cientistas, comandados pela pesquisadora Gisela González, acaba de registrar na ilha a Cima Vax-EGF. O medicamento, resultado de mais de 15 anos de estudos, é da família das drogas biológicas. Trata-se de um anticorpo monoclonal (veja infografia) desenvolvido para ser aplicado em pacientes com a doença em estado avançado, nas fases 3 e 4.
A droga intercepta a progressão do tumor de pulmão de não pequenas células por um período de quatro a 10 meses, mas essa janela de alívio para o paciente — que melhora de qualidade de vida e não sofre efeitos colaterais — pode ser maior ou menor, dependendo da resposta ao tratamento, afirmam especialistas ouvidos pelo Correio. “Ao interromper o avanço da doença por esse período, a vacina também aumenta a sobrevida da pessoa e abre outras possibilidades de tratamento”, explica o oncologista Igor Morbeck, da Clínica Onco-Vida, em Brasília.
A confiança do médico no produto desenvolvido em Havana vem da observação e do acompanhamento do trabalho de Gisela González desde 2005, quando os especialistas cubanos envolvidos em projetos de biologia molecular tumoral (outras moléculas promissoras estão sendo investigadas) organizaram um evento para apresentar a CimaVax e um grupo de pacientes voluntários a cientistas de várias partes do mundo.
Hoje, o protocolo de testes está aberto para cerca de mil pessoas na América Latina, no Estados Unidos, na Ásia e na Europa e deve ser concluído até o fim de 2012. A expectativa da comunidade médica é que a droga seja aprovada nos EUA e na Europa logo em seguida. O Brasil também trabalha com a possibilidade de ter o medicamento já em 2012.
Anvisa
Carolina Escorel, gerente de Novos Produtos da Eurofarma, empresa que vai comercializar o remédio no país, informa que a CimaVax já foi submetida para análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que a expectativa de aprovação é para o início de 2012. “Uma vez aprovada, a vacina terá um prazo para entrar no mercado de até 90 dias, por ser um produto inovador”, explica. Em Cuba, a droga é distribuída desde fevereiro.
Carolina Escorel, gerente de Novos Produtos da Eurofarma, empresa que vai comercializar o remédio no país, informa que a CimaVax já foi submetida para análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que a expectativa de aprovação é para o início de 2012. “Uma vez aprovada, a vacina terá um prazo para entrar no mercado de até 90 dias, por ser um produto inovador”, explica. Em Cuba, a droga é distribuída desde fevereiro.
Gisela González conta que a vacina é baseada em uma proteína “que todos temos, o fator de crescimento epidérmico, que fica descontrolado quando a pessoa está com câncer e passa a acelerar a divisão celular”. Como a droga é uma reprodução do material biológico reconstruído para controlar a multiplicação das células, ela atua como “bloqueador” da ação dessa proteína.
No Brasil, uma parceria de transferência tecnológica firmada entre o Ministério da Saúde e o Centro de Imunologia Molecular de Havana, em setembro, abre boas perspectivas de investigação molecular para desenvolvimento de drogas anticâncer. “Já existe um estudo aberto no Brasil com essa vacina, entre outros projetos que vão ser discutidos em busca de novas moléculas”, afirma Carlos Moreira Gil, diretor da Unidade de Pesquisas Clínicas e Desenvolvimento de Novas Drogas do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Gil vai coordenar as atividades da Rede Nacional de Desenvolvimento e Inovação de Fármacos Anticâncer (Redefac), instituída em outubro deste ano.
Testes em Brasília
Para Igor Morbeck, que coordena estudos com a vacina na capital federal, a grande dificuldade de buscar mais voluntários é a falta de tradição no Brasil em experiência com novas drogas. “O recrutamento não é fácil porque as pessoas têm medo, sentem-se cobaias e isso é resultado da cultura diferenciada de nosso país em relação à pesquisa clínica.” O protocolo de Brasília com a CimaVax vem dando bons resultados e poderia ser ainda mais promissor se houvesse o engajamento do Sistema Único de Saúde (SUS) no processo de seleção e convencimento das pessoas com a doença em estado avançado.
Para Igor Morbeck, que coordena estudos com a vacina na capital federal, a grande dificuldade de buscar mais voluntários é a falta de tradição no Brasil em experiência com novas drogas. “O recrutamento não é fácil porque as pessoas têm medo, sentem-se cobaias e isso é resultado da cultura diferenciada de nosso país em relação à pesquisa clínica.” O protocolo de Brasília com a CimaVax vem dando bons resultados e poderia ser ainda mais promissor se houvesse o engajamento do Sistema Único de Saúde (SUS) no processo de seleção e convencimento das pessoas com a doença em estado avançado.
A sobrevida de um paciente de câncer de pulmão de não pequenas células nos estágios 3 e 4 — os mais agressivos — situa-se na faixa de um mês a três anos. Essa oscilação tão ampla ocorre pelo fato de o câncer ser uma neoplasia de natureza individual e de difícil prospecção de diagnóstico. Quando a CimaVax entra em ação, dependendo da aceitação do paciente, os índices melhoram. Os pacientes de Brasília que se submeteram ao tratamento com o anticorpo monoclonal estão dando boas respostas, segundo o médico, mas ainda é cedo para fazer uma avaliação mais completa.
"Estou satisfeito com os resultados. A gente tem de levar em conta que, em mais de 40 anos, surgiu apenas uma vacina para câncer de próstata, a sipuleucel-T, e que esta é a primeira para pulmão. E isso significa uma grande conquista
Igor Morbeck, coordenador dos estudos com a nova vacina em Brasília (Carlos Moura/CB/D.A Press)" Estou satisfeito com os resultados. A gente tem de levar em conta que, em mais de 40 anos, surgiu apenas uma vacina para câncer de próstata, a sipuleucel-T, e que esta é a primeira para pulmão. E isso significa uma grande conquista
O método usado por Morbeck no grupo de voluntários é de “estudo aberto”, no qual todas as partes envolvidas (paciente, médico e coordenador) são informadas sobre que droga e qual dose são ministradas a cada um dos participantes. Em um estudo aberto não se utiliza placebo. A vacina é aplicada em pacientes que já cumpriram os ciclos de quimioterapia, em quatro doses, uma por semana. “Estou satisfeito com os resultados. A gente tem de levar em conta que, em mais de 40 anos, surgiu apenas uma vacina para câncer de próstata, a sipuleucel-T, e que esta é a primeira para pulmão. E isso significa uma grande conquista”, destaca o especialista.
Se os cientistas cubanos não podem concorrer com outros grupos de estudiosos de países ricos — em termos de aparato tecnológico e de volume de investimentos em pesquisas para desenvolver novas drogas —, eles contam com uma ferramenta também muito poderosa, na visão de Morbeck. “O material humano é muito rico. Cuba é um país pobre, mas com capacidade científica singular.”
A unidade de pesquisa imunológica de Havana tem como principal missão identificar e produzir novos biofármacos destinados ao tratamento do câncer e de outras doenças crônicas não transmissíveis. “Tudo o que eles fazem é gratuito, é para o sistema de saúde pública”, acrescenta Igor. A ideia do Centro de Imunologia Molecular, inaugurado em 1994, é realizar estudos economicamente sustentáveis que resultem em ganhos importantes para a economia do país. Uma das moléculas promissoras que a equipe de Gisela González está investigando neste momento será usada para o câncer de esôfago.
Fonte Correio Braziliense
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