Jorge Luís Gomes Pereira, 54 anos, passou uma semana com sintomas do H1N1, mas nenhum médico receitou Tamiflu
O mal-estar começou aí por 17 de junho, com uma coriza que não passava e dor de cabeça. O empresário Jorge Luís Gomes Pereira, 54 anos, achou que era uma gripe passageira. Acordou mal no domingo, tonto.
— Ele até queria tomar remédio, mas não deixei, porque tinha tomado vinho. Após algumas horas, pedi que fosse ao médico — recorda a mulher, Tânia Maria.
Como tossia sem parar, Pereira foi ao hospital e, no pronto-atendimento, receitaram xarope e um antibiótico. Dono de uma fábrica de móveis em Roca Sales, morador de Encantado, ele continuou tossindo, mas achou que tudo ia passar, tanto que não alterou muito a rotina. Porém, nada da tosse passar. Era a gripe A, mas nem ele, nem a mulher, desconfiaram.
Tânia também desenvolveu os mesmos sintomas. O médico recomendou medicação diferente da do seu marido. Receitou uma injeção de benzetacil, que foi aplicada. Como na segunda-feira ela continuava com febre, aplicou uma nova injeção, de novalgina. A febre cedeu. Enquanto isso, Pereira continuava febril, mas em pleno trabalho.
Na quarta-feira começou uma dor no peito de Pereira. Mau sinal, pensou Tânia, ao lembrar que o marido tinha histórico de problemas cardíacos e pressão alta. Os médicos realizaram radiografias e afastaram a hipótese de infarto.
A dor no peito era mesmo causada por tosse. Diagnosticaram pneumonia generalizada e Pereira acabou internado no Hospital Beneficente Santa Terezinha, em Encantado. Ali passou a quinta-feira com pressão baixa, suor frio, sem reagir aos medicamentos. Tânia diz que suspeitou de gripe A, mas nenhum médico recomendou tomar Tamiflu, estranha ela.
Ante a apatia de Pereira, os médicos decidiram que era hora de UTI. Onde? Após uma série de telefonemas para a Central de Regulação de Leitos da Secretaria Estadual de Saúde, ficou evidente que não havia vagas nas proximidades.
A única opção que surgiu foi Rosário do Sul, a 412 quilômetros de Encantado. E para lá foi o doente, numa UTI Móvel cedida pela prefeitura de Santa Cruz do Sul. A viagem começou às 10h de sexta, 22 de junho.
Pereira desembarcou de maca no hospital Nossa Senhora Auxiliadora, em Rosário, por volta das 14h daquele dia, muito mal. A madrugada foi de tensão. Ao amanhecer, como a dificuldade de respirar continuava, Pereira foi entubado, para receber medicação e alimentos.
Durante a intubação teve a primeira parada cardíaca. Foi ressuscitado. Ao longo do sábado, seu coração parou mais três vezes. Na última, não resistiu. Morreu na tarde de sábado, 24. Dias depois um exame confirmou que era mesmo gripe A.
Desde então Tânia é um poço de dúvidas. O que fazer dos negócios? Como ajudar as filhas? E, sobretudo, por que o marido morreu tão subitamente? Ela diz que ninguém da família foi vacinado contra a gripe A, nem Pereira, até porque não estavam na idade em que a vacinação se torna gratuita.
Segundo um estudo, Vale do Taquari precisa de 55 leitos
O secretário municipal de Saúde de Encantado, Marino Deves, admite que a UTI é necessária no município, mas desconfia que, talvez, nem ela conseguisse salvar Pereira.
A região do Vale do Taquari precisa de 55 leitos de UTI, segundo um estudo. Existem hoje 31, entre Lajeado e Estrela, sempre ocupados. A Secretaria Estadual de Saúde informa que a vaga foi conseguida de forma rápida, mesmo que longe.
A solicitação para o quadro de “insuficiência de ventilação” (falta de ar) no paciente Jorge Pereira foi recebida por volta de 2h de 22 de junho. Às 3h35min foi encontrada vaga, no Hospital Auxiliadora, de Rosário do Sul. Não havia vaga em UTI com aparelhagem necessária em cidades mais próximas, superlotadas pelas doenças respiratórias de inverno.
Principais sintomas da gripe A:
- Tosse e espirros
- Fortes dores no corpo, na cabeça e na garganta
- Febre alta,acima de 38°C
- Pode haver náuseas, vômitos e diarreia
- Falta de ar
Para prevenir a contaminação, é aconselhado:
- Higienizar as mãos com frequência, principalmente após tossir ou espirrar
- Utilizar lenço descartável para higiene nasal
- Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir
- Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca
- Não partilhar alimentos, copos, toalhas e objetos de uso pessoal
- Evitar aperto de mãos, abraços e beijo social
- Reduzir contatos sociais desnecessários e evitar, dentro do possível, ambientes com aglomeração
- Ventilar os ambientes
Fonte Zero Hora
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