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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Tratar é 167 vezes mais caro do que educar paciente diabético

Os custos foram calculados para pessoas com a doença descontrolada que precisam de amputações

Ficar sem comer doce é o que Dilza Nascimento do Carmo, de 47 anos, menos sente falta hoje. A vida de restrições imposta pelo diabetes tipo 2, descoberto há 26 anos, sempre se mostrou complicada, mas as coisas conseguiram piorar há três meses. “A doença tira pedaço mesmo”, afirma, exibindo o curativo no pé direito.

Dilza está nas estatísticas de portadores da doença metabólica que devido às complicações precisam amputar parte dos membros inferiores, circunstância chamada de pé diabético. Dilza também está entre os numerosos pacientes que poderiam ter custado bem mais barato ao Sistema Único de Saúde (SUS), se a política educativa em prevenção fosse mais efetiva.

“O impacto econômico do diabetes é impressionante”, afirma o professor Pierre Lefébvre, presidente da Federação Internacional do Diabetes (WDF), durante sua apresentação na Conferência Latinoamericana para o Diabetes, em Salvador, na Bahia. A entidade colocou na ponta do lápis as diferenças em valores dos programas educativos, das amputações e dos tratamentos ligados ao diabetes.

O custo educacional é de 3 dólares por paciente. “Já o tratamento da complicação chega a 400 dólares. A amputação, sem incluir os valores das próteses, é de 500 dólares”, completou Anil Kapur, diretor da WDF. “Uma diferença gritante.”

A diferença de 167 vezes nos valores dispensados marcou a história de Dilza e de inúmeros pacientes do Brasil, afirma o cirurgião vascular do Centro de Diabetes da Bahia (Cedeba), Cícero Fidélis. “Ainda não sabemos os reais motivos, mas em alguns pacientes o diabetes se manifesta de forma mais severa, compromete os nervos, diminiui a sensibilidade e o processo de cicatrização. Isso pode evoluir para feridas graves, que gangrenam e exigem uma amputação”, afirma o especilista. “Como não sabemos quais pacientes terão a manifestação mais grave da doença, é necessário orientar a todos. Atitudes simples podem evitar complicações sérias”, diz.

Dilza, por exemplo, não poderia ter usado chinelo de dedo, que provocou uma ferida que nunca mais fechou. Ela também não poderia ter andado descalça. Isso lhe custou o polegar do pé direito. “O jeito é me conformar agora.”

Educação na prática
O Ministério da Saúde sabe que são as complicações do diabetes – e não a doença em si – que mais oneram os cofres públicos. “É o que pesa no orçamento”, afirma Rosa Sampaio Vila Nova de Carvalho, coordenadora nacional de Hipertensão e Diabetes do Ministério da Saúde. Adriana Forti, ex presidente da Sociedade Brasileira do Diabetes e atual coordenadora da área do Estado do Ceará, lembra que além das amputações, a hemodiálise entra na conta das sequelas da doença metabólica. “Sabemos que 30% dos pacientes que param nas máquinas devido à falência renal, é por causa do diabetes mal cuidado”, acrescenta.

“Todo o nosso investimento agora é para transformar conhecimento e os métodos educativos em atitudes práticas. Se apenas informação fosse suficiente, você não veria um médico acima do peso ou fumante”, diz Rosa, já puxando a orelha de seus colegas.

Por receber inúmeros pacientes como Dilza, outros tantos que precisam fazer hemodiálise e um sem número que ficam internados por complicações metabólicas, o Cedeba da Bahia saiu a campo, em 2006, com o desafio de transformar informação em mudança de atitude na população. “Capacitamos os agentes de saúde para que eles levassem informação de um jeito que as pessoas entendessem. Fizemos jogos didáticos para os analfabetos, brincadeiras para as crianças, jogos mais radicais para os adolescentes e os adultos”, conta a presidente do Cedeba Reine Marie Chaves Fonseca.

A análise comparativa antes e depois do treinamento mostrou uma redução de 63% das internações por diabetes e de 41% das amputações de pés diabéticos.

IG

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